Ser uma das vencedoras do redAÇÃO ZH 2011 ajudou Bárbara Limberger Nedel, 17 anos, a ter mais confiança para encarar o vestibular. E o resultado foi o melhor possível: ela passou para Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Vinda de Frederido Westphalen, a adolescente recomenda criatividade e clareza na hora de escrever o texto. Confira a redação da Bárbara e a avaliação da professora de redação Hilaine Gregis, do Grupo Unificado:
Palmas para a lei contra as palmadas
No conto O Caso da Vara, Machado de Assis reflete a respeito das agressões com as quais as crianças do século 19 sofriam: na narrativa, uma pequena aluna recebe varadas da professora por não ter finalizado uma costura a tempo. Nos dias de hoje, embora bem mais ameno, o castigo físico ainda é visto por muitos como uma forma de impor limites às crianças. Contudo, felizmente, neste ano foi proposta uma lei que, enfim, visa proibir as palmadas pedagógicas.
Na verdade, jamais se pode afirmar que uma palmada é pedagógica. O termo "pedagogia", além de designar uma área do conhecimento, muitas vezes também conota paciência e calma, como quando se afirma que "é preciso ter pedagogia". E será que um pai ou uma mãe que agride seus filhos apresenta essas qualidades? Com certeza não. Portanto, é urgente que se aprove a lei contra a palmada, já que esta, em vez de educativa, é uma forma de violência qualificada - não há chance de defesa da vítima.
Apesar disso, muitos pais e, surpreendentemente, alguns profissionais da educação alegam que o Estado não tem o direito de interferir em um assunto tão pessoal como a criação dos filhos. Porém, isso é bastante incoerente, uma vez que absolutamente todas as decisões de um cidadão, sejam elas profissionais, sociais, pessoais, entre outras, estão submetidas a limites impostos pela Constituição. Assim, é preciso, de fato, aprovar a lei que proíbe a palmada, tendo em vista que ela sofre somente críticas infundadas.
Desse modo, caso essa emenda seja aprovada, é indispensável que os governos das três esferas do poder busquem meios para a sua efetivação. Para tanto, serão necessárias, principalmente, campanhas que conscientizem a população da importância de se evitar e, em especial, denunciar os casos de agressão a menores. Somente assim será possível tornar ultrapassada a realidade que Machado de Assis retratou em O Caso da Vara.
Confira o comentário da professora de redação Hilaine Gregis, do Grupo Unificado, sobre o texto de Bárbara:
Esta é uma redação que, além de apresentar uma excelente estruturação de parágrafos (tanto no aspecto formal quanto semântico) e uma argumentação consistente, salienta-se pela originalidade - critério difícil de ser atendido em provas e concursos, em que o aluno (ou candidato) dispõe de pouco tempo para escrever. Na redação da Bárbara, percebemos esse esforço pela autoria já no título, com o criativo jogo de palavras ("palmas" e "palmadas"), bem como na adequada referência literária exposta na introdução e retomada com propriedade no fechamento no texto.
Cabe destacar que essa intertextualidade é bem-vinda se, e somente se, o aluno demonstrar habilidade de articular as ideias, convencendo o leitor de que as informações expostas realmente contribuem para uma maior compreensão do seu ponto de vista - é o que garante a concretude na redação. Caso contrário, o aluno pode valer-se simplesmente de seu conhecimento de mundo e, inclusive, de suas experiências pessoais, pois o mais importante é que o texto apresente, primordialmente, clareza e coerência na exposição dos argumentos.
Palmas, então, para o texto da Bárbara, que conseguiu demonstrar de forma convincente todos esses quesitos, responsáveis, juntamente com a adequação linguística, pelo seu resultado de sucesso.
*Publicado em 19 de outubro de 2011.