A próxima sexta-feira, 4 de fevereiro, será histórica para a comunidade acadêmica que integra o Instituto de Ciências Básicas da Saúde (ICBS) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) – é nesse dia que será cruzada a linha de chegada da inauguração do novo prédio da unidade. A edificação, localizada na esquina da Rua Ramiro Barcelos com a Avenida Ipiranga, em Porto Alegre, teve seu projeto idealizado em 2008 e sua obra iniciada em 2015. Duas trocas de gestão no governo federal e quatro reitorados depois, o prédio foi entregue pela construtora na semana passada.
O espaço, de 19 mil metros quadrados, abrigará três dos cinco departamentos que fazem parte do ICBS. Serão três andares de estacionamento, com vagas para 250 carros, e outros três para salas de aula, laboratórios, salas administrativas, cafeteria e auditório. Cerca de 2,3 alunos de 24 cursos de graduação, das Ciências da Saúde, Agrárias e Biológicas, passarão por aqueles corredores quando as atividades presenciais forem retomadas. O novo prédio também receberá os freezers capazes de armazenar as vacinas da Pfizer contra a covid-19. Atualmente, o ICBS realiza os testes de RT-PCR feitos pela universidade.
Para além da mudança de um prédio antigo – atualmente o ICBS funciona na Rua Sarmento Leite, bairro Centro Histórico – para um mais moderno, a inauguração do novo espaço permitirá avanços científicos, com a realização de pesquisas de ponta. Um dos 50 laboratórios construídos terá Nível de Biossegurança 3 (NB3), o que significa que funcionará em um ambiente totalmente controlado.
— É como se fosse uma caixa fechada, onde o ar, a pressão, a umidade, a temperatura, tudo é controlado. A grande diferença é que lá podemos trabalhar com microrganismos patológicos, que causam doenças, vivos. Isso nos permite avançar muito em termos de conhecimento sobre os mecanismos de ação desses organismos — explica a diretora do ICBS, Ilma Simoni Brum da Silva.
Para explicar melhor, Ilma cita pesquisas sobre a covid-19. Segundo a diretora, estudos de verificação sobre se as vacinas atuais conseguem controlar as novas cepas ou não, por exemplo, são algumas das possibilidades de uso para o espaço. Também será possível analisar o perfil genômico desses microrganismos.
Como nos laboratórios NB3 as pesquisas são feitas com organismos vivos, a preocupação de que o ambiente seja controlado é grande. Por isso, até mesmo o esgoto daquele espaço é tratado em um lugar separado e o ar é filtrado antes de ser eliminado para a área externa – não há janelas no local. Só poderão acessar o laboratório pessoas previamente autorizadas, que terão suas digitais cadastradas no sistema de entrada.
O vice-diretor do ICBS, Marcelo Lazzaron Lamers, cita exemplos de pesquisas que “morreram na raiz” durante a pandemia, no instituto, devido à falta de um laboratório dessa magnitude.
— O pessoal da Farmácia estava desenvolvendo um dispositivo de luz ultravioleta para matar o coronavírus e não tinha como testar, porque era preciso um ambiente controlado para isso. A Odontologia queria saber se a placa dentária tinha o vírus ativo, mas não tinha como manipular isso em um laboratório comum. Agora, com a NB3, vamos poder cultivar o vírus, com toda a segurança, para poder fazer pesquisas, desenvolver tecnologias, fármacos e estratégias. Será um salto gigantesco — destaca Marcelo.
Investimento
A construção do prédio custou R$ 55 milhões. Para equipar adequadamente o laboratório NB3, serão necessários mais R$ 2 milhões, já obtidos por meio da Fundação de Amparo à pesquisa do Estado do RS (Fapergs). O ICBS tem 12 meses para instalar tudo, logo, a previsão é que o espaço esteja funcionando em janeiro de 2023.
Ainda faltarão outros R$ 2 milhões a R$ 3 milhões para implementar o sistema de identificação e terminar de mobiliar os outros laboratórios e salas com armários e bancadas sob medida, por exemplo. Enquanto não chega esse recurso, que ainda não tem fonte definida, será usado mobiliário do prédio antigo e outros móveis já adquiridos ao longo do tempo, como mesas, cadeiras e quadros.