Ariadina Alves Borges estava longe de ser um nome conhecido antes do início da Copa do Mundo Feminina. Destaque do Palmeiras nas últimas duas temporadas, e hoje no futebol dos Estados Unidos, a meia Ary Borges, 23 anos, chegou à Austrália na condição de coadjuvante no time de Pia Sundhage. A atleta inclusive já teve já que lidar com problemas de baixa autoestima na Seleção Brasileira, que defende desde 2020. Contudo, após a atuação de gala na estreia contra o Panamá, a atleta se consolida como uma das protagonistas da equipe.
Autora de três gols e uma assistência na goleada de 4 a 0 sobre as panamenhas, Ary Borges vem lidando pela primeira vez desde segunda (24), ainda em Adelaide, até esta terça (25), na chegada em Brisbane, com a experiência de ser a atleta mais requisitada para entrevistas e fotografias.
— Não poderia imaginar nem nos meus melhores sonhos uma estreia de Copa do Mundo tão especial. Eu nao imaginava que faria três gols no jogo. Daria até risada de quem falasse isso. Foi um dia muito especial, um misto de emoções. Fiquei feliz, ansiosa, chorei, enfim, fiquei pensando o que poderia fazer na partida. Nunca imaginei que seria da forma que foi. É um momento especial estar aqui e fazer três gols no meu primeiro jogo. É uma bela história que poderei contar para os meus familiares — descreveu, em entrevista coletiva na Austrália.
O desafio de enfrentar a baixa autoestima
Convocada desde o segundo ano da Era Pia, Ary Borges já sofreu com a baixa autoestima. Em entrevista recente ao site a UOL, a atleta contou que não se sentia apta a ser titular da Seleção, quando foi escalada pela primeira vez pela treinadora sueca em um amistoso, casualmente contra a Austrália, em Sydney, em outubro de 2021.
— Eu não me sentia bem, não me sentia confortável, não conseguia jogar. Estava jogando bem no Palmeiras, mas não conseguia jogar bem na Seleção, não me sentia confiante. Não sentia nem que eu merecia estar lá. Aí eu tive uma conversa com a Pia em que ela me falou: "se prepara, porque no jogo você vai começar como titular". Minha cabeça parecia que ia explodir: 'Como eu não estou jogando bem e eu vou ser titular em um jogo contra a Austrália na casa delas?'. E aí eu pensei: 'Ou me afundo ainda mais ou mudo a minha cabeça' — explicou.
E a cabeça de Ary Borges mudou. Apesar da derrota por 3 a 1 para as australianas, aquela partida foi importante para o futuro da maranhense no futebol. No ano seguinte, a atleta foi campeã da Libertadores pelo Palmeiras e campeã da Copa América pela Seleção. As boas atuações lhe deram a condição de presença certa no grupo convocado para a Copa do Mundo 2023. Contudo, na condição de coadjuvante. Ao menos era assim até a estreia contra o Panamá.
— Estou feliz demais por ela. Fazer três gols numa estreia não é fácil, ela foi abençoada. Ainda deu uma assistência, então são quase quatro gols (risos). Fiquei honrada de entrar no lugar dela, fiquei até mais tranquila. Entrei quando o jogo estava mais tranquilo para o Brasil — comentou a craque Marta.
Já a meia-atacante Kerolin exaltou a disciplina tática de Ary Borges na estreia contra o Panamá.
— A Ary merece muito. Ela faz sempre o grupo estar alegre. E é só o início. Ela vai desfrutar muito. E temos que exaltar essa obediência tática dela, que é perfeita. Ela obedeceu as instruções da treinadora e teve resultado — disse à GZH a atleta do North Carolina Courage.
A partir do próximo jogo, contra a França, no sábado (29), em Brisbane, Ary Borges seguirá como titular e, pela primeira vez, ostentará um status de protagonista do meio-campo brasileiro. E, desta vez, com a autoestima mais fortalecida do que nunca.