Hugo Lloris, o francês nascido em berço de ouro e que um dia sonhou em ser tenista, conquistou o seu "Grand Slam". O capitão da França é o quarto goleiro na história a erguer a taça da Copa do Mundo, entrando na galeria que já tinha os italianos Gianpiero Combi (1934), Dino Zoff (1982) e o espanhol Iker Casillas (2010) entre os 21 jogadores que já tiveram a honraria desde 1930.
Lloris, debaixo de um temporal que começou na hora da premiação, foi o último a receber sua medalha, como manda a tradição. Ganhou um abraço forte do presidente da França, Emmanuel Macron, após cumprimentar o presidente russo, Vladimir Putin. A taça veio das mãos de outro presidente, o da Fifa: Gianni Infantino. Foi só levantá-la e continuar a festa na Rússia.
O novo campeão do mundo festejou de forma fria e solitária os dois gols da França no primeiro tempo. Não teve culpa no sofrido em chute certeiro de Perisic. Trabalho mesmo ele teve no começo do segundo, quando espalmou a bola que Rebic bateu com força no alto. Deu até uma de líbero depois para afastar o perigo em investida croata. Mais aliviado Lloris ficou quando Pogba fez 3 a 1: bateu palmas e logo deu novas orientações à zaga. No quarto gol de Mbappé, o goleiro foi tomar água com a tranquilidade de quem já sabia que a tarefa mais importante com as mãos em alguns minutos seria erguer a taça.
Tamanha tranquilidade no placar fez Lloris cometer um erro grotesco, mas com os pés, ao perder bola recuada na área no gol de Mandzukic. Mas a imagem que ficará de Hugo Lloris em campo na Copa do Mundo da Rússia não é a da falha. Mas sim a da defesa espetacular que salvou a França nas quartas de final, contra o Uruguai. Os franceses venciam por 1 a 0 quando Cáceres, aos 43 da primeira etapa, cabeceou no canto direito. Lloris cresceu e foi decisivo para que sua equipe batesse os uruguaios (2 a 0), seguindo para a semifinal.
Ao apito final, o capitão ajoelhou-se. Ficou alguns segundos em suas orações, levantou-se, caminhou sem pressa para abraçar o reserva Mandanda, que o substituiu em apenas um jogo da Copa: o empate sem gols com a Dinamarca. Lloris atuou em seis jogos (vazado seis vezes).
O capitão francês, há dez anos na seleção, tinha outros planos para as suas mãos quando era adolescente na bela cidade de Nice, litoral do país. Lloris já segurou raquetes em quadras de tênis e, até seus 13 anos, assitia Roland Garros e sonhava em ser campeão ali. Um brasileiro ainda é seu ídolo.
— Eu cresci vendo Roland Garros e claro que o Guga é meu ídolo. É engraçado, os franceses o amam — afirmou Lloris, de 31 anos, à ESPN, em 2017.
Filho de banqueiro, em família rica, ele representa o outro lado da variedade cultural da seleção formada por filhos de imigrantes africanos e naturalizados.
O garoto Hugo, que ficou entre os melhores tenistas da França em sua faixa etária, começou a jogar futebol nos intervalos das aulas de tênis. Jogava "na linha" e, ao substituir um goleiro lesionado, chamou atenção debaixo das traves. Apesar da resistência dos pais, que o queriam estudando e treinando no outro esporte, o gosto pelo futebol foi crescendo para Lloris.
O começo foi no mesmo clube que ele torcia e via jogos com o avô: o Nice. Das categorias de base, ao profissional. Do Nice ao Lyon. E do Lyon, ao Tottenham (ING), clube que o francês joga desde 2012. Pela seleção nacional, a história está escrita. Agora a França tem dois goleiros campões mundiais: Lloris e Barthez. Tem também apenas dois capitães: um se chama Hugo e o outro, de 1998, Didier Deschamps, o único do país campeão como jogador e treinador.