A pouco menos de dois anos para o início da próxima Copa do Mundo, o Catar garante o que jamais houve em um país-sede: todas as obras de infraestrutura do megaevento, marcado para novembro de 2022, em fase de finalização. Mesmo com a pandemia do coronavírus, os árabes dão exemplo ao apresentar um plano de entrega tão avançado.
O Comitê Organizador do Mundial afirma que cerca de 90% da estrutura necessária está pronta, e o restante será entregue até o final de 2021 — um ano antes da Copa. A ideia inicial do país era finalizar todas as obras até dezembro de 2020, mas a pandemia atrasou um pouco o planejamento.
— Cerca de 90% da infraestrutura está completa. Tudo está em um nível de avanço que nenhuma outra sede anterior da Copa conseguiu atingir a dois anos antes do torneio — garantiu a GZH a diretora do Supremo Comitê para Entrega e Legado do Catar, Fatma Al Nuaimi.
A seguir, confira algumas das estruturas que o Catar já entregou ou pretende entregar ainda em 2021.
Transporte
A rede de transporte está finalizada com a conclusão de todas as rotas do metrô construído para a Copa do Mundo. As linhas amarela, verde e vermelha, que conectam os passageiros a seis estádios do Mundial, foram entregues em setembro. Para as outras duas arenas mais afastadas, o governo disponibiliza trens para fazer a baldeação. O megaprojeto abrange todas as principais cidades do Catar e será peça-chave para o bom andamento da competição, com trajetos em alta velocidade e valores acessíveis.
Além do metrô, há opções como táxi do governo, uber e ônibus — este último, deixando um pouco a desejar no quesito velocidade. Na última visita da reportagem ao país — em 2019, pôde-se constatar diversos veículos com relativo atraso.
Apesar de ser um país pequeno, o Catar registra uma grande circulação de veículos. A cultura do carro é muito presente entre os cataris, e a média é de quatro veículos por família. Com isso, nos horários de pico — manhã e final da tarde —, é possível presenciar congestionamentos nas principais vias de Doha, situação que preocupa o país durante o Mundial.
Após a Copa no país, o governo planeja uma segunda fase de construção no metrô, que conta com uma linha azul e deverá estar concluída em 2026. A expectativa é de que, aos poucos, o país incluirá a praticidade ao seu dia a dia para evitar congestionamentos.
Acomodações
Quando o assunto são as acomodações, o Catar esbanja criatividade ao apresentar opções interessantes. Além dos 46 mil quartos de hotéis que a organização entregará, o Cômite revelou que 16 hotéis flutuantes estão em construção na Ilha Qetaifan do Norte, na novíssima cidade de Lusail, e que um acampamento especial no estilo beduíno será erguido no deserto, próximo à Arábia Saudita, para abrigar cerca de 2 mil torcedores.
— Iremos permitir que os visitantes de fora do país desfrutem do Catar e de sua experiência futebolística de uma maneira inteiramente nova — disse o membro do comitê Abdulaziz Al Mawlawi. — Haverá opções para todos os tipos de orçamentos — completou.
O Catar também estuda incentivar serviços de aluguel particular, como Airbnb, além de acomodar espectadores em navios de cruzeiro ao longo da costa, se necessário.
Estádios
Uma outra diferença marca a organização da Copa no Catar em comparação às duas últimas edições do evento. Ao invés de 12 arenas, o Mundial de 2022 será disputado em oito estádios. Cinco deles já foram finalizados e inaugurados, e os outros três serão entregues em 2021.
— Nós decidimos que oito é o número de estádios que o Catar vai precisar no período pós-Copa. Isso nos garante que não teremos nenhum elefante branco deixado para trás depois do torneio — explicou a diretora.
Além do sistema de ar condicionado e da arquitetura moderna, os novos estádios foram construídos dentro de parâmetros atuais de sustentabilidade. O grande orgulho da organização é a tecnologia empregada na construção deles. Pela primeira vez, a Copa será disputada em uma arena desmontável, o Estádio Ras Abu Aboud. Os demais estádios também têm estruturas modulares.
— Depois da Copa, a estrutura modular será desmontada e usada para criar outras instalações esportivas no Catar. Mais de 170 mil assentos desmontáveis serão doados para nações que são carentes de estruturas — comentou a diretora.
O Catar será o menor país a já ter recebido uma Copa e, por isso, o torneio terá uma logística bem diferente, sem precisar de viagens longas. Todas os estádios vão ficar nos arredores da capital, Doha, dentro de um raio de apenas 60 quilômetros. A proposta do comitê é que os torcedores se locomovam por metrô de uma sede para outra. Será possível até mesmo acompanhar mais de uma partida no mesmo dia.
Temperatura
A Copa foi transferida para o fim do ano para evitar o forte calor no país em julho. A temperatura média em dezembro varia de 18ºC a 24ºC, porém a organização quer dar ainda mais refresco aos jogadores e torcedores. Os estádios vão ter um complexo sistema de ar-condicionado. A tecnologia tem sido aprimorada desde 2010 em uma parceria com uma universidade local.
Mas, mesmo o mês de dezembro sendo conhecido por fazer "frio" no país, se por acaso fizer um calor atípico, todos os estádios podem fazer a temperatura ambiente chegar aos 22°C.
— Vai fazer frio (em dezembro), acho que o ar-condicionado dos estádios nem serão utilizados (risos) — brincou Sadeq Bader, jornalista na Alkass Sports e da Federação de Futebol do Catar.
Mesmo com um cronograma bem adiantado, o Catar ainda é um verdadeiro canteiro de obras. Os trabalhos também estão em ritmo avançado para construir os quase 40 campos de treinos necessários para abrigar as seleções e fazer melhorias pelo país para deixá-lo mais atrativo aos visitantes. Cerca de 19 mil operários atuam nas obras, vários deles estrangeiros.
A pandemia do coronavírus interferiu, mas pouco, no ritmo de trabalho. A organização explicou ter precisado afastar 55 trabalhadores que tinham fatores de risco para a doença. Nada que abalasse o otimismo dos cataris em entregar a melhor e mais organizada Copa do Mundo de todos os tempos.