Em meio a um panorama de incertezas, receio por parte das famílias e até mesmo uma "greve sanitária" comandada pelo Sindicato dos Municipários (Simpa), a Secretaria Municipal de Educação (Smed) de Porto Alegre organiza-se para que, na próxima segunda-feira (19), todas as escolas da rede municipal e comunitária estejam abertas. A pasta ressalta que o município autorizou o retorno das atividades letivas, tanto na Educação Infantil quanto para parte do Ensino Fundamental. Desde o início deste mês, a prefeitura promove o retorno das aulas infantis, mas a baixa adesão de pais e a contrariedade entre professores têm atrasado o processo.
Para o Simpa, que convocou greve entre os servidores da rede municipal de ensino para a partir de segunda-feira, não há segurança sanitária para alunos e professores retomarem as atividades. Já a secretaria estabeleceu protocolos e garante que é possível receber as crianças com segurança nos espaços públicos.
A reportagem circulou nesta semana por duas escolas infantis municipais, as Emeis. No bairro Rubem Berta, Zona Norte, a visita foi na Emei Santo Expedito, enquanto no bairro Santa Tereza, Zona Sul, a Emei Osmar dos Santos Freitas recebeu a equipe.
Conforme a direção de ambas instituições, elas não devem aderir à greve sanitária. Na Santo Expedito, a volta às aulas deve ocorrer até a quinta-feira, enquanto na Osmar Freitas, as atividades serão retomadas já na segunda-feira. Ambas escolas consultaram pais e responsáveis por meio de pesquisas online sobre o retorno das aulas mais de 95% das famílias não demonstraram interesse em levar os pequenos ao local.
- Conforme os dias forem passando e os pais forem sentindo segurança na retomada, pode ser que o número de alunos aumente. Nós temos cerca de 170 alunos, mas menos de 30 devem retornar - arrisca a diretora da Santo Expedito, Lia Fernanda Fadini.
Mudanças
O espaço que ela dirige, aliás, só reabriu na quarta-feira, pois a diretora estava com o covid-19 e precisou ficar afastada do trabalho. Durante a visita da reportagem, equipes de limpeza atuavam no espaço onde serão servidas as refeições para as crianças. Somente uma turma por vez irá ao local. Além disso, os alunos só poderão interagir, em todos os momentos, com coleguinhas da própria turma. Dentro das salas de aula não há grandes mudanças, além da instalação de pias e redução no número de brinquedos disponíveis. As crianças não terão obrigatoriedade de usar máscaras, somente os professores.
No Marzico, como é conhecida a Emei Osmar Freitas, a diretora da instituição, Maria Alice Castilho da Silva, explica que será um desafio atender aos alunos em turno integral, já que parte dos educadores não retornou ao trabalho por fazer parte dos grupos de risco da covid-19.
- Os Jardins A e B, por exemplo, terão apenas um educador por turno. É um desafio retomar as aulas agora, quando ainda há risco de contaminação para alunos e para os educadores - aponta Maria Alice, que trabalha há nove anos na comunidade.
Prefeitura garante segurança para a volta
A Smed explicou à reportagem, em nota, que há segurança para o retorno dos trabalhos, pois isto foi indicado pelos serviços de saúde. Conforme a pasta, a partir da próxima segunda, todas as escolas das redes municipal e comunitária deverão estar abertas, "já que estarão autorizadas atividades letivas tanto na Educação Infantil quanto no Ensino Fundamental".
A secretaria ainda disse que se houver falta de professores, eles "poderão ser substituídos por professores temporários. A contratação emergencial foi autorizada pela Câmara de Vereadores antes mesmo da pandemia." Questionada sobre os protocolos para os casos de coronavírus que surgirem nas instituições, a Smed disse que as orientações da prefeitura disponíveis no site prefeitura.poa.br/coronavirus/volta-aulas devem ser seguidas.
Nas estaduais, falta de equipamentos e funcionários
Marcada para a próxima terça-feira, a volta às aulas presenciais para o Ensino Médio e Técnico da rede pública estadual ainda gera incerteza na comunidade escolar. O relato de diretores ouvidos pela reportagem é de que os equipamentos de proteção individual (EPIs) ainda não chegaram e não houve reforço nas equipes de limpeza.
Na quinta-feira, a reportagem foi a 15 escolas estaduais em Porto Alegre para verificar se as adaptações sanitárias já tinham sido realizadas. Oito estavam completamente fechadas. Nas sete em que havia funcionários, os diretores disseram que ainda não haviam recebido todos os materiais.
Na escola de Ensino Médio Odila Gay da Fonseca, no bairro Ipanema (Zona Sul), o diretor Robson Silva recebia parte dos produtos de limpeza enviados pela Secretaria Estadual da Educação (Seduc) por volta das 15h. Chegaram álcool, água sanitária e outros produtos. Mas faltaram os tapetes sanitizantes, que deveriam ter sido enviados, e os EPIs. Além disso, o diretor ressalta a equipe reduzida de funcionários:
- Nossa escola é muito grande, ocupa todo um quarteirão, com mais de 1,2 mil alunos. É praticamente duas escolas em uma. Com isso, já tínhamos dificuldade de pessoal, tanto de limpeza como de secretaria. Com a pandemia, a situação agravou mais. Mais de 60% da nossa equipe faz parte do grupo de risco, então estamos esperando um reforço.
No Colégio Estadual Afonso Emílio Massot, na Azenha, também não há EPIs e a equipe reclama que há muitos servidores no grupo de risco para o coronavírus. A escola instalou um quadro de aula no pátio, a pedido dos professores. Fora isso, não há nenhuma adaptação para receber alunos.
A Seduc reconhece que a logística para o envio de materiais às escolas é complexa, por envolver um número grande de instituições, mas que segue o planejamento para que aconteça até o retorno das aulas presenciais. Caso alguma instituição não tenha recebido, não estará autorizada a receber alunos.
Sobre a falta de funcionários, a Seduc informou que possui um banco de cadastros e que está contratando professores e servidores de apoio mediante a necessidade da nova realidade e demanda de alunos.