Enquanto um profissional instalava a cerca nova, outro se dedicava à pintura das grades. Escadas, espátulas e enxadas eram as ferramentas que faziam avançar a reforma da Escola Municipal de Ensino Infantil (Emei) Patinho Feio, na zona norte de Porto Alegre, na quarta-feira (8).
A instituição fica no bairro São Geraldo, um dos mais atingidos pela enchente de maio. O prédio esteve submerso por 25 dias em uma água lamacenta que chegou a 1m50cm de altura.
— Foi difícil ver uma escola tão linda no chão. Só as paredes sobraram. Nosso sentimento é de renovação, porque vamos começar do zero — resumiu Viviane Michaloski, diretora da Patinho Feio.
A retomada da instituição foi financiada com recursos públicos e privados. Em junho, a prefeitura custeou a limpeza do espaço e o Sindicato do Comércio Atacadista de Gêneros Alimentícios (Sindiatacadista) entrou com o dinheiro para consertar e melhorar o prédio.
O investimento da entidade ocorreu por uma “adoção” feita por empresas e entidade que beneficiou a Patinho Feio e outras três unidades de ensino do município.
— Quando está fechada, uma escola como esta aqui (Patinho Feio) faz com que famílias não tenham onde deixar os filhos para que os pais possam trabalhar. Em muitos casos, é onde a criança vai fazer a principal refeição do dia. Entendemos que a Educação Infantil é uma prioridade — afirmou Luiz Henrique Hartmann, vice-presidente do sindicato.
O investimento na unidade será de R$ 780 mil. A empresa responsável pela reforma foi contratada pelo sindicato, que administra o valor e acompanha o andamento do trabalho. A tarefa da prefeitura é fiscalizar o processo. Limpeza, substituição de portas, pisos e rodapés, reparo no telhado, pintura do teto e das paredes estão entre as melhorias. A reforma começou no início de agosto e deve durar 90 dias.
O Sindiatacadista também adotou a Emei Meu Amiguinho, no bairro Floresta, o que elevou a doação para R$ 1,2 milhão. O trabalho nas escolas não terá contrapartida do poder público por meio de incentivos fiscais.
— Não existe transferência de responsabilidade, temos investido na recuperação das escolas. A oferta por parte do (setor) privado traz benefícios na retomada mais rápida. Não é um benefício econômico, e sim de união de esforços, de ações em conjunto para a saída dessa crise — diz Maurício Cunha, secretário municipal de Educação.
Segundo ele, a Secretaria Municipal de Educação (Smed) já destinou R$ 5 milhões para a reforma das unidades atingidas pela cheia. Empresas e organizações interessadas na adoção de escolas devem procurar o Escritório de Reconstrução e Adaptação Climática da prefeitura.
Veja quais foram as escolas adotadas na Capital:
- Emei Ilha da Pintada, no bairro Arquipélago: adotada por fuzileiros navais da Marinha do Brasil, no Rio de Janeiro. Foi limpa e recuperada pelo grupo; a entrega ocorreu em 4 de julho
- Escola Municipal de Ensino Fundamental Antônio Giúdice, no bairro Humaitá: adotada pelo Instituto Jama, que forneceu obras e serviços. Entre as melhorias estão a pintura do prédio (interna e externa), de portas e esquadrias, a lavagem do forro, a reforma do piso, a substituição de vidros, a revisão na parte elétrica. Também foi feita uma pintura em grafite do muro. A instituição foi entregue à comunidade em 5 de agosto
- Emeis Patinho Feio e Meu Amiguinho: doação de R$ 1,2 milhão por meio do Sindicato do Comércio Atacadista de Gêneros Alimentícios (Sindiatacadista). Ambas as obras estão em andamento
- Escola Municipal de Ensino Básico Liberato Salzano Vieira da Cunha, no bairro Sarandi: em negociação para adoção por duas empresas
Situação das escolas
A cheia de maio atingiu 14 das 99 escolas públicas municipais da Capital. As escolas Ilha da Pintada, Antônio Giúdice e Porto Alegre já foram recuperadas e estão com atividades normais nos próprios prédios.
Três unidades retomaram em espaços alternativos: a Cantinho Amigo está no Colégio Militar, os estudantes da João Goulart estão na Escola Paixão Cortes, e a Liberato Salzano Vieira da Cunha ocupa espaço locado próximo à sede. A Escola Tio Barnabé teve os alunos realocados em outras unidades da rede municipal.
Sete instituições ainda não retornaram às atividades: Migrantes, Vila Elizabeth, Humaitá, Meu Amiguinho, Passarinho Dourado, Patinho Feio e Miguel Velasquez. No momento, 650 alunos seguem sem aula na Capital, o que corresponde a 1,4% do total, informou a prefeitura.
Segundo a Smed, a expectativa é de que todas as escolas inundadas estejam em atividade ainda em agosto. As unidades com prédio em reforma terão espaços alugados.