Lado a lado com os trabalhadores, os estudantes de todas as idades estão entre os grupos que mais perceberam o impacto da pandemia de coronavírus nas suas rotinas. De um dia para o outro, crianças, jovens e adultos se viram obrigados a aprender usando seus celulares, tablets, computadores e notebooks. Da Educação Infantil à pós-graduação no Ensino Superior, é como se, agora, todos fossem alunos de EAD em potencial. Para quem já era adepto desse modelo, pouco muda, mas muitos estão conhecendo, na prática, como funciona o ensino a distância - mesmo estando matriculados na educação presencial.
A mudança é mais significativa para alunos da rede privada, que pagam mensalidades - o que leva a muitos questionamentos sobre a manutenção desses pagamentos -, e bem menos frequente no ensino público. Apesar de o Ministério da Educação (MEC) ter autorizado a substituição de aulas presenciais das instituições federais de ensino pelo formato de ensino a distância, mantendo a mesma equivalência, algumas universidades, especialmente as federais, se manifestaram contra essa substituição. A alegação é de que, entre outras questões, nem todos os alunos têm acesso a dispositivos tecnológicos e acesso à internet de qualidade.
Para quem tem essa possibilidade, as muitas adaptações promovidas na vida escolar remetem a muitas dúvidas de pais, alunos e até de professores e gestores educacionais. Como adaptar um ambiente em casa para as aulas? É preciso criar uma rotina rígida de estudos? De que maneira promover as aulas remotas? É preciso pagar o mesmo valor da mensalidade mesmo sem ir à escola ou à faculdade? Posso negociar um desconto sem perder a vaga?
— Os desafios são imensos! Se adaptar a esta realidade, conviver com as notícias pesadas e manter o foco para estudar e produzir. O aprendizado de conteúdos novos sem as aulas presenciais também é um desafio a enfrentar. Mas, como vantagens, posso apontar a familiaridade maior com as técnicas de ensino a distância, a organização que o aluno está tendo que desenvolver para realizar as atividades — avalia Analice Marques Bolzan, mãe de Lorenzo Bolzan Ciulla, 14 anos, aluno do 9° ano do Ensino Fundamental em uma escola particular de Porto Alegre.
Analice revela algumas preocupações sobre o aprendizado em meio à pandemia que impõe o isolamento social, e espera que, mesmo sem aulas presenciais, o filho consiga aproveitar da melhor forma os conteúdos e atividades apresentadas pela escola, que não "perca o ano" - uma preocupação constante dos pais -, que consiga recuperar os conteúdos necessários quando as lições forem retomadas dentro da escola e que tudo isso passe como uma experiência positiva para Lorenzo, na esperança de que ele tire muitos aprendizados dessa vivência.
Na mesma situação encontra-se o servidor público Sérgio Simioni em relação ao filho, Tomás de Mesquita Simioni, estudante do 2° ano do Ensino Médio que completa 17 anos na próxima segunda-feira. Em um primeiro momento, desde o primeiro dia sem aula presencial, 17 de março, a percepção era de que o filho lidava com a situação como se estivesse em férias. Em um segundo momento, houve a etapa de conscientização.
— Na terceira etapa, a atual, o Tomás passou a definir e executar melhor a rotina, realizando mais tarefas, lendo conteúdos publicados e assistindo às aulas ao vivo ou gravadas. A expectativa é que se mantenha atento à rotina proposta pelo colégio. Entendo que as ferramentas apresentadas pela tecnologia da informação oferecem diversas possibilidades de ensino, mas a construção do conhecimento, com toda a riqueza e diversidade humana, é muito mais abrangente no ambiente escolar — relata Sérgio.
Também aluno do 2° ano do Ensino Médio, João Enrique Rego Cairuga, 16 anos, relata que está se adaptando progressivamente à rotina de estudar em casa. A mãe, Rosana Cairuga, que trabalha na mesma escola onde o filho estuda, explica que valoriza o trabalho dos professores e sabe do seu empenho, mesmo quando muitos deles nunca antes tinham trabalhado com gravação de vídeos e atendimento escolar remoto. Para João, a comunicação com os docentes, por meio de um aplicativo que inclui espaço para envio de materiais e um fórum de mensagens, tem funcionado.
— Isso exige adaptações, claro. Podemos encaixar melhor nas nossas próprias preferências. Eu, por exemplo, com as aulas na quarentena, não sigo tão rigidamente os horários, não acordo tão cedo e durmo um pouco mais tarde — conta o estudante.
Já a professora Vanessa Vargas Avila, mãe de Arthur, nove anos, e Carolina, 14, estudantes do 4° e do 9° do Ensino Fundamental em uma escola particular na Capital, conta que muitas dúvidas surgem, mas as aulas a distância têm dado certo. Ela mesma fez uma pós-graduação a distância na área de educação e orientou os filhos sobre maneiras de aproveitar esse aprendizado em casa.
— São vivências que eu, como estudante, tive e, como professora, aprimorei. Organizo assim: de manhã, eles podem dormir, brincar, fazer o que quiserem. À tarde, depois do almoço, temos um bom horário de estudos, uma espécie de recreio, e depois mais um período de aulas, que é maior para a Carol. O comprometimento está tendo 100%, um período de grande valia e aperfeiçoamento para todos nós. É muito cansativo para o pai e a mãe, e o desafio maior é a organização disso tudo, mas a gente vai levando bem — descreve Vanessa.
Para sanar algumas das dúvidas sobre a manutenção da educação que surgem durante a quarentena, a reportagem de GaúchaZH ouviu pais, alunos e entrevistou professores, diretores, representantes de creches, escolas e universidades, além de especialistas em direito do consumidor, para preparar este guia sobre a educação em tempos de pandemia. Confira neste link as perguntas e respostas.