Um novo procedimento para controlar o diabetes foi aprovado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Em resolução divulgada na quinta-feira (7), o CFM autoriza a cirurgia bariátrica para diabéticos que não responderam bem aos tratamentos medicamentosos.
Com recomendações bem específicas, a cirurgia só pode ser indicada para pacientes com diabetes mellitus tipo 2 que tenham índice de massa corpórea (IMC) entre 30 kg/m2 e 34,9 kg/m2. Eles devem ter idade mínima de 30 anos e máxima de 70 e diagnóstico definido há menos de 10 anos. Embora promissora, a medida ainda requer cautela, pois não são todos os pacientes que podem se beneficiar.
— O que já tem de trabalhos na literatura, diz respeito aos casos de diabetes com menos de cinco anos. Para eles, a cirurgia funciona bem. Quando se faz o procedimento com mais de cinco anos de diagnóstico, há uma melhora transitória e, depois de um tempo variável, a doença reaparece — diz o diretor do Departamento de Cirurgia de Obesidade e Metabólica da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), Mario Carra.
Em um documento assinado pela SBD, Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) e Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), as entidades reconhecem os benefícios do procedimento como uma alternativa aos tratamentos clínicos, mas apontam dificuldades para definir quais casos podem obter êxito. Sbem e Abeso ainda não têm uma posição formal sobre o assunto.
Mesmo com essas incertezas, a endocrinologista membro da Sbem Luciana Lopes destaca que todos os estudos feitos até então apontaram significativa melhora no quadro dos pacientes. Apesar disso, ela deixa claro que a decisão de indicar a cirurgia não é fácil:
— É uma opção que tem que ser muito estudada. O paciente deve ter acompanhamento há, pelo menos, dois anos para que o especialista indique o procedimento.
Peso ainda é a peça-chave para controle da doença
Feito da mesma forma da bariátrica para obesos, o procedimento faz alterações no estômago e intestino, reduzindo a reserva estomacal e melhorando a parte metabólica do organismo. Com isso, o paciente pode reduzir ou eliminar os medicamentos para essa doença. Contudo, terá que consumir outras drogas para suprir possíveis carências vitamínicas provocadas pelo procedimento:
— Ao invés de a pessoa tomar remédios de diabéticos, tem que tomar vitaminas e minerais que deixam de ser absorvidos — explica Carra.
Além do uso de medicamentos, o controle do diabetes está intimamente associado ao peso, o que também explicaria a melhora dos pacientes que se submetem à bariátrica.
— A doença é uma comorbidade relacionada à obesidade — destaca Luciana.
Para entrar em vigor, a resolução precisa ser publicada no Diário Oficial da União.
A doença
Acidente vascular cerebral, síndrome coronariana, insuficiência renal e cegueira são as maiores consequências do diabetes, doença crônica alçada ao status de epidemia no mundo inteiro. Só no Brasil, são cerca de 14,3 milhões de diabéticos e a estimativa não é nada boa: para 2040, espera-se atingir a marca de 23,3 milhões, conforme o CFM.
O procedimento no SUS
A cirurgia bariátrica pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é ofertada apenas para pacientes com IMC acima de 35 kg/m2. A assessoria de imprensa do SUS informou que não há indicação clínica para realização do procedimento em pacientes com IMC inferior a este.