O ano de 1998 foi histórico para a seleção francesa. Em 12 de julho, dois gols de Zinedine Zidane e um de Emmanuel Petit determinaram uma goleada sobre o Brasil que garantiu aos azuis o seu primeiro título mundial. A 10 quilômetros de Paris, 162 dias depois, nascia Kylian Mbappé Lottin.
O principal jogador da seleção francesa que disputa vaga na semifinal da Copa da Rússia nem era nascido quando o seu país ganhou o Mundial há duas décadas — uma lembrança ainda tão fresca na memória dos brasileiros que sofreram com a derrota no Stade de France.
A ascensão rápida de Mbappé é um dos seus atributos. Na Copa passada, enquanto a França era eliminada nas quartas de final pela Alemanha, o atacante tinha 15 anos e atuava nas categorias de base do Monaco — no ano anterior, havia trocado o pequeno Bondy, de sua cidade natal, com a esperança de se formar em um grande clube nacional.
Hoje, aos 19 anos, é um astro do Paris Saint-Germain e foi o principal nome da França na vitória por 4 a 3 sobre a Argentina nas oitavas de final da Copa do Mundo. É ele que será, nesta sexta, a esperança francesa diante do Uruguai em busca da semifinal — que pode ser exatamente contra o mesmo Brasil derrotado pelos europeus meses antes do nascimento de Mbappé na última Copa do Século 20.
O começo perto de casa
Mbappé deu os primeiros passos no futebol a poucos quilômetros de casa. Dos seis aos 14 anos, defendeu a Association Sportive de Bondy. O time era treinado pelo seu pai, Wilfried. A cidade de Bondy, com 50 mil habitantes, fica na região metropolitana de Paris. Considerado promessa desde jovem, Mbappé se desenvolveu no Centro Técnico Nacional de Clairefontaine, academia comandada pela federação francesa.
A primeira grande oportunidade
O crescimento de Mbappé fez com que ele ganhasse a primeira chance em um grande clube. Para isso, precisaria viver longe de casa. Chegou a ser sondado por Real Madrid, Chelsea, Liverpool, Manchester City e Bayern de Munique. Antes de completar 15 anos, em 2013, optou pelo Monaco e passou a viver no principado que fica no sul da França — apesar de o clube jogar o Campeonato Francês, a cidade-estado de Monaco é considerada um país independente.
A profissionalização e os primeiros recordes
Mbappé estreou no time principal do Monaco em 2 de dezembro de 2015, em um empate em 1 a 1 diante do Caen. Nessa partida, quebrou o recorde de Thierry Henry e se tornou o jogador mais jovem a defender o Monaco em uma partida profissional. O atacante tinha 16 anos e 347 dias. O seu primeiro gol foi em 20 de fevereiro de 2016, durante uma vitória por 3 a 1 sobre o Troyes. Também foi, aos 17 anos e 62 dias, o mais jovem a marcar um gol pelo clube. Detalhe: ele nem havia assinado contrato profissional. O vínculo só seria firmado no mês seguinte, quando chegou a um acordo de três anos.
Um novo patamar
O atacante fez duas temporadas pelo Monaco — basicamente, uma temporada completa como profissional. Chegou à semifinal da Liga dos Campeões, com seis gols em nove jogos. Isso foi suficiente para que os grandes clubes do futebol europeu estivessem encantados com a velocidade e o poder de finalização do jogador. Em 31 de agosto de 2017, foi fechada a sua ida para o Paris Saint-Germain.
Para driblar o Fair-Play financeiro da Uefa, o PSG adquiriu o jogador por empréstimo, mas o acordo previa uma cláusula de obrigação de compra que totalizava 175 milhões de euros. Era a transação mais cara para um jogador menor de idade na história do futebol.
Estabilizado na seleção
A primeira convocação de Mbappé para a seleção francesa principal foi em março de 2017. O primeiro gol veio em uma goleada por 4 a 0 sobre a Holanda. Curiosamente, enquanto ele ainda jogava no Monaco, o gol foi marcado no Parque dos Príncipes — o estádio que serve como a sua casa no PSG. Se ainda não estava pronto na campanha da Euro 2016, o Mundial da Rússia seria a primeira oportunidade para jogar em um torneio de grande porte pela França.
Divisão de holofote
Na chegada ao PSG, precisou conviver com astros já consolidados. A temporada no novo clube girou em torno de outro atleta que também havia sido contratado na mesma intertemporada: Neymar, a transferência mais cara da história do futebol. Mesmo assim, Mbappé fez um ano sólido. Foram 21 gols em 44 jogos entre Campeonato Francês, Copa da França, Copa da Liga Francesa — com três títulos nos torneios nacionais — e Liga dos Campeões — que culminou na decepcionante eliminação precoce para o Real Madrid nas oitavas.
A explosão na Rússia
A Copa de Mbappé começou bem, mas discreta. Com a camisa 10 que um dia foi de Zidane, o jogador marcou um gol na fase de grupos. Titular nas duas primeiras partidas, contra Austrália e Peru — em que marcou o gol da vitória —, foi poupado no jogo contra a Dinamarca e só entrou no segundo tempo. O grande jogo viria nas oitavas de final. Na partida histórica contra a Argentina fez dois gols e criou as jogadas que determinaram a vitória por 4 a 3 e a passagem para enfrentar o Uruguai nas quartas de final.