
Uma das sensações do futsal gaúcho nos últimos anos vem da Terra dos Morangos ou do Berço dos Dinossauros — como também é conhecida a cidade em função dos fósseis encontrado por lá. A AAGF, de Agudo, na região central do Estado, retomou as atividades em 2022 — depois de 18 anos parada — e participou da terceira divisão da Liga Gaúcha.
No mesmo ano, ficou com a taça da Série C e subiu para a divisão do superior. Novamente de forma imediata, comemorou nova ascensão, desta vez para a Série A, e foi vice-campeã, ao perder a final para o Cerro Largo.
Os conquistas foram sob o comando de Sandro Colvero, treinador santa-mariense de 53 anos. Depois das temporadas de festa, o técnico tem pela frente, neste ano, o maior desafio da carreira: conduzir a AAGF na primeira divisão do campeonato estadual, previsto para se iniciar em maio deste ano.
Em entrevista à GZH, Sandro Colvero fala sobre as décadas dedicadas ao futsal, em um trajetória iniciada ainda dentro de casa, quando acompanhava os passos do pai e também treinador Leonardo Colvero. O técnico também projeta os próximos meses, que prometem ser os mais agitados da história recente do time de Agudo.
Quando começou a sua relação com o futsal?
Desde os tempos de escola, sempre foi a modalidade mais praticada por mim e por todos os meus amigos da época. O futsal é o esporte com maior número de praticantes no Brasil, desde as escolinhas até as equipes competitivas. Contudo, o futebol de salão, hoje chamado de futsal, começou a ser parte integrante, de forma efetiva, na minha vida a partir de 1984. Foi quando comecei a acompanhar o meu pai, Leonardo Colvero, que já era treinador de futebol de campo e passou a trabalhar como treinador de futebol de salão. Fui acompanhando os treinamentos, no turno da noite, e aprendendo o quanto faz a diferença colocar em prática contra os adversários o que foi ensaiado. A forma como meu pai conseguia transpor da prancheta para a quadra, sincronizando e padronizando os movimentos, me chamava a atenção. Uns anos depois, eu já queria discutir com ele sobre o trabalho. Daí veio o meu gosto para criar formas coletivas de superar adversário.
Quando você decidiu encarar o futsal como profissão?
Após trabalhar por três anos com categorias de base, em clube, e com uma escolinha particular que criei, iniciei, em 2001, como preparador físico e auxiliar técnico do meu pai em uma equipe da Faculdade Metodista de Santa Maria, que disputou a Série Prata daquele ano. No ano seguinte, resolvi aceitar o desafio de treinar uma equipe adulta, que já tinha muita tradição no estado e estava retornando às competições estaduais, que era a Uruguaianense.
O convite que, inicialmente seria para o meu pai, chegou até mim e, após conversar com a família, com minha esposa, decidi largar o emprego como professor de uma escola particular da cidade, ficar longe do filho pequeno, da família, e partir rumo à fronteira do estado. Iniciamos um trabalho quase do zero, com uma equipe inicialmente formada só por atletas locais. Ao longo da temporada, conseguimos estruturar o trabalho e trazer alguns reforços que nos permitiram formar uma equipe muito competitiva e chegarmos nas semifinais da Série Prata de 2002, surpreendendo muitos times com maior investimento. A Uruguaianense estava de volta com força no cenário do futsal gaúcho.
A partir deste momento, comecei a encarar como profissão e investir na carreira de técnico de futsal, com cada vez mais estudo, cursos. Hoje, além da Pós-Graduação em Psicopedagogia, tenho Pós-Graduação em Treinamento de Futsal. São 22 anos na função, com trabalhos em 13 clubes do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Em alguns deles, tive sequência de mais de uma temporada de trabalho, como na equipe de Santiago, na qual foram cinco temporadas e meia, com duas finais estaduais e acesso à Série Ouro. Na equipe de Três Coroas, duas temporadas, um título e um acesso à Série Ouro. Em Santa Catarina, na equipe do Mafra Futsal, foram quatro temporadas, dois títulos e um acesso à Série Ouro. Na Uruguaianense, foram três temporadas, sendo semifinalista da Série Ouro (Liga A) de 2018. Na AAGF, de Agudo, estamos na terceira temporada, com quatro títulos, seis finais e dois acessos. Ao todo, somo sete acessos às Series Ouro do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.

Nesses anos à frente da AAGF, quais foram os principais desafios que você enfrentou?
O presidente da AAGF, Sandro Bertulini, conversou comigo algumas vezes me explanando o projeto e trocamos ideias sobre esse retorno do clube. Eu sabia da seriedade e idoneidade do presidente do clube e das pessoas que faziam parte da sua diretoria, pois acompanhei a equipe nos seus primeiros anos de fundação, lá atrás. O desafio já era grande por si. Ajudar a estruturar um trabalho sério, comprometido com os objetivos e formar uma nova equipe, competitiva e que, a médio prazo, sonhasse alto e conseguisse subir para a Série B e, posteriormente, para a Série A. Resolvi sonhar junto com esta diretoria, com essa comunidade, e trabalhar muito para colocar a AAGF na elite do futsal.
Resolvi sonhar junto com esta diretoria, com essa comunidade, e trabalhar muito para colocar a AAGF na elite do futsal.
SANDRO COLVERO
Treinador da AAGF
Cheguei a prometer para o presidente que levaria a equipe até a Série A. Claro que nem eu, nem ele e nem o mais otimista torcedor poderia imaginar que isso fosse acontecer de forma tão rápida, pois em dois anos foram duas finais estaduais e dois acessos, coisa bastante rara de acontecer. Mas foi, graças a Deus, fruto de muito trabalho desta diretoria, da minha comissão técnica e dos grupos de atletas que tivemos nestas duas temporadas, além, é claro, de todo apoio da nossa torcida, da comunidade, do poder público municipal, das entidades privadas que acreditaram no projeto. Hoje, a AAGF representa toda Região Central na elite do futsal gaúcho.
Quais foram os melhores times e treinadores de futsal que você já acompanhou e nos quais você se espelha na carreira?
Acompanho o futsal há 40 anos. Já vi grandes equipes atuando. Vi, acompanhei e até fiz parte das melhores equipes que Santa Maria de nível estadual, sempre treinadas pelo professor Leonardo Colvero, sendo até vice-campeão estadual da Copa Governador do estado em 1988 com a Veículos Pozzobon, contra as melhores equipes do Rio Grande do Sul. No estado, vi desde Inter, Grêmio, Caixa Econômica, Trilhoteiro, Enxuta, Estúdio 93, Ulbra, UCS. Nos dias de hoje, temos ACBF, Atlântico, Passo Fundo, Yeesco. Em nível nacional, vi Bradesco, Banfort, Impacel, Sadia, e os atuais, como Magnus, Jaraguá, Joinville.
Quanto aos treinadores, meu pai foi um que sempre esteve à frente do seu tempo. Também fiz cursos e estádios com nomes que admiro muito, como o professor Fernando Ferretti, que infelizmente já nos deixou. Outro que também já nos deixou e que também era acima da média o Ricardo Lucena. Hoje, temos grandes treinadores que acompanho e procuro estar aprendendo com eles sempre, como o Marquinhos Xavier, da seleção brasileira, o Cassiano Klein, do Joinville, o André Bié, da ACBF, o Paulinho Sananduva, do Atlântico, assim como uma nova geração de treinadores excelentes como Peri Fuentes, do Umuarama, Bruno Silva do Tubarão, Alemão, do Praia Clube, entre outros.
Quanto aos treinadores, meu pai foi um que sempre esteve à frente do seu tempo.
SANDRO COLVERO
Treinador de futsal
Quais são seus planos para a carreira de treinador?
Meu planejamento de carreira é, em princípio, sempre estar à frente de um bom projeto, que tenha organização, seriedade, profissionalismo e ambição, seja ele da série que for, seja ele de nível estadual ou nacional. Procuro não projetar sonhos muito à frente e sim viver intensamente o próximo desafio como se fosse o último, com o maior empenho e dedicação possíveis para atingir os objetivos propostos. Estarei sempre, independente do local que estiver, em busca de evolução e crescimento constantes.
Quais são as principais diferenças da primeira para a segunda divisão da Liga Gaúcha?
As diferenças são bastante significativas, a começar pela principal delas que é a diferença de investimentos e, consequentemente, nível técnico do campeonato da Série A. Todo jogo tem um nível de exigência alto, técnica, física e mentalmente. Passando também pela fórmula da competição, que exige uma maior regularidade, na qual a primeira fase acontece em turno único e ao final dela já terão dois clubes rebaixados. E, especialmente este ano, o nível das equipes está muito próximo pois todas equipes se reforçaram e a tendência é que a disputa seja ainda mais acirrada, tanto na parte de cima quanto na parte de baixo da tabela. Considero uma das Séries A mais difíceis dos últimos anos.
O Atlântico é o principal time a ser batido nessa edição da Liga Gaúcha? Tem outros times que você vê como candidatos ao título?
Sem dúvidas, a equipe do Atlântico, por ser a atual campeã da Liga Nacional, já inicia como uma das principais favoritas ao título gaúcho, mas existem outras grandes equipes que também tem um nível de investimento alto e formaram grandes elencos para a disputa deste ano e outras equipes que mantiveram o trabalho e sua base de anos anteriores. Posso citar algumas como o Passo Fundo Futsal, a Yeesco, de Carazinho, a Uruguaianense, que é a atual vice-campeã, o Lagoa Futsal, de Lagoa Vermelha, o Guarany, de Espumoso, a AGE, de Guaporé, dentre outras que virão fortes.