O Gauchão Feminino teve, em 2018, a sua primeira edição promovida pela Federação Gaúcha de Futebol (FGF). Grêmio, Inter e mais oito clubes do Interior e Região Metropolitana participaram da competição, que terminou no dia 9 de dezembro, com as gurias gremistas campeãs.
O presidente da entidade, Francisco Novelletto, fez uma avaliação e projetou como será o ano de 2019. Confira a entrevista com o dirigente na íntegra:
Qual a avaliação sobre o Gauchão Feminino, promovido pela primeira vez pela FGF?
Eu achei um fiasco. Dos 16 times, seis desistiram do campeonato por falta de comida, por falta de dinheiro para viajar. Não conseguiriam pagar as despesas, mais arbitragem. Eu não conhecia essa realidade. É o momento de o Ministério dos Esportes, Secretaria de Esportes, por exemplo, olhe para mulher. Querem a inclusão da mulher, mas não ajudam. Foi ridículo, medíocre. Eu mesmo estive em um clube no ano passado que as atletas estavam fazendo uma vaquinha para fazer a janta, salsichão e pão. Dei R$ 100 do meu bolso para comprarem uma carne. Não dá para condenar os clubes, que já tem dificuldades. Para dar verba na Lei Rouanet, para centenas de artistas, tem dinheiro.
Mas a FGF não consegue patrocinador, a fim de dar maiores condições para o futebol feminino?
Quem tem de bancar é o Ministério de Esporte e Cultura. Futebol feminino não tem verba de TV, nada. Hoje, para se ter uma ideia, está faltando para o futebol masculino, na divisão de acesso. Onde não tem TV, não existe patrocínio. Chamo a atenção para o Ministério dos Esportes, Secretaria dos Esportes. Infelizmente, a categoria não tem fins lucrativos. Não pode e não dá para a federação bancar tudo integralmente.
A FGF foi alvo de críticas na final do Gauchão.
Aconteceram críticas que não tinha palco para comemorar título. Preparamos muitos campeonatos amadores. E todos os outros são assim, com os troféus e medalhas em cima da mesa. Não era para subir.
E como resolve essa questão do futebol feminino?
Sei que se esperar pelos clubes, nunca vai deixar de ser amador. É uma vergonha, o Governo precisa olhar para o futebol feminino.
O que pensa a FGF para o Gauchão Feminino de 2019?
Eu espero que a gente chame a atenção dos órgãos correspondentes. Nós não temos verba para melhorar. A FGF gastou em torno de R$ 200 mil em arbitragem e os demais serviços que deixamos de cobrar dos times femininos. Se os órgãos não fizerem nada, o Gauchão de 2019 será nos mesmos moldes do que foi neste ano. Nós não temos recursos para resolver os problemas delas.
Não é possível fazer ao menos um projeto para averiguar a real necessidade das mulheres no futebol?
Vamos fazer um projeto para amenizar alguma coisa, isso eu prometo fazer. Não dá para resolver todos os problemas delas.
O que mudou após a FGF assumir o campeonato
Antes organizado pela Associação Gaúcha de Futebol Feminino, o Gauchão Feminino teve algumas melhorias, em função da profissionalização com a FGF. Mas também há pontos de atenção e negativos, todos apontados pelos clubes do Interior. Confira:
Pontos positivos com a FGF
- Times não fazem mais dois jogos no mesmo dia para economizar em deslocamento
- Times não precisam mais arcar com custos de arbitragem
- A federação isentou as taxas de inscrições de atletas
- Calendário foi divulgado com antecedência
Pontos de alerta
- Regras estão mais rígidas, o que pode esvaziar o Gauchão: times que dão WO são impedidos de disputar o campeonato por dois anos. Neste ano, seis deixaram o torneio no meio do caminho
- Demora no julgamento de W.O: TJD chegou a demorar 30 dias para concluir casos
- Federação deu apenas seis bolas por time para treinos e jogos no ano todo. Antes, clubes recebiam 11
Pontos negativos
- Clubes seguem reclamando do nível da arbitragem
- Não houve repasses financeiros e nem premiação para os clubes, como acontece no masculino
- São cobradas taxas para transferir atletas que estavam inscritas em outras federações
- Clubes precisam arcar com, pelo menos, cinco seguranças: antes, pessoas do próprio clube faziam a função por conta da baixa procura de torcedores
- Clubes precisam pagar RS 500 para ter ambulância nas partidas