Na reta final do processo de escolha dos novos integrantes da reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), alunos, professores e técnicos-administrativos assistiram, nesta quarta-feira (10), ao último debate oficial antes da consulta à comunidade, marcado para segunda-feira (15). O evento, realizado no Salão de Atos, contou com a participação das três chapas – todas elas com candidatas mulheres a reitora e candidatos homens a vice-reitor.
O encontro aconteceu após decisão judicial que pôs fim à incerteza sobre o formato e a própria realização da consulta. Duas sentenças determinaram a anulação da paridade – ou seja, a previsão de mesmo peso para os votos de professores, alunos e técnicos-administrativos – na consulta à comunidade, obrigaram a instituição a dar acesso aos mecanismos que viabilizam essa parte do pleito. O resultado da consulta deve ser entregue ao Conselho Universitário, órgão máximo deliberativo da universidade, que fará uma nova votação restrita a seus conselheiros e encaminhará esse último resultado ao Ministério da Educação, que tem o condão de escolha dos novos nomes para a reitoria.
Apesar do impasse judicial recente, o debate aconteceu, na maior parte do tempo, em clima de harmonia entre as chapas – nos momentos em que algum apontamento foi feito de um lado para o outro, as críticas mantiveram o tom de colegas que, seja o resultado que for, seguirão convivendo nos corredores da UFRGS.
O evento foi organizado em cinco blocos: o primeiro de apresentação, o segundo com questões livres de uma chapa para a outra, o terceiro com perguntas entre chapas sobre assuntos pré-selecionados, o quarto com questionamentos das três categorias – alunos, professores e técnicos administrativos – sorteadas e o quinto com as conclusões dos candidatos.
Chapa 1
Formada por Liliane Giordani e Carlos Alberto Gonçalves, a chapa 1 aproveitou o bloco livre para perguntar à chapa 2 sobre sua opinião sobre programas como o Future-se, lançado em 2019 pelo governo federal, que abria possibilidades de captação de recursos próprios pelas instituições federais de Ensino Superior. A aspirante a reitora aproveitou para dizer que os dois são "absolutamente defensores do financiamento público da universidade".
A dupla defendeu, ainda, a melhoria das casas do estudante e dos restaurantes universitários da instituição, assim como a ampliação de seu horário de funcionamento, e ressaltou a importância de garantir a acessibilidade e políticas de permanência de alunos com necessidades especiais na UFRGS.
Nas questões elaboradas por estudantes, docentes e técnicos administrativos, a chapa 1 destacou a necessidade de melhorar a relação da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) com os alunos, a previsão de que o departamento de promoção da saúde forme servidores para identificar problemas de saúde mental e os encaminhe para os serviços competentes e a criação de uma Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas, que discuta em Brasília e com as unidades acadêmicas sobre a forma como as vagas abertas na universidade são distribuídas.
Chapa 2
Formada por Ilma Brum e Vladimir Nascimento, a chapa 2 perguntou à chapa 3 sobre suas propostas para residências uni e multiprofissionais. Em sua réplica, o aspirante a vice-reitor destacou que a instituição tem 15 residências multiprofissionais, e que algumas têm tido suas vagas encolhidas. A dupla defende que haja uma atenção maior à residência pela UFRGS, pois "a sociedade se beneficia do trabalho" deles.
Nas questões elaboradas por estudantes, docentes e técnicos administrativos, Ilma observou que a PRAE "não exerceu toda as funções que se esperaria" dela, pois os estudantes não foram atendidos adequadamente, e que é importante levar em conta, quando se fala em assistência estudantil, as ações afirmativas. Sobre saúde mental, reforçou a necessidade de criar uma comissão de acolhimento de casos detectados pela comunidade acadêmica, para posterior encaminhamento, e a promoção de momentos de convivência para prevenir o sofrimento mental.
No que se refere à distribuição de vagas de professores, Vladimir pontuou que considera bom o formato existente, mas que "a transparência é fundamental", e que é importante incluir a pós-graduação nesse cálculo.
Chapa 3
Formada por Marcia Barbosa e Pedro Costa, a chapa 3 perguntou à chapa 1 sobre sua opinião sobre a participação da UFRGS na Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). A aspirante a reitora salientou que a instituição gaúcha tem, hoje, uma "participação muito pequena, mas importante" nesse projeto, com laboratórios que produzem tecnologia, mas que, no entanto, ainda não está se preparando para a produção de fármacos, algo que será foco da Embrapii nos próximos anos.
Nas questões elaboradas por estudantes, docentes e técnicos administrativos, a dupla propôs que os investimentos feitos pela universidade sejam debatidos "de forma maciça" com os estudantes, pois a "gestão é um processo coletivo". Na área da saúde mental, Marcia lembrou de uma pesquisa que realizou com outras pesquisadoras, que apontou que 50% da comunidade acadêmica já sofreu assédio moral e 10% assédio sexual dentro da instituição, e que o acompanhamento dessas denúncias é uma forma eficaz de evitar sofrimentos mentais.
A candidata pontuou, ainda, a importância de construir processos para identificar casos como depressão e ansiedade. Sobre a distribuição de vagas entre as unidades acadêmicas, garantiu que "não haverá favoritismo", e que a gestão estará presente em Brasília para "brigar para ter mais docentes e técnicos administrativos" na UFRGS.