A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) está em vias de perder sua colônia de férias, localizada em Tramandaí. Devido à pandemia, desde 2020 o local está cedido para atividades de apoio ao Parque Científico e Tecnológico Zenit, de fomento de atividades de empreendedorismo e inovação da instituição. Em 7 de janeiro, a Pró-Reitoria de Inovação e Relações Institucionais (Proir) enviou ofício solicitando à Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) que a ocupação para estes fins se torne permanente. O setor aceitou o pedido e encaminhou a cedência do espaço para o Parque Zenit.
O caso gerou indignação em parte da comunidade acadêmica. Na sexta-feira (21), o Conselho Universitário (Consun), órgão máximo deliberativo da UFRGS, publicou uma moção expressando contrariedade com a mudança. O texto critica que o processo tenha ocorrido “sem qualquer diálogo com a comunidade universitária” e sem o conhecimento do Consun. O documento ainda defende que a decisão “afeta negativamente o processo de instalação e consolidação do Campus Litoral Norte (CLN) da UFRGS, na medida em que impossibilita a continuidade da utilização, por aquele campus, da estrutura da Colônia de Férias para atividades de ensino, pesquisa, extensão e assistência estudantil”.
Nesta segunda-feira (24), um novo capítulo do processo de transferências gerou incerteza quanto ao destino do prédio — a diretora do parque, Roberta Bussamara Rodrigues, enviou declaração devolvendo a cedência do local à Proir. Com isso, na prática, a única mudança foi a transferência de responsabilidade pelo espaço de uma pró-reitoria para outra. Não há, porém, um destino definido para ele. Procurado, o pró-reitor de Inovação e Relações Institucionais, Geraldo Jotz, informou que o assunto está em tramitação interna e ainda não há decisão sobre esta questão.
Diretora do CLN, Liane Ludwig relata que os professores, alunos e técnicos do campus ficaram surpresos com a decisão e a destinação do espaço físico para uso exclusive da Proir.
— Ficamos surpresos muito em função de termos demandas por espaço físico para poder atender a graduação, a pós-graduação e atividades de pesquisa e extensão. Espero que haja sensibilização da administração central, no sentido de reverter essa medida e, caso não haja possibilidade de manter o espaço como colônia de férias, colocá-lo à disposição de atividades do nosso campus — pontua Liane.
O CLN está localizado para fora da cidade de Tramandaí, junto à RS-030. A colônia de férias, por sua vez, fica em área nobre do município, a três quadras do mar. Com a expansão das atividades do campus, um dos pleitos da direção é usar uma parte do prédio da colônia para aulas de cursos noturnos, uma vez que o transporte até o CLN é deficitário. Outro projeto para o local é a criação de um espaço de coworking, que fosse utilizado para o desenvolvimento de atividades empreendedoras como as da incubadora Germina, da UFRGS, focada no Litoral Norte.
Outra bandeira antiga na região é o uso daquele espaço para moradia estudantil — diferentemente de Porto Alegre, o CLN não conta com uma Casa do Estudante.
— O Litoral Norte tem uma sazonalidade em relação à moradia. Muitos alunos alugam casas de março a novembro, mas, em dezembro, ou precisam pagar aluguéis muito mais altos do que os do restante do mês, ou ficavam sem moradia. Na colônia de férias, o que se conseguia era uma acomodação eventual como alojamento para alguns estudantes de graduação e mestrado — conta o professor Dilermando Cattaneo da Silveira, que leciona no campus.
Coordenadora geral do Sindicato dos Técnicos-Administrativos da UFRGS, UFCSPA e IFRS (Assufrgs), Tamyres Filgueira critica a tomada de decisão sem o debate com a comunidade do Litoral Norte e o restante da universidade. A entidade está organizando uma manifestação em frente a colônia de férias para este sábado (29).
— Mais uma vez, a reitoria está operando de forma autoritária e transferindo patrimônio para uma pró-reitoria que sequer deveria existir, já que o Consun não autorizou sua criação. A criação de uma nova sede precisa passar por debate junto ao conselho — defende Tamyres.