Paralisado há mais de 40 dias, o sistema de ensino continua sem sinais de retomada no Rio Grande do Sul. Um decreto estabelecendo mais um período de suspensão será publicado nesta quinta-feira (30), aumentando a apreensão de pais, alunos e professores sobre a conclusão do ano letivo.
Embora tenha proposto um plano de distanciamento controlado, o governo gaúcho deverá manter a suspensão unificada nas redes municipais, estadual e privada, contrariando demanda de escolas particulares. Representantes do setor pedem a volta às aulas em municípios sem casos confirmados.
— A educação deverá ser uma das últimas atividades a retornar — advertiu o secretário da Educação do RS, Faisal Karam.
Esta incerteza na data de reabertura desperta dúvidas sobre a organização do calendário escolar. Para assegurar que todo o conteúdo do ano seja repassado aos estudantes, aulas aos sábados, períodos suplementares e até a ampliação do ano letivo para 2021 não estão descartados.
— Hoje, é como se estivéssemos caminhando em meio a uma neblina. Só podemos dar passos curtos. Fazer uma previsão a longo prazo? Impossível — admite o presidente do Sindicato do Ensino Privado do Estado (Sinepe-RS), Bruno Eizerik.
Por enquanto, sabe-se que parte do transtorno será contornado pelas teleaulas. Na terça-feira (28), o Conselho Nacional de Educação autorizou que escolas e faculdades considerem atividades remotas no cumprimento da carga horária. Antes, o Ministério da Educação já havia suspendido a obrigatoriedade de 200 dias letivos requeridos em lei, mantendo a necessidade de 800 horas nos ensinos fundamental e médio.
Para a rede particular, a validação dos trabalhos em casa não deverá ser um problema. A imensa maioria — 97,4%, segundo o Sinepe-RS — adotou o uso de plataformas online e aplicativos. Nas escolas públicas, contudo, o desafio será maior.
Em vulnerabilidade social, parte dos alunos das redes municipais e estadual não têm acesso à internet. Por isso, cada professor tem usado seu próprio método – livros, cadernos, grupos de WhatsApp, páginas no Facebook e blogs –, enquanto a Secretaria da Educação do RS é cobrada para unificar processos.
Autor de projeto de lei que pede um plano para o ano letivo estadual, o deputado Gabriel Souza (MDB) sugere o emprego de um aplicativo padronizado, a distribuição de chips aos alunos e a utilização da estrutura da TVE, o canal público de TV aberta do RS, para aulas:
— Estamos há quase 45 dias parados. Ninguém imaginou que isso aconteceria, mas, a partir de agora, precisamos de um planejamento padronizado, especialmente para atender aos estudantes mais vulneráveis.
Lacunas na aprendizagem
Há consenso entre especialistas que o ensino remoto não substitui o presencial, mas, ao menos, contribui para minimizar os danos causados pela suspensão das aulas. Para o diretor de políticas públicas do Todos Pela Educação, Olavo Nogueira Filho, o afastamento do ambiente escolar deixará sequelas que precisam ser amenizadas mesmo à distância.
— Por mais consistente que seja a estratégia, ela deixa lacunas enormes na aprendizagem e na saúde emocional de alunos e profissionais. É fundamental que haja esforços para mitigar esses impactos, mantendo rotina e senso de estabilidade frente a um momento muito incerto – analisa Nogueira.
Enquanto lidam com a indefinição sobre o calendário escolar, pais e alunos da rede particular têm reivindicado descontos nas mensalidades. Mesmo sem uma diretriz clara sobre o tema, metade das escolas privadas do Estado já ofereceu reduções para evitar a inadimplência e manter os alunos matriculados, de acordo com o Sinepe-RS.
— Ninguém chega na padaria e pede para pagar menos por causa da crise. Luz e água representam muito pouco no custo de uma escola, e grande parte teve de investir em plataformas digitais — afirma o presidente da entidade, Bruno Eizerik.
O dirigente garante que as instituições estão sensíveis à crise e propondo negociações. Creches, escolas e universidades abriram canais com o público para discutir individualmente a necessidades econômica de cada um.
— A escola conhece a realidade de suas famílias, e a análise caso a caso é possível. Mas, antes de oferecer desconto, precisa ter consciência de seu custo porque, um dia, irá reabrir – diz Rejane Selistre, da diretoria do Sindicreches.