Tradicional no cenário regional, o Guarany-Ba vive situação constrangedora no Gauchão Feminino. Na última semana, a equipe entrou em campo com apenas nove jogadoras e foi goleada por 14 a 0 pelo Futebol com Vida, dentro de casa, no Estrela D'Alva. Três dias depois, viajou a Caxias do Sul com apenas nove gurias e, no decorrer do jogo, ficou com apenas seis à disposição. A partida teve de ser interrompida, quando o Juventude já vencia por 16 a 0.
O cenário chama a atenção e gera discussões. Durante toda a competição, o time de Bagé não conseguiu somar pontos e terminou na lanterna. Este é o terceiro ano de departamento feminino do Guarany-Ba.
— Neste ano, o Gauchão teve um nível muito alto, e o Guarany-Ba ficou abaixo dos anos anteriores. Os adversários estão muito mais estruturados. Nós não conseguimos competir, não conseguimos desenvolver uma condição de treinamento. Isso, na maioria dos clubes do interior, é normal, só se juntarem para jogar. Tudo isso traz essas dificuldades, e o que nos desestimula foi essa campanha tão longe do que queríamos, do que tínhamos de ambição — explica o presidente do clube, Tato Moreira.
Para a disputa do Gauchão Feminino, os clubes recebem um auxílio de cerca de R$ 19 mil da FGF. O valor é destinado a despesas de viagens, alimentação e hospedagem de atletas.
— Tu fazes uma viagem para Caxias, tu pagas de ônibus R$ 7 mil. Tu pagas de hospedagem, no mínimo, R$ 3,5 mil. Três refeições, mais R$ 3 mil. Agora, tu fazes o cálculo. Quantas viagens dá? O departamento feminino tem seus patrocinadores, mas também são dentro da nossa realidade — afirma.
A realidade do Guarany-Ba, no entanto, não é muito distinta dos outros times do Interior, que mesmo assim não registram goleadas ou falta de atletas. Excetuando o Juventude, que tem gurias apenas se dedicando ao futebol, o restante também conta com jogadoras que precisam dividir atenções com trabalho e outros compromissos pessoais.
— O futebol feminino é sempre complicado. Nós não temos nenhuma jogadora paga. A nossa média de idade é de 16/18 anos, e a grande maioria delas trabalha. É a realidade. O futebol feminino é muito decantando, de que tem de se fazer, precisa investir, mas a realidade é muito diferente. Nós estamos longe do nível de Grêmio, Inter, Juventude e do próprio Flamengo de São Pedro — explica.
Planos de melhoria
Em 2024, a expectativa é pela manutenção do departamento feminino. No entanto, há o entendimento de que melhorias precisam ser feitas, para que o clube se torne competitivo nas disputas. O primeiro passo é investir na formação.
— O que temos de fazer no futuro? O que já estamos fazendo, investir em escolinha, formação de atletas. Hoje temos uma escolinha que começa com meninas de seis anos e vai até os 10 anos. Fazemos um trabalho de formação, bem didático, dando oportunidade e fazendo com que elas tenham interesse — explica o presidente.
No entendimento de Tato, há de ser feito um melhor planejamento para a disputa do Gauchão Feminino. Segundo ele, o grupo de atletas também precisa ser montado atendendo as necessidades da competição. No entanto, essa não é uma questão simples, já que não são remuneradas para dedicar-se apenas ao futebol.
Temos de contar com atletas "inteiras" para poder jogar, que não tenha esse condicionante de "essa trabalha", "essa tem filho". É muito diferente o futebol feminino.
TATO MOREIRA
presidente do Guarany-Ba
— Temos de detectar se essa atleta pode competir, se ela vai estar disponível para competir numa segunda-feira, às 15h. Se ele vai poder competir na quarta-feira, às 16h. Em todos os nossos adversários, na grande maioria, as atletas podiam. Isso foi um erro crucial nosso. Porque todas as atletas que podiam nos reforçar tinham a vida delas, estavam trabalhando. Tivemos, também, muitos problemas a nível de saúde. A situação do ciclone, em que muitas não puderam sair, principalmente neste jogo contra o Futebol com Vida. Ali começou a derrubada de não poderem ir — complementa:
— Então, é isso que temos de detectar: como vai ser a competição? Qual é o perfil da competição? Temos de contar com atletas "inteiras" para poder jogar, que não tenha esse condicionante de "essa trabalha", "essa tem filho". É muito diferente o futebol feminino. Agora, o torcedor não quer entender isso. A cobrança pública não quer entender. Foi falado muito que não demos condição de treinamento, mas o nosso sub-17 masculino também não treina. Não é o treinar que vai modificar um cenário que é bem mais competitivo. Não é treinar no estádio, não é uma ambulância, é ter a consciência de que precisa se preparar mais, precisar ter atletas mais bem preparadas, bem condicionadas, e que tenham interesse em jogar a competição. O Guarany-Ba tem de saber qual a competição e se organizar estrategicamente.
A partida contra o Futebol com Vida
O embate contra o Futebol com Vida, válido pela primeira rodada, foi realizado na última quinta-feira (14). Jogando em casa, o Guarany-Ba entrou em campo com apenas nove jogadoras: todas de linha. Apenas no segundo tempo, a goleira Stefhani conseguiu chegar ao Estrela D'Alva.
— Eu trabalho e, como não conseguimos mudar o horário do jogo, não conseguiria ir. Mas a Clarice, que é a outra goleira, também não poderia ir — contou Stefhani, em entrevista a GZH.
O departamento feminino tinha uma expectativa de que a partida fosse adiada para o turno da noite. Assim, mais meninas poderiam ficar à disposição. No entanto, de acordo com o presidente Tato Moreira, isso também não seria possível por conta das condições do estádio.
— A gente tentou, mas não temos a condição. A nossa luz foi avariada, nós não teríamos como jogar de noite também. E teríamos de disputar esse jogo porque tem datas no Gauchão. Mas a FGF não tem culpa disso. A nossa iluminação, neste momento, não oferecia disponibilidade. Só temos duas torres funcionando — explica o presidente.
Desistência do Gauchão sub-17
Entre os participantes do Gauchão Feminino sub-17, o Guarany-Ba desistiu de participar da competição na última hora. Com isso, teve todas as partidas canceladas pelo Estadual. De acordo com o presidente, o principal motivo foi o desânimo com o desempenho na categoria principal.
— A justificativa é o desânimo, né? O desânimo de toda essa situação que a gente está vivendo, do pouco comprometimento também, e não é só do clube. Mas a pouca resposta de conseguirmos jogadoras para isso. Então, se desgastou. Foi uma questão que internamente que definimos para nos preservar. E a questão do custo financeiro, também — complementa:
O Guarany-Ba não é um clube que se monta em Porto Alegre e dura dois, três meses. O clube vai fazer 117 anos e tem torcedor. O mesmo torcedor que torce para o masculino, cobra resultado no feminino.
TATO MOREIRA
presidente do Guarany-Ba
— Precisamos nos estruturar melhor agora. O Guarany-Ba é um clube de tradição, com muita importância dentro do cenário regional, e não podemos estar nos atirando em competição só para disputar. O Guarany-Ba não é um clube que se monta em Porto Alegre e dura dois, três meses. O clube vai fazer 117 anos e tem torcedor. O mesmo torcedor que torce para o masculino, cobra resultado no feminino.