As suspeitas sobre as más condições de trabalho para migrantes que construíram os estádios e estruturas para a Copa do Mundo do Catar foram confirmadas nesta terça-feira (29) pelo representante do governo do país na organização do torneio, o Secretário-geral do Comitê Supremo para Entrega e Legado da Copa do Mundo no Catar, Hassan Al-Thawadi . Ele admitiu que “entre 400 e 500” pessoas teriam morrido durante as obras para a competição. As declarações foram feitas em entrevista ao jornalista inglês Piers Morgan, na rede de TV britânica "Talk TV".
— Pelo menos na organização da qual eu participo, temos a transparência como nosso compromisso — ressaltou Hassan Al-Thawadi, ao pontuar que trabalha com o número de três mortes diretas acontecidas em acidentes de trabalho e outras 37 em decorrência de condições das jornadas, considerando a operação dos estádios.
Quando são consideradas outras obras fora da gerência dele, como hotéis, pontes, rodovias e semelhantes, em construções feitas nos últimos 13 anos, desde que a Fifa elegeu o país árabe como sede, em 2009, o número estimado por ele cresce:
— Temos uma estimativa em redor de 400 a 500 pessoas. Não tenho o número exato, é preciso debatê-lo.
Perguntado pelo entrevistador se ele considera 400 vidas “um preço muito caro para pagar pelo evento”, o membro do governo do Catar respondeu:
— Eu diria que uma única morte é uma morte para vários outros. Cada ano nossos padrões de segurança estão melhorando, pelo menos nos nossos pontos de trabalho, que a Copa do Mundo era responsável. Tínhamos representantes de outros países acompanhando estes locais de trabalho verificando como estava sendo o trabalho — comentou.
— Precisamos deixar claro que essa necessidade de melhorias foi percebida antes mesmo da Copa do Mundo vir para cá. Queríamos melhorar por conta dos nossos próprios valores. O que a Copa fez foi catalisar, acelerar este processo. Por estarmos debaixo deste holofote fez com que várias melhorias fossem feitas na nossa legislação, e estamos em uma posição de servir para exemplo a outros países da nossa região — complementou Al-Thawadi.
Foi a primeira vez que um representante do Catar não negou as acusações feitas por Organizações Não Governamentais na última década sobre as condições de trabalho nos países árabes. Outros temas como as restrições ao público LGBT+ e aos protestos durante o evento também foram abordadas pela entrevista, disponível na íntegra no Youtube.