"É dar a cara a tapa, mostrar que a gente quer, eu falo isso porque sou a nova geração, que quer ser campeã do mundo, que quer revolucionar o futebol feminino".
A frase acima foi dita por Ariadina Alves Borges em 2019, logo após a disputa da Copa do Mundo Feminina, na França, quando ela defendia o São Paulo. Nesta segunda-feira (24), ela se apresentou ao mundo com três gols na estreia da Seleção Brasileira Feminina na Copa da Austrália e da Nova Zelândia na vitória contra o Panamá por 4 a 0, em Adelaide.
Ary Borges, como é conhecida atualmente, é o presente e o futuro da Seleção de Pia Sundhage. Em sua estreia em Copas, aos 23 anos, se igualou a jogadoras históricas na curta história do futebol feminino brasileiro. O hat-trick botou o nome dela ao lado de Pretinha, Sissi e Cristiane.
— Realmente, nem nos melhores sonhos (projetava uma estreia tão boa). Esperei muito por este momento, é um sonho poder estar aqui e poder jogar uma Copa do Mundo. É realmente um dos melhores dias da minha vida. Lembrei de tudo que fiz para estar aqui. O dia teve um misto de sentimentos: fiquei feliz, chorei, fiquei ansiosa para começar o jogo. Lembrei da minha família e de onde eu vim. Poder estar aqui é um sonho, de verdade — disse ela na entrevista após a partida, em uma mistura de alegria e choro.
E, bom, a história de Ary Borges é mais ou menos parecida com a de diversas meninas brasileiras que não se viam representadas no futebol, mas que hoje são inspiração para diversas outras crianças que alimentam o sonho de disputarem um Mundial com a amarelinha.
Natural de São Luís, no Maranhão, ela foi criada pela avó e pela tia, pois, aos 2 anos, os pais dela foram em busca de trabalho no Sudeste para tentar uma vida melhor para a família. Mas foi o marido da tia, Gabriel, que ganhou um posto importante e o carinho da pequena Ary. Foi ele o primeiro que apresentou o futebol para a menina.
Sob o comando do tio, que era dono de um time de várzea na cidade, Ary tinha um campo, literalmente, atrás de casa, onde ela jogava sempre que chegava da escola. Ela cresceu nesse meio, viajando com o tio e o primo para os jogos da equipe. Depois de um tempo, ela começou a treinar fundamentos.
No entanto, quando perguntavam o que Ary queria ser quando crescer, ela não respondia "jogadora de futebol". Em entrevista para o site da sua patrocinadora de material esportivo, a camisa 17 do Brasil na Copa disse que não tinha esse sonho pois não assistia mulheres jogando. O futebol entrou por acaso na vida da maranhense.
Com 10 anos, ela foi encontrar seus pais em São Paulo. Em um primeiro momento, seu pai, Dino, não mostrou a mesma vontade do tio de ver Ary jogando futebol. Até que em um dia, as coisas mudaram. Quando voltava do trabalho, o pai viu ela jogando em uma quadra perto de casa. Viu que ela tinha talento e resolveu apostar.
Até que ela chegou no Centro Olímpico, de onde saíram várias atletas que atualmente jogam em alto nível e estão na seleção brasileira. Aos 13, viu que precisava mais que ser jogadora, mas uma atleta. Em 2017, assinou com o Sport, o primeiro clube profissional. A partir daí, as coisas voaram para Ary.
Dali, foi para o São Paulo, onde a Ariadina que nem sonhava em ser jogadora de futebol deu lugar de vez à Ary Borges, uma atleta profissional. Em 2020, pulou o muro na Barra Funda, no futebol masculino as duas equipes são vizinhas. Do Tricolor Paulista foi para o Palmeiras, onde deslanchou para o futebol. Campeã da Libertadores e do Paulistão, foi convocada para a Seleção Brasileira Feminina. No começo desse ano, teve sua primeira experiência internacional — atualmente defende o Racing Louisville FC, dos Estados Unidos.
E, ali começava a história que teve seu auge na manhã desta segunda-feira (24). Um pequeno capítulo de quem quer conquistar a Copa do Mundo no dia 20 de agosto. Para inspirar novas Ariadina's.