Nos bairros São Geraldo e Vila Ipiranga, em Porto Alegre, franceses e croatas montaram seus QGs para acompanhar a final da Copa do Mundo.
A parte da França na Capital escolheu o pub 4Beer e no cardápio nada de culinária francesa: um buffet de feijoada dava tons brasileiros ao evento. Apesar disso, as bandeiras com as cores azul, branca e vermelha deixavam o ambiente bastante caracterizado.
Antes da bola rolar, o sentimento era de otimismo. O sonho do bicampeonato era quase uma certeza. O estudante francês Gaspard Lescure, no Brasil há um ano e meio, previra uma vitória tranquila.
— Vai ser goleada. Acho que pode ate ser 7 a 1 — brincou.
Não foi 7 a 1, mas foi bonito. A França venceu a Croácia por 4 a 2 e garantiu sua segunda Copa do Mundo. Como o primeiro gol, veio o alívio para a turma que estava no São Geraldo. O clima ficou tranquilo durante todos os 90 minutos. Fã da França desde a Copa de 1998, o brasileiro Roger Goularte de Barros Sant’ana, 33 anos, curtiu a conquista como se fosse do país.
— Hoje o dia é azul! Allez Les Bleus! É uma sensação muito boa, vamos comemorar aqui do mesmo jeito que em Paris! — disse o vigilante.
Os croatas do bairro Vila Ipiranga deixaram de de lado o favoritismo dos rivais e confiaram em uma vitória simples:
— 2 a 1 pra nós — apostou a dona da casa Desa Kolesar, antes de a partida iniciar.
A derrota da Croácia não foi suficiente para desanimar as mais de 30 pessoas que se reuniram na casa da dona de casa. Aos 80 anos e quase 60 vividos em Porto Alegre, dona Desa mudou de continente para acompanhar o marido, general refugiado político da Segunda Guerra Mundial. Assim como Modric e cia, sua história é moldada pelas seguidas batalhas travadas por seu povo. Por isso, nascida no território croata da ex-Iugoslávia, a idosa aproveitou a Copa para celebrar às raízes e reunir a família.
Ainda no primeiro tempo, o salão de festas decorado com balões e bandeira foi à loucura aos 28 minutos com o empate pelos pés de Persic e, menos de 10 minutos depois, suspirou com o segundo gol francês. A expectativa, e entretanto, seguiu positiva.
No intervalo, os primeiros pedaços de vazio, frango e pão com alho foram servidos, e o barril de 100 litros de chope seguia esvaziando. Mas aí veio o segundo tempo, o terceiro... e o quarto gol dos Bleus.
— Só não vamos deixar virar uma Alemanha — comentou, desesperançosa, a dona Desa, com receio do 7 a 1 previsto pelo rival lá no São Geraldo.
Um último alento e uma nova chance de ir à prorrogação veio aos 23 da segunda etapa.
— Eu acredito! Eu acredito! — entoaram os torcedores croatas.
— Arra, urru, a (Avenida) Goethe — brincaram em seguida, provocando a promessa de comemoração francesa.
Os quadriculados comemoraram o segundo lugar inédito da Croácia e a bravura de seus combatentes de chuteiras. Restou curtir a família, o churrasco e o bolo decorado com a bandeira croata.
— Sogrite, agora nos resta secar o chopit — brincou o genro de Desa, Emerson Ludwig.