Pacientes com diabetes tipo 2 precisam ter atenção redobrada. O estudo "Quando o Diabetes Toca o Coração", divulgado nesta sexta-feira (19) pela Novo Nordisk – empresa focada no tratamento da enfermidade – mostrou que 80% dos diabéticos desse tipo apresentavam, pelo menos, um sintoma indicativo de comprometimento cardíaco, como tontura, dores no peito e nas pernas. Dois dos sintomas apareciam em 52% dos entrevistados. Segundo a Associação Americana de Diabetes, duas a cada três mortes de pacientes estão ligadas a doenças cardiovasculares.
O levantamento foi realizado entre maio e junho deste ano com brasileiros das cinco regiões do país. Foram colhidas respostas de 1.439 indivíduos com idade média entre 47 e 55 anos, sendo 828 deles sem diabetes e 611 com a enfermidade. No Brasil, 12,5 milhões de pessoas sofrem da doença, segundo dados do Ministério da Saúde de 2017, e, deste montante, 90% dos casos identificados são do tipo 2.
A doença provoca o desequilíbrio dos níveis de açúcar do sangue e pode se manifestar de duas formas. Na primeira, o organismo não produz insulina, que é o hormônio responsável por levar a glicose da corrente sanguínea para as células. Na segunda, o corpo até produz insulina, mas não consegue utilizá-la de maneira apropriada: ele torna-se resistente a ela, e isso acarreta o aumento da quantidade de açúcar no sangue.
Somada aos níveis descontrolados de glicose, essa incapacidade de produção da substância faz com que o corpo entre em estado de inflamação. O cenário favorece o surgimento de placas de gordura e aumento do colesterol ruim, coibindo o fluxo sanguíneo e aumentando os riscos cardiovasculares.
Todas essas informações parecem não ser de conhecimento comum dos diabéticos. A pesquisa realizada trouxe à tona que os pacientes não estão inteirados sobre as consequências da doença. Apenas 36% dos entrevistados fizeram a relação entre esta doença e insuficiência cardíaca, e 25% não sabiam dizer que o diabetes poderia causar risco de infarto.
Doença silenciosa acaba minimizada
Jung Hoon, gerente médica da Novo Nordisk, avalia que os pacientes minimizam a gravidade da doença.
— Ela é silenciosa, não causa dor. Por isso, a tendência é que outras moléstias sejam consideradas mais graves. Porém, o diabetes é terceiro maior agente causador de mortes no Brasil na população acima dos 60 anos — diz a médica se referindo a um dado, de 2017, do Ministério da Saúde.
Ela acredita que dois fatores contribuem para a escassez de informações sobre o tema:
— Antigamente, as evidências sobre a conexão entre esses dois problemas não eram tão explícitas, a evolução em pesquisas que fazem essa ligação é recente na historiografia da medicina. A falta de diálogo entre o médico e paciente também contribui. O nosso papel é informar, é passar dados consistentes às pessoas.
Para 60% dos indivíduos com diabetes tipo 2 entrevistados, o médico transmitiu informações insatisfatórias ou sequer mencionou as questões relacionadas ao coração na última consulta. E, embora 62% destes pacientes tenham sido diagnosticados há pelo menos cinco anos, 90% deles alegam que ainda sentem falta de informações durante o tratamento, destacou o médico e coordenador do estudo, Carlos Couri:
— A grande mensagem deste informe é que precisamos da colaboração ativa da classe médica. Temos uma grande lacuna de comunicação e instrução dos pacientes. É preciso ter em mente que cada consulta é uma minipalestra.
Números
- 90% dos diabéticos alegam que sentem falta de mais informações durante o tratamento.
- 64% das pessoas com diabetes não seguem o tratamento.