Palmeiras campeão brasileiro e sempre fica aquela dúvida marota: foi sorte ou foi competência? Tratando-se de um esporte de ações aleatórias e caóticas, o azar é fator importante no jogo, muitas vezes preponderante no resultado final. Como todo mundo sabe, no futebol "nem sempre o melhor vence".
Mas como podemos diferenciar e medir o que foi obra de um trabalho esportivo coletivo e o que foi obra pura do acaso? Pois bem, seus problemas acabaram. O Diagnóstico Esquemão desta semana resolve a charada e mostra quais times tiveram mais sorte e quais foram mais eficientes no Brasileirão.
Para isso, vamos recorrer a uma métrica muito usada em clubes profissionais de futebol, originada em outro esporte. Criado em 2008, o PDO mede a diferença entre a porcentagem de acerto das finalizações e a porcentagem de acerto de defesas, e veio do hóquei no gelo. Seu inventor, o matemático Brian King – cujo avatar na internet era PDO, daí o nome – conseguiu diferenciar times sortudos dos eficientes no seu esporte favorito.
A NHL, a associação de hóquei norte-americana, adotou a métrica e hoje a utiliza em suas análises oficiais. Mas, há um pequeno porém: o hóquei é um esporte disputado com as mãos e um taco, onde a aleatoriedade incide nas ações do jogo de forma menor que no futebol. Então, como podemos nos aproximar de um diagnóstico mais preciso?
Valor esperado de gol é tudo
Existe no futebol uma métrica chamada Expected Goal (xG), que traduzi para português como "valor esperado de gol". É uma medida que mostra qual a porcentagem de chance de uma finalização ser convertida em gol. O cálculo é feito utilizando uma fórmula de regressão sobre uma base de finalizações do passado — ou seja, baseada em milhares de finalizações semelhantes. Com isso, tira-se uma porcentagem que aponta as chances de determinado lance acabar com a bola na rede.
Em 2016, criei o primeiro modelo de Expected Goal 100% baseado no futebol brasileiro, chamado de Quase Gol — neste link, você pode ter mais explicações a respeito. Peguei o Quase Gol e calculei a média de valor esperado de gol dos times no Brasileirão. O resto foi moleza: só cruzar o PDO dos times com suas médias de valor esperado de gol para chegarmos onde queríamos.
Na tabela de cruzamento, vemos o seguinte: Palmeiras foi o time mais sortudo e eficiente ao mesmo tempo, o que comprova que para ser campeão é necessário ter as duas coisas, sorte e trabalho. No mesmo grupo, estão Flamengo, Inter, Grêmio, Atlético-MG e Atlético-PR.
Corinthians e Ceará aparecem no grupo dos times ineficientes sortudos, aqueles que contaram mais com a sorte que com o bom desempenho, enquanto Paraná, Chapecoense e Vitória foram ineficientes azarados.
O mais interessante são os times que possuem um pouco de cada grupo, mostrando que foram bastante irregulares no campeonato e isso os prejudicou de serem competitivos. Por exemplo, o Santos, que foi 75% eficiente e sortudo e 25% eficiente e azarado. Ou o Sport Recife, que foi 70% ineficiente sortudo e 30% ineficiente azarado. Entre sorte e azar, ficou a ineficiência e o rebaixamento para a Série B.
Para 2019, vamos acompanhar mais de perto os times nos campeonatos e poderemos ver o quanto de sorte e o quanto de eficiência há em seus jogos e resultados.
Os valores utilizados nas fórmulas foram fornecidos pela InStat, maior plataforma de dados de futebol do mundo.