— É uma noite eterna para a França.
A definição é do estudante Paul Bekahche, 20 anos, um dos tantos enlouquecidos torcedores que conversaram com a reportagem do GaúchaZH em meio a buzinas e fogos de artíficio na comemoração na tradicional avenida Champs-Elysée. Logo após a vitória sobre a Croácia por 4 a 2, centenas de milhares de franceses foram às ruas celebrar o bicampeonato mundial. Muitos, como Paul, pertencem a uma geração marcada pela derrota para a Itália, na Copa 2006, e sentiam o gostinho de ser campeão mundial pela primeira vez.
— Eu era um pequeno bebê em casa quando fomos campeões em 1998. Eu estava no meu berço, não lembro de nada, mas meus pais me contam que foi algo muito louco. Hoje, estou muito feliz de estar com meus amigos comemorando este feito. Até porque eu chorei em 2006 após a derota para a Itália, mas agora estou feliz de estar celebrando. É uma noite eterna, uma noite para a França, uma noite para os nossos sonhos — emociona-se.
As ruas foram tomadas por franceses de diversas idades e etnias. Mas chamou atenção a presença de diversos jovens na comemoração. Muitos que sequer lembram da vitória sobre o Brasil, por 3 a 0, na final da Copa de 1998, disputada na própria França.
— Há 20 anos, eu não era nem nascido. Nasci um mês depois do título de 1998. É o meu primeiro título. Vou comemorar a noite toda. É uma satisfação para todo o povo francês, pois em 2006 perdemos para a Itália. Agora, merecemos aproveitar este momento — completa o estudante Adel Belayachi.
— Em 1998, eu estava na minha cama. Não lembro de nada. É muito bom estar aqui em Paris comemorando essa conquista. É incrível — complementa o estudante Jon Narbaitz, também de 20 anos.
Cerca de 100 mil franceses assistiram à partida no Champ de Mars, um gigante jardim situado atrás da Torre Eiffel, onde a prefeitura de Paris instalou quatro telões. Foi a maior aglomeração de público registrada na capital francesa. O local chegou a ser fechado em determinado momento, pois a capacidade máxima havia sido atingida.
Antes do jogo, como de hábito, a "Marseillaise" (hino nacional francês) e o tradicional "Allez les Bleus" animaram a multidão. A maior empolgação, no entanto, foi quando apareceu um dos funcionários da prefeitura com uma mangueira e disparou jatos de água no público, atenuando a sensação de calor de 30 graus.
— Obrigado, bombeiro! Obrigado, bombeiro — cantou a torcida.
A alegria com a água, no entanto, não se comparou à emoção com os gols de Mandzukic (contra), Griezmann, Pogba e Mbappé. A cada gol, diversos sinalizadores com as cores da bandeira da França eram disparados, colorindo o Champ de Mars, um prenúncio de quais seriam as cores do planeta após o final da partida. Quando o árbitro argentino Néstor Pitana apitou o fim do jogo, não houve dúvidas. O mundo é azul, vermelho e branco.
A festa foi de todos os franceses, mas especialmente daqueles que não viveram o momento mágico do primeiro título.
— Em 1998, eu tinha seis anos. Lembro que o meu pai me levou de carro para comemorar na cidade de Strasburgo, onde vivíamos. Mas eu era muito jovem. Quero viver agora esse momento — disse o estudante Vincent Farigno.
Assim que a partida foi encerrada, centenas de milhares de franceses marcharam rumo ao Arco do Triunfo, cartão postal de Paris e ponto central da festa, onde fogos de artíficio decoravam o céu parisiense. Chamou atenção a presença de diversas bandeiras africanas, de países como Argélia e Marrocos, celebrando a união entre as diferentes etnias que formam o povo francês.
— É insano. Parece que toda a França está aqui. Não tenho ideia de onde eu estava em 1998. Eu era muito jovem. Mas meus pais me disseram que foi uma noite insana, como está sendo hoje. Tenho orgulho de estar aqui. Tenho certeza que todo mundo na França vai aproveitar e celebrar isso por vários meses — declarou o torcedor Lilian Poulet, nas imediações do Arco do Triunfo.
Como já havia ocorrido na vitória sobre a Bélgica, na semifinal, alguns franceses subiram no telhado de paradas de ônibus, no teto de automóveis e em semáforos. Outros atos de violência foram registrados.
Alguns franceses vararam a madrugada na Champs-Elysée. Outros foram para os parques da cidade. Em qualquer lugar, se ouvia o som se cornetas e buzinas. E também a "Marseillaise". A trilha sonora de uma noite que ficará para sempre na história da França.