Sob nova gestão, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) passou a abrigar no gabinete da reitoria, na última segunda-feira (23), os primeiros reitora e vice-reitor da história da instituição a serem escolhidos de forma paritária – com o mesmo peso para votos de professores, técnicos-administrativos e estudantes. Entre os desafios, estão melhorar a infraestrutura antiga dos prédios, combater a evasão de estudantes e se tornar referência em pesquisas ligadas a mudanças climáticas.
O ineditismo da eleição deixa marcas nos planos de Marcia Barbosa e Pedro Costa para os próximos quatro anos: ações como a presença da dupla em todas as formaturas e a retirada das grades do Campus Centro reforçam a busca por uma aproximação da comunidade universitária.
— Havia grades internas na UFRGS que prejudicavam a locomoção das pessoas internamente. A abertura de portas para que as pessoas se locomovam de um prédio para o outro com mais facilidade e tenham mais acesso à própria reitoria, bem como a abertura das portas da reitoria, são ações simbólicas que já fizemos. Os espaços, de começo, já estão mais amplos e acessíveis. Tentamos passar essa informação de que essa administração vai participar de todas as reuniões dos conselhos e das formaturas — relata a reitora.
Com centenas de edificações, a maior universidade do RS possui uma estrutura antiga que necessita de atualização. Mesmo antes de ser nomeada, Marcia já visitou o Ministério da Educação (MEC) para entender as rubricas de alguns recursos transferidos para a universidade e o Ministério da Saúde para apresentar a proposta de um evento junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A ideia foi aprovada e as atividades acontecem em março.
— A nossa capacidade de investimento por meio do orçamento da União é baixa. Então, estamos conversando, captando, buscando emendas parlamentares para reforçar o orçamento da universidade e buscando projetos, porque 5% do financiamento de projetos pode ser utilizado em outras coisas. Por isso, estamos preocupados em transformar o fluxo desses projetos dentro da universidade, tornando-os mais fáceis — sinaliza Marcia.
Um exemplo dado pela reitora é um projeto de circunavegação do Polo Sul, coordenado pelo professor Jefferson Cardia Simões, que terá 5% do orçamento destinado à recuperação de estruturas debilitadas da universidade.
— Ao mesmo tempo em que faremos algo absolutamente disruptivo, que é uma viagem em volta do Polo Sul para pesquisar a vegetação e os impactos climáticos naquela região, poderemos captar recursos para melhorar um pouco a infraestrutura da universidade — observa a gestora.
Necessitando de grandes reformas há anos, o Instituto de Artes ainda não tem um destino certo. A ideia é que parte das atividades sejam levadas para o antigo prédio da Medicina, localizado na esquina da Rua Sarmento Leite com a Avenida João Pessoa. Esse local, entretanto, também precisa de obras.
— Eu vejo que uma fonte potencial de captação para fazer as reformas necessárias nesse prédio seriam ou recursos da Lei de Incentivo à Cultura, ou emendas parlamentares, e aí já vou provocando a nossa bancada gaúcha, que precisa nos ajudar a retomar esse prédio maravilhoso, mas muito debilitado. Imaginem vocês entrando por aquela escadaria maravilhosa para assistir concertos naquele belíssimo prédio — vislumbra Marcia, destacando que a intenção é transformar o Centro em uma região cultural, por meio dos espaços da UFRGS lá instalados.
Novidades administrativas
Mudanças na estrutura administrativa da universidade já estão sendo trabalhadas internamente. Um grupo de trabalho atua na elaboração de um projeto para a Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade, área que, hoje, tem status de coordenadoria. A proposta será encaminhada ao Conselho Universitário (Consun), órgão máximo deliberativo da instituição, que tem a prerrogativa de autorizar ou não a criação de pró-reitorias.
Outra comissão trabalha na criação da Secretaria Especial de Emergências Climáticas e Ambientais. Além disso, deve ser implementada uma Coordenadoria de Educação Básica, vinculada à Pró-Reitoria de Graduação, ambas novidades dependem de sinalização positiva do Consun. A gestão ainda formulará um regimento interno da reitoria, que hoje não existe, já com essas atualizações na estrutura.
Além de vice-reitor, Pedro Costa, que é professor associado da Escola de Administração, será pró-reitor de Coordenação Acadêmica e pró-reitor de Planejamento e Controladoria. No processo de transição de uma gestão da reitoria para a nova, descobriu que a hierarquia administrativa da instituição precisa ser reorganizada, para acabar com a disparidade de distribuição de setores e funções gratificadas. Também se envolverá em um grupo de trabalho que tratará das interações acadêmicas.
— As interações acadêmicas são processos internos em que há essa relação da universidade com a sociedade, como projetos de pesquisa e extensão, e movimentação financeira, eventualmente, entre empresas e órgãos públicos. É um processo fundamental que ainda tem entraves internos. Ele é muito burocratizado e a gente quer trabalhar nele — pontua o vice-reitor.
Buscando reduzir custos e atualizar o funcionamento da instituição, os novos gestores pediram estudo comparativo dos gastos que a universidade tem hoje mantendo uma frota de veículos própria, para avaliar uma mudança para serviços terceirizados, e trabalham no avanço do uso de energia solar em seus prédios.
— Queremos trabalhar algumas possibilidades para rapidamente fazer uma conversão energética, porque isso tem um custo muito significativo para a universidade e um impacto ambiental forte, e temos que dar esse exemplo. A piscina que temos no Campus Olímpico da Esefid (Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança), por exemplo, tem um custo de energia fantástico para se manter aquecida 24 horas por dia, e o telhado de lá, muito provavelmente, suporta as placas solares — sinaliza Costa.
O gasto da UFRGS com energia é de R$ 57 milhões por ano. Parcerias com empresas privadas também são aventadas pela dupla, que acena com a possibilidade de a instituição participar de processos experimentais que, gradualmente, tragam mais sustentabilidade e autonomia energética para a universidade.
UFRGS em Caxias do Sul
Anunciado pelo ministro da Educação, Camilo Santana, a campus a ser implantado em Caxias do Sul não é confirmado por Marcia.
— Não dá para dizer que vai ter (UFRGS em Caxias): o que dá para dizer é que nós ficamos animados com o espaço que vimos e com ânimo da cidade em tentar fazer isso acontecer. Há um desejo muito grande do governo federal de trazer para aquela região algo com a qualidade das coisas que fazemos na UFRGS, mas estamos recém entrando. Eu peço muita paciência, porque estou indo o mais rápido possível — garante a reitora.
A gestora diz que tudo será feito da maneira como a UFRGS sempre faz: “baseada em evidências”. Em outubro, por exemplo, será aplicado um questionário em turmas de 2º e 3º ano do Ensino Médio da região para entender que tipo de cursos os jovens têm interesse. Também ocorrerão visitas ao setor empresarial, e serão levados em conta dados de empregos e demandas mercadológicas da Serra.
— A boa nova é que, diferentemente do resto do Estado, Caxias tem muitas crianças. Não faria sentido trazer formação universitária para um lugar que não tem garantia de ter demanda para formar jovens por bastante tempo — salienta a reitora.
Um comitê está sendo escolhido para fazer o estudo de viabilidade da implementação do campus em Caxias do Sul. O trabalho final do grupo, que incluirá os cursos a serem oferecidos, será enviado ao Consun. Depois disso, se dará a negociação da compra do espaço que abrigaria a UFRGS.