A palestra de uma delegada da Polícia Civil precisou ser interrompida por conta de um desentendimento no Colégio João XXIII, na zona sul de Porto Alegre, na manhã de terça-feira (27). Chamada de Papo Responsa, a iniciativa leva agentes às escolas gaúchas para abordar temas como a prevenção à violência e o papel do policial na sociedade. Devido à repercussão do caso, a Polícia Civil fará apuração para esclarecer o ocorrido.
A servidora que palestrou para os estudantes foi a delegada da Polícia Civil Patrícia Sanchotene Pacheco. A coordenadora estadual do Programa Papo de Responsa RS já havia se envolvido, anteriormente, com problemas. Isso porque um vídeo mostrou a então Delegada de Turismo discutindo com um brigadiano que prendeu dois torcedores antes de uma partida do Internacional. Na conversa com estudantes, a conduta da delegada causou estranheza.
Segundo a direção da escola, foi realizada uma conversa prévia com a organização do programa, acertando os assuntos que seriam abordados no encontro que contou com a presença de 150 alunos de cinco turmas. Porém, os acertos não foram levados em consideração pela servidora que se portou “totalmente contrária à proposta pedagógica da escola”. Além disso, Patrícia teria se irritado com o comportamento de alguns alunos.
— Em diferentes momentos, foram observadas atitudes extremamente desrespeitosas com os nossos estudantes, inclusive com dois que são autistas. Ela (delegada) ia pra cima dos estudantes com o dedo, como polícia lidando em situações de estresse, em abordagens da rua. Ela ia para cima desses estudantes dizendo “tu vai trocar de lugar, tu vai sair daqui”, em um contexto e postura de polícia violenta, que era o que a gente queria desfazer (com a atividade) — diz Letícia Araújo, orientadora pedagógica.
Fora isso, acrescenta a profissional, foram observadas falas “extremamente inadequadas” durante a palestra da delegada.
— Não estamos falando de abordagens em ambientes externos, mas de uma abordagem dentro de um espaço educativo, que permeia valores de humanidade, de respeito, de diversidade. As falas dela têm, inclusive, um cunho racista explícito, quando diz a um estudante que ele não estava em um pagode do Zeca Pagodinho, porque ela entendeu que esse estudante estava conversando demais.
A atividade foi interrompida pela orientadora pedagógica após uma hora. Letícia diz ter sido alvo da servidora devido ao encerramento do encontro.
— Ela começou a gritar comigo, veio com ofensas pessoais, me ameaçando. A delegada fomentava a violência o tempo todo, ameaçava o tempo todo e a postura corporal dela mostrava uma condição de “superioridade” — completa.
A direção da Escola diz que informou o episódio à Polícia Civil e que deve se reunir com a corregedoria da instituição na quarta-feira (28). Além disso, assegura que “está tomando as medidas legais cabíveis, bem como oferecerá todo o suporte aos/as estudantes e à profissional que foram constrangidos, intimidados e desrespeitados”.
Polícia Civil vai apurar o ocorrido
Em nota (na íntegra no fim da matéria), a Polícia Civil do Rio Grande do Sul informa que tomou conhecimento do ocorrido e que irá apurar internamente as condutas sinalizadas pela instituição de ensino.
"A Polícia Civil reforça o seu compromisso de manter um diálogo saudável e permanente com alunos, professores e as comunidades escolares do Estado, sempre respeitando as diretrizes pedagógicas, sendo o programa Papo de Responsa uma das principais ferramentas para esse fim" consta na nota da instituição.
Ainda na manifestação, a Polícia Civil se colocou à disposição da direção do Colégio João XXIII para o que se fizer necessário.
A reportagem tentou contato com a delegada Patrícia Sanchotene Pacheco, porém não obteve retorno até a publicação da reportagem.
Confira nota da Polícia Civil na íntegra
No tocante ao relato envolvendo a participação do programa Papo de Responsa no Colégio João XXIII, em Porto Alegre, a Polícia Civil do Rio Grande do Sul informa que tomou conhecimento e que irá apurar internamente as condutas sinalizadas pela instituição de ensino.
A Polícia Civil reforça, ainda, o seu compromisso de manter um diálogo saudável e permanente com alunos, professores e as comunidades escolares do Estado, sempre respeitando as diretrizes pedagógicas, sendo o programa Papo de Responsa uma das principais ferramentas para esse fim.
Desde já, a Polícia Civil coloca-se à disposição da Direção do estabelecimento de ensino para o que se fizer necessário, com o respeito e transparência necessárias.