Após ser comandada por 14 técnicos homens durante três décadas, a Seleção Brasileira Feminina de futebol teve a primeira treinadora mulher apenas em 2016. Emily Lima assumiu o comando em novembro daquele ano, estreando cerca de um mês depois. Sob a liderança da treinadora, as brasileiras conquistaram o Torneio de Seleções Internacionais.
A ex-jogadora, que se aposentou cedo por conta de lesões, tinha 36 anos quando foi contratada para o time principal da Seleção, mas já tinha experiência como técnica. Foi auxiliar da Portuguesa, comandou o time feminino da Juventus, passando pelo São Caetano e chegando às categorias de base da Seleção Brasileira, no sub-15 e sub-17. Ela também treinou o São José dos Campos, tradicional clube do futebol feminino.
Entretanto, o período de Emily à frente da Seleção Brasileira Feminina foi curto: menos de um ano depois de ser anunciada, a paulistana foi demitida em setembro de 2017. Foram 13 jogos, sendo sete vitórias, um empate e cinco derrotas: um aproveitamento de 56%.
Os problemas consecutivos enfrentados diante de seleções fortes, como Estados Unidos, Alemanha e Austrália, contribuíram para a demissão. Os resultados, porém, não foram tão diferentes do que aqueles obtidos com os técnicos homens que ocuparam o posto antes de Emily. Mesmo assim, ela foi a única que não teve nem um ano para desenvolver um trabalho com a equipe.
Em entrevista ao jornal El País, quando assumiu a Seleção, Emily Lima disse que atuaria para, além dos resultados, promover a valorização do futebol feminino no Brasil. Foi durante o período em que ela esteve à frente da Seleção que se iniciou o processo de renovação do elenco brasileiro — movimento continuado por Pia Sundhage, atual técnica da Seleção e segunda mulher a ocupar o posto. Graças à Emily que Gabi Nunes, um dos destaques do atual plantel, pôde atuar, já em 2017, ao lado de Marta e Cristiane.
Depois de ser demitida, Emily se posicionou sobre a dificuldade enfrentada como técnica em um ambiente machista. Ao jornal Brasil de Fato, já como técnica do Santos, em 2018, ela declarou que "pagou muito caro" por ser ela mesma na seleção. Segundo a treinadora, ela possuía entendimentos diferentes da coordenação e bateu de frente para buscar o caminho que acreditava ser o melhor para as jogadoras
— Elas viram que estávamos fazendo diferente, não só como comissão técnica, mas querendo o melhor para as atletas — disse Emily na ocasião.
A técnica também afirmou que a CBF escolheu uma mulher para comandar a seleção por conta de pressão da Fifa.
— Hoje, friamente, acho que isso foi uma grande jogada. Não digo nem que fui a primeira mulher a comandar. Mas eu fui a primeira cobaia da CBF. Estava tudo muito claro que uma mulher ia entrar e logo em seguida, ela iria sair. E eu fui a escolhida — declarou ao Brasil de Fato.
Com o Santos, Emily foi campeã paulista e vice da Libertadores, em 2018. Em abril deste ano, Emily assumiu a direção das seleções femininas do Peru. A brasileira será responsável por estabelecer um elo entre a seleção principal e as categorias de base peruanas. Ela já havia feito trabalho semelhante no Equador.
A atual técnica da Seleção, Pia Sundhage, é a primeira mulher a comandar as brasileiras em Copa do Mundo.