Os irmãos Marlon, 36 anos, e Kaue Araujo, 29, vivem em 2024 um dos melhores anos das suas carreiras no futsal. O mais velho vai disputar a final da Copa do Mundo no próximo domingo (6) pela seleção brasileira. O mais jovem foi finalista da Copa do Brasil e se prepara para jogar as semifinais do Campeonato Cearense e do Brasileirão pelo Fortaleza.
Os manos são gaúchos, de Nova Santa Rita, município de 29 mil habitantes na região metropolitana de Porto Alegre. Os pais, o industriário Luiz Roberto Araujo, 57 anos, o Beto, e a auxiliar de administração Carla Oliveira Araujo, 52, ainda moram na cidade e convivem com a saudade dos filhos que alçaram voos maiores devido às bem-sucedidas carreiras nas quadras.
Tradição familiar
Estar em contato com a bola é costume da família Oliveira Araujo. Desde cedo, os filhos estavam envolvidos nos jogos do Halley, time amador de Nova Santa Rita que tem Beto como um dos líderes. A mãe também gostava de jogar.
— Eram eles me assistindo jogar futsal e (futebol de) campo e eu assistindo eles. Era todo mundo envolvido com jogos. Com dizem, está no DNA — afirma Carla.
O talento para o esporte nasceu com Marlon. Ao participar dos Jogos Escolares do Rio Grande do Sul (Jergs), aos 12 anos, chamou a atenção de um olheiro do Inter e ficou um ano no clube, em Porto Alegre. Sem ser aproveitado, não deixou a chama se apagar com a frustração e ingressou no projeto de futsal do Clube dos Empregados da Petrobras (Cepe), em Canoas.
— Esse envolvimento com o Halley ajudou bastante. Jogávamos futebol de campo, futebol sete e futsal. Mas, no começo da carreira, tudo era uma incógnita — lembra Beto.
Foi no time da Ulbra em que teve a primeira oportunidade no profissional. Ainda atleta do sub-20, chegou a disputar a Liga Nacional na equipe principal. Depois, partiu para o Vasco, do Rio de Janeiro. O período mais vitorioso da carreira no Brasil foi na ACBF, de Carlos Barbosa. Na primeira passagem, em 2012, foi campeão intercontinental. A partir de 2015, quando retornou, venceu a Liga Nacional, a Taça Brasil e duas Libertadores, entre outras conquistas.
Há cinco anos, está na Espanha, onde defendeu o Movistar Inter, o Palma e, atualmente, atua no El Pozo. No currículo, ostenta a Champions League da temporada 2022/2023 pelo Palma.
Inspiração
Kaue seguiu o caminho do irmão e decidiu se aventurar nas quadras. Em 2022, rodou o Brasil por conta de um lance de fair play protagonizado no Gauchão. Ao partir para o contra-ataque, percebeu que o goleiro Vitinho, da Assoeva, estava caído — lesionado, confirmou-se depois — e, em vez de fazer o gol, colocou a bola para fora. Na época, Kaue defendia o Lagoa, de Lagoa Vermelha, e ganhou aplausos do público no ginásio e dos jogadores adversários.
Após passar pela Assoeva em 2023 e pelo Foz Catarataz no início deste ano, chegou ao Fortaleza. A equipe cearense está entre os maiores investimentos do futsal brasileiro e tem outros nomes conhecidos dos gaúchos, como Valdin, Jé, Jackson Samurai e Nardinho, além de Rômulo, experiente fixo campeão da Champions League na última temporada.
Os irmãos atuam na mesma posição, fixo, e já deixaram a mãe com o coração dividido ao assistir uma partida.
— Teve jogo em que os dois se marcavam, como quando o Marlon estava na ACBF e o Kaue no Flores da Cunha — lembra a mãe.
Inspirada em Marlon e Kaue, há uma nova geração de jogadores em formação. É o caso dos primos João Vitor Oliveira, 17 anos, e Jordana Oliveira Bueno, 11, e do amigo Murilo da Rosa, 13. Os três fazem parte do projeto de futsal do Cepe.
— Tento fazer o que eles fazem na quadra — descreve João Vitor, que também joga como fixo.
Saudade
O pai afirma que, agora, "já está calejado" pela saudade dos filhos. A mãe diz que "sofre muito" por conta da distância que a separa dos meninos.
Com Marlon, o contato é mais difícil em função da logística. Nos últimos dois anos, ele não conseguiu visitar os pais em Nova Santa Rita. O período de férias na Europa, em julho, coincidiu com convocações para a seleção brasileira.
Em fevereiro, os pais foram de carro até Luque, no Paraguai, e viram Marlon conquistar a Copa América de Futsal pelo Brasil. A viagem amenizou um pouco a falta do filho.
Mas, além de saudade, ao sair Nova Santa Rita, Marlon e Kaue deixaram muito orgulho.
— Eles abdicam de estar da família deles. A gente sabe que eles estão bem, mas estamos sempre torcendo que tudo dê certo. A gente pede só que Deus os ajude. Eles estão longe dos familiares, até dos próprios filhos. Quem está nesse ramo, sabe que nada cai de paraquedas. É um orgulho tão grande quanto toca o hino e eles estão lá, olhando para a bandeira, e lutando para defender o Brasil, a equipe, o coletivo, tanto o Marlon quanto o Kaue. Eu me emociono muito — explica a mãe.
Beto e Carla preparam uma viagem para a Espanha e pretendem passar o Natal com Marlon e a família. O casal quer conhecer o neto mais novo, Matteo, que estará prestes a completar um ano de vida.