A Croácia bem que gostaria de ter evitado os anfitriões eufóricos e a decisão por pênaltis nas quartas de final contra a Rússia. Mas lá estavam os jogadores croatas no gramado de Sochi, assistidos por uma mulher de terno, Iva Olivari, conquistando uma vaga nas semifinais.
A histórica passagem da Seleção croata às semifinais da Copa do Mundo se deu também graças a ela, gerente da equipe. Como o da Seleção dos Bálcãs, seu caminho até o imponente estádio às margens do Mar Negro foi longo.
Tudo começou em 1992, quando depois de uma lesão encerrar uma carreira promissora no tênis, desembarcou na recém-criada federação de futebol nacional.
Naquela jovem Croácia, era impensável que a equipe chegaria a sua segunda semifinal em 20 anos e uma mulher estaria à beira do gramado. Mas os tempos mudaram.
— Eu não fui discriminada, mas é claro que eu ouvi coisas como "ela não deveria estar ali, seria melhor se fosse um homem, não sabe nada sobre futebol"... Mas esses comentários não me afetaram — disse à AFP esta mulher de voz firme que veste o uniforme da comissão técnica croata.
O que acontece dentro do campo é decidido pelo técnico Zlatko Dalic, mas todo o resto passa por Olivari, que alguns jogadores chamam carinhosamente de "tia Iva" e outros empregados diretamente de "chefe".
— Os mais jovens, quando chegam ao time, costumam estar assustados, e me chamam de "tia Iva" — confessa com um meio sorriso. — Mas isso é rapidamente esquecido e passo a ser apenas Iva — acrescenta. Porque ela é quem manda.
— Como gerente da equipe, sou a rainha dos papéis. Sou responsável por toda a administração, comunicação com rivais, clubes, viagens... tudo que se precisa para participar de um torneio — explica.
Isso inclui ajudar o técnico na comunicação das mudanças ou no diálogo com a Fifa, assim como faz Silvia Dorschnerova, delegada de campo da Seleção espanhola desde a Copa do Mundo de 2002.
Pouco espaço
Esta é a primeira Copa de Iva como gerente da equipe. Mas a imagem desta mulher de 49 anos chamou a atenção, dada a rara presença de profissionais femininas.
Quase metade do público da Copa de 2014 foi feminina entre os maiores países da América Latina, segundo dados da própria Fifa, mas praticamente não há mulheres nos comitês técnicos das Seleções, enquanto as salas de imprensa ainda são muito masculinas e não houve juízas em nenhuma das 64 partidas.
Algumas jornalistas tiveram que aguentar o assédio de torcedores durante seu trabalho nas ruas, e uma multinacional teve que retirar uma publicidade vexatória.
— Gostaria de ver muito mais mulheres dentro e fora do gramado, podemos fazer muitas coisas. Podemos trabalhar na administração, na gestão de jogadores, nas transferências — enumera Olivari. — Há muitos aspectos em que as mulheres podem intervir para melhorar o desenvolvimento do futebol — diz esta mãe de duas crianças.
Ela é uma parte essencial da federação croata, dirigida atualmente pelo ex-atacante e herói do terceiro lugar conquistado em 1998, Davor Suker. Nomeada gerente da equipe após a Copa do Mundo no Brasil, Olivari fez sua estreia no campo na Eurocopa da França, em 2016.
— Foi muito emocionante, não importa se você é um homem ou mulher. É incrível sentar lá e assistir a partida de uma outra perspectiva — recorda.
A experiência, no entanto, acabou com o gol nos acréscimos de Quaresma, com o qual a seleção portuguesa eliminou a Croácia nas oitavas. Mas, na Rússia, a sorte favoreceu a talentosa geração liderada por Luka Modric, que correu animadamente para abraçar Iva após a classificação sofrida contra a Dinamarca.
Para ela, como para os quatro milhões de croatas, o trauma da decisão por pênaltis foi um calvário que ela não desejava repetir, mas que teve que superar novamente contra a Rússia.
— Acho que nossa hora chegou e vamos fazer coisas incríveis nesta Copa do Mundo — assegura. E ela estará na primeira fileira.