Se a partida em que a França levou a melhor sobre a Bélgica foi recheada de estrelas, na outra semifinal da Copa do Mundo na Rússia, às 15h, desta quarta-feira (11), o destaque está sobre os líderes das duas equipes. Inglaterra e Croácia vão a campo no Estádio Luzhniki, em Moscou, com os holofotes voltados para os capitães.
Harry Kane, artilheiro da competição até agora, com seis gols, tentará manter a precisão nos chutes que elevaram o English Team de equipe sem grandes expectativas a candidato ao título. Do outro lado, o camisa 10 e maestro da Croácia, Luka Modric, foca na vitória rumo ao sonho do título inédito para esquecer os problemas extracampo, e quer fazer valer a ótima campanha que já resultou no maior avanço da seleção desde a Copa de 1998, quando também chegou à semifinal. Caso consiga passar pelos ingleses, terá chance de dar o troco na já finalista França que, jogando em casa, foi responsável pela eliminação croata naquele Mundial.
Confira a história dos craques que podem fazer a diferença na disputa da vaga para a final:
Luka Modric (Croácia)
Quatro Champions
Com o Real Madrid, onde chegou em 2012 vindo do Tottenham por mais de 40 milhões de euros, ganhou quatro Ligas dos Campeões nas últimas cinco temporadas, o que o coloca entre um dos melhores jogadores croatas de todos os tempos, ao lado do artilheiro Davor Suker, semifinalista na Copa da França, em 1998, e atual presidente da federação croata.
— Estou apaixonado por Modric, joga com uma simplicidade fantástica — afirmou o ex-jogador croata Alen Boksic, antes da partida contra os russos pelas quartas de final.
— Há seis ou sete anos que joga no mais alto nível, é o motor do Real Madrid. Trabalhou muito bem e muito duro para chegar a este nível, é nosso capitão, nosso líder — comentou o atacante Mario Mandzukic na segunda-feira. — E se conquistar a Bola de Ouro, terá merecido — acrescentou.
No ano passado, Modric ficou com o quinto lugar no prêmio, vencido por Cristiano Ronaldo, companheiro de equipe no Real.
Craque polêmico
Capitão, camisa 10 e com toque refinado. No campo, poucos discutem o talento de Luka Modric na Copa do Mundo, mas o meia precisa conviver com uma sombra que paira sobre ele e o futebol do país natal: o caso Zdravko Mamic.
Em uma coletiva de imprensa no mês passado, por alguns segundos, o silêncio tornou-se insuportável. Os croatas Andrej Kramaric e Josip Pivaric foram interrogados sobre o impacto do caso Mamic e as implicações para seu capitão. O chefe da comunicação da delegação, Tomislav Pacak, tratou de encerrar o momento constrangedor ao pedir que fossem feitas apenas perguntas sobre o Mundial.
Kramaric afirmou então que "o ambiente dentro da equipe era bom" e que "o resto não tinha absolutamente nenhuma influência". Mas o discurso não escondeu o desconforto em torno do meia de 33 anos do Real Madrid.
Em termos de futebol, não se pode dizer nada sobre o jogador inteligente e brilhante, capaz de mudar o destino de uma partida com um só passe em profundidade. Autor de gols contra Nigéria e Argentina na fase de grupos da Copa 2018, também se destacou contra a Dinamarca, apesar de falhar em cobrança de pênalti na prorrogação.
Refugiado e indiciado pela Justiça
Fora das quatro linhas, a história pessoal do craque também impressiona. Durante a guerra de independência da Croácia (1991-1995), foi forçado a fugir da aldeia onde vivia, localizada numa montanha de Velebit, perto do Mar Adriático, após ter sua casa destruída.
Em Zadar, cidade sobre o mar na qual se refugiou, uma pichação se destaca em uma parede: "Luka, você vai se lembrar deste dia", diz a frase na entrada do hotel Zadar, onde o craque e a família viveram como refugiados.
Modric virou motivo de decepção para o país desde que foi apontado como suspeito de falso testemunho para ajudar Zdravko Mamic, "padrinho" do futebol croata. O ex-dirigente do Dinamo Zagreb, considerado há anos como o verdadeiro patrão do esporte na Croácia, foi condenado no início de junho a seis anos e meio de prisão por corrupção e desvio de fundos em transferências de jogadores — a de Modric seria uma delas.
No tribunal, o jogador alegou ter assinado acordo com Mamic em 2004, prometendo metade dos lucros, que receberia no futuro, por sua transferência. Mas, em 2015, disse que esse anexo foi assinado retroativamente, quando já estava atuando pelo Tottenham.
Por mudar de versão, foi indiciado pela justiça croata por falso testemunho em março, meses antes de ser um dos principais responsáveis pela melhor campanha da Croácia em uma Copa desde 1998.
— Conhecendo Luka e sua personalidade (...) estou convencido de que superará tudo isso e vai estar no seu melhor nível quando necessário — garantiu o técnico Zlatko Dalic antes do torneio.
Por enquanto, o meia está cumprindo as previsões. Nesta quarta, enfrenta outro desafio, contra a Inglaterra, com a chance de reverter a opinião dos torcedores que lhe deram as costas. Seria um ganho de ânimo e tanto para aguardar a decisão do tribunal, que pode condená-lo a cinco anos de prisão.
Harry Kane (Inglaterra)
Rompedor de barreiras
Capitão, camisa 9, e dono de uma finalização mortal. Quando criança, Harry Kane chegou a ser recusado pelo Arsenal e teve problemas por ser considerado baixo e lento demais. Atualmente, é a grande estrela do Tottenham e líder da seleção da Inglaterra, que disputa a semifinal da Copa do Mundo contra a Croácia, às 15h, no Estádio Luzhniki, em Moscou.
"É um dos nossos", comemoram os Spurs, apesar de o atacante não ter tido caminho fácil para chegar ao White Hart Lane, casa do clube londrino. Nascido em Walthamstow, a 15 minutos do estádio, Kane passou por Arsenal, Millwall e Leicester.
— Notava-se de imediato. Apesar de ser jovem, sabia chutar a bola — explicou David Bricknell, técnico do time juvenil de Ridgeway Rovers, famoso pela estreia de David Beckham.
— Estou há dois anos nisso, e poucos se destacaram como ele. O tivemos por duas temporadas e ele fez muitos gols. O Arsenal o detectou rapidamente, mas lá foi difícil — acrescentou.
Dificuldade em se firmar
Kane revelou em fevereiro, em artigo no The Players Tribune (site que publica textos de atletas), o que sentiu ao ser descartado pelo Arsenal.
— Tinha oito anos e meu pai me disse que o Arsenal me mandava de volta. Não me lembro o que senti, mas da reação do meu pai: não me criticou nem ao Arsenal.
Só disse: "Não se preocupe, Harry. Trabalharemos mais duro e encontraremos outro clube, tudo bem?", relatou o jogador, atual artilheiro da Copa, com seis gols.
Foi a primeira advertência das dificuldades futuras. Kane não seguiu o caminho de Michael Owen e Wayne Rooney, destinados a se tornarem estrelas da Inglaterra desde crianças. Reincorporado ao Watford, marcou três gols contra o Spurs, que convenceu o time local a chamá-lo em 2004.
— Com 14 anos, chegou o limite para ficar com ele. Sempre teve talento, mas era pequeno e tinha dificuldade para ganhar espaço — contou o ex-dirigente do Tottenham, Chris Ramsey, à revista FourFourTwo.
O que perdia em aceleração, Kane compensava com vontade.
— Um volume de trabalho e mentalidade impressionantes — diz o ex-diretor do centro de treinamento, Alex Inglethorpe, que lembra de um artilheiro "obcecado pela definição".
Emprestado para Leyton East, Millwall e Norwich, ainda antes de completar 20 anos, o jovem atacante estava desanimado. Bloqueado na segunda divisão, Kane esquentou o banco de reserva no Leicester ao lado de Jamie Vardy.
Inspiração em Tom Brady
Foi um documentário sobre Tom Brady, considerado um dos melhores quarterbacks da história da NFL (liga de futebol americano), que mudou a vida de Kane. Brady foi recrutado apenas na sexta rodada do draft por seu físico, mas superou as adversidades para conquistar cinco Super Bowls pelos New England Patriots.
— Me impressionou. Uma verdadeira fonte de inspiração. Brady acreditava tanto nele que continuou trabalhando de maneira quase obsessiva. Foi como se uma luz se acendesse na minha cabeça, ali sentado no sofá em Leicester — revelou Kane.
No verão seguinte, determinado a cavar espaço no Tottenham, ele recusou novo empréstimo.
— Era como se pudesse ver meu sonho de infância diante dos meus olhos. A vida não te dá nada, é preciso ir buscar — garantiu o centroavante.
Agora, o antes jovem baixo e lento demais, lutar para conquistar a Copa. Determinação não vai faltar.
NA TV
Como acompanhar: RBS TV, SporTv e Fox Sports transmitem ao vivo.
HISTÓRICO
As duas seleções nunca se enfrentaram em Copas do Mundo.
Sete jogos*: um empate, quatros vitórias da Inglaterra, duas vitórias da Croácia.
18 gols da Inglaterra.
10 gols da Croácia.
* O número de partidas entre as duas seleções é pequeno porque a Fifa não contabiliza os resultados da antiga Iugoslávia, cuja história esportiva foi herdada pela Sérvia.