O último piloto brasileiro a brigar por um título mundial de Fórmula-1 foi Felipe Massa. Em 2008, ele e o inglês Lewis Hamilton duelaram até a corrida final pela glória. Mas o atual heptacampeão de F-1 levou a melhor por um ponto e conquistou seu primeiro título em Interlagos.
Quinze anos depois do ocorrido, Massa está em busca de justiça. Naquela temporada ocorreu um dos maiores escândalos da história da modalidade: o Singapuragate. Esse caso acabou influenciando diretamente na disputa do campeonato, e o brasileiro levaria o título caso a corrida de Singapura fosse cancelada.
Nesta semana, o brasileiro iniciou os trâmites para processar a Fórmula-1 por conspiração em 2008. Massa quer indenização da F-1 e da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), por entender que foi prejudicado naquela temporada.
A temporada de 2008 da F-1
Para entender todo o caso é preciso compreender o que aconteceu naquele ano. A Ferrari era a atual campeã de construtores e de pilotos, com o finlandês Kimi Raikkonen vencendo em 2007. A dupla com Massa vinha dando bons resultados e o brasileiro vivia a expectativa do título.
O campeonato teve diversas variações, com um início forte de Hamilton e Raikkonen. Massa conseguiu se recuperar e chegou ao GP de Singapura com cinco vitórias, contra quatro do piloto inglês. Porém, ele tinha um ponto de vantagem em relação ao brasileiro.
O GP de Singapura
A primeira corrida noturna da história da F-1 aconteceu no circuito de rua de Marina Bay, no dia 28 de setembro. Massa conseguiu a pole position, mas tinha Hamilton e Raikkonen logo atrás. O brasileiro conseguiu abrir boa vantagem na parte inicial da corrida, chegando a ter 3 segundos em relação ao rival inglês.
Na volta 12, o espanhol Fernando Alonso foi primeiro piloto a parar nos boxes. Duas voltas depois, seu companheiro de Renault, o brasileiro Nelsinho Piquet Jr., perdeu o controle do carro e bateu. Isso gerou um safety car e deu vantagem para quem já tinha feito parada. Massa contou com uma infelicidade da Ferrari, que se atrapalhou e deixou a mangueira de combustível presa ao carro. No fim, o brasileiro recebeu punições e terminou o GP na 13ª colocação.
O final melancólico em Interlagos
Nas últimas três corridas da temporada, o equilíbrio se manteve. Alonso venceu o GP do Japão, Hamilton, que havia terminado em terceiro em Singapura, venceu a penúltima etapa na China, com Massa em segundo.
Na última etapa, no circuito de Interlagos, em São Paulo, o inglês tinha uma vantagem de sete pontos em relação ao brasileiro. Correndo em casa, Massa dominou a corrida, fazendo a pole, a volta mais rápida e vencendo com ótima vantagem.
Até a última volta, o brasileiro estava conquistando o inédito título mundial. Hamilton estava na sexta posição, mas contou com a condição de chuva para ultrapassar Timo Glock nos momentos finais e garantir o primeiro título mundial por um ponto.
O Singapuragate
Um ano depois do GP de Singapura, o tricampeão mundial Nelson Piquet veio a público para denunciar que seu filho bateu de propósito por ordem de Flavio Briatore, então chefe da Renault, para beneficiar o companheiro de equipe, Alonso. O caso foi investigado pela FIA, que puniu os envolvidos. Briatore foi banido da F-1, embora a decisão já tenha sido revogada, e o engenheiro Pat Symonds, outro responsável pela ordem para a batida, foi suspenso por cinco anos — atualmente é o diretor técnico da F-1.
A polêmica foi revivida no início de março deste ano, quando Bernie Ecclestone concedeu entrevista ao site F1-Insider na qual admitia que ele e o então presidente da FIA, Max Mosley, estavam cientes da armação ainda em 2008, após o episódio, antes mesmo da denúncia de Nelson Piquet, feita apenas no ano seguinte.
— Tivemos informações suficientes a tempo de investigar o assunto. De acordo com os regulamentos (da época), deveríamos ter cancelado a corrida em Cingapura naquelas condições. Decidimos não fazer nada. Queríamos proteger o esporte e evitar um grande escândalo. Por isso me esforcei para convencer meu ex-piloto Nelson Piquet a manter a calma — disse Ecclestone, em referência ao período em que era chefe de Piquet na já extinta equipe Brabham.
O então chefão da F-1 admitiu que poderia ter anulado o GP por causa da manipulação da Renault.
— Naquela época, havia uma regra de que uma classificação ao Mundial após a cerimônia de premiação da FIA no fim do ano era intocável. Então, Hamilton foi presenteado com o troféu e estava tudo bem — relatou.
Caso a prova tivesse sido anulada, Massa poderia ter se sagrado campeão mundial, uma vez que Hamilton terminou em terceiro, enquanto o brasileiro foi apenas o 13º, sem somar pontos.
Ecclestone volta atrás em declaração
Com a iniciativa de Massa em processar a F-1 e a FIA, o ex-chefão da categoria alegou que não lembra da entrevista de março na qual ele disse ter descoberto o Singapuragate ainda na temporada de 2008. Foi essa declaração que motivou o brasileiro a buscar justiça.
— Eu não lembro de nada disso, para ser honesto. Certamente não lembro de dar a entrevista — disse Bernie Ecclestone à agência Reuters.