Ainda que precisasse enfrentar uma classificatória para entrar no Brasileirão A2, em 2017, o Inter investiu alto no futebol feminino na gestão de Marcelo Medeiros. Retomou a categoria sob o comando da ex-jogadora do clube e da seleção brasileira Duda Luizelli, e passou a pensar de forma organizada para reestruturar a modalidade no clube. Ingressou na competição nacional e focou em trazer o primeiro título do Gauchão para o Beira-Rio. Assim aconteceu. Nos pênaltis, derrotou o Grêmio e levantou a taça que coroava a retomada das gurias coloradas.
O 2018 prometia ser o ano que, sob o comando da técnica Tatiele Silveira, a equipe conseguiria uma vaga à elite do futebol feminino e se consolidaria no Gauchão, já que o Grêmio amargava o rebaixamento e, no início da temporada, perdeu a técnica Patrícia Gusmão e a camisa 10, Karina, para o Inter. Mas a vaga não veio e o troféu de campeão gaúcho ficou com as gurias gremistas, também nos pênaltis.
A reformulação custou a demissão de Tatiele, a projeção de novas contratações e a expansão do número de atletas com carteira assinada. Aliás, essa é a expectativa de Shasha, meia-atacante colorada, que manteve seu vínculo e acredita que, enfim, será uma profissional do futebol. Diferentemente das histórias de meninas que não tinham o incentivo dos pais quando pediam para jogar futebol, Shaiane Madeira Pedrozo, 24 anos, sempre teve o apoio da mãe, Sandra Regina.
— Eu gostava de jogar bola. E a minha mãe montou um time com os guris para eu jogar junto — lembra a atleta do Inter, moradora de São José do Norte, cidade no sul do Estado.
A paixão pelo futebol a levou a fazer um teste no Pelotas, no qual passou. Para jogar, ela encarava o desafio de pegar a lancha (para ir até Rio Grande) e, depois, um ônibus até a cidade vizinha. Tudo custeado pela mãe, uma professora de Educação Física. Para diminuir os gastos, mudou-se para o Rio Grande. Mas abandonou o sonho com 18 anos, por achar injusto a família pagar aluguel e ainda depender da mãe para seguir com a carreira.
— Larguei. Não tínhamos casa própria. E comecei a trabalhar como auxiliar de serviços gerais em um supermercado de Rio Grande. Precisava ajudar minha família em primeiro lugar — lembra Shasha.
Com a casa em São José do Norte comprada, era a hora de retomar de onde havia parado. Voltou ao time de Rio Grande para o Gauchão, onde se destacou a passou a jogar pela seleção Gaúcha. Uma parceria transformou aquele time no Grêmio, em 2017, e ganhou vitrine. Recebeu proposta e, neste ano, vestiu a camisa do rival. Com contrato renovado e à espera de uma assinatura na carteira, Shasha, enfim, respira o futebol:
— Agora, vou conseguir me manter do futebol.