O Cpers-Sindicato, que representa professores e servidores da rede estadual de educação do Rio Grande do Sul, divulgou nesta quinta-feira (2) os dados e as descobertas feitos a partir de uma série de visitas a escolas estaduais. Durante três semanas, representantes da entidade visitaram 186 das 2.376 instituições estaduais com estudantes matriculados em 2021 em 60 cidades gaúchas.
A mobilização, nomeada de Caravana por #ReposiçãoJá, encontrou colégios sem água e luz, problemas estruturais como infiltrações, teto com risco de desabamento, muros danificados, prédios e salas de aula interditadas, falta de funcionários para limpeza e déficit de professores.
As comitivas começaram as visitas em 11 de novembro e terminaram no último dia 26. Em Porto Alegre, foram visitadas 13 instituições estaduais de ensino — a Capital possui 241. Um dos casos que mais chama atenção no dossiê elaborado pelo Cpers é o da Escola Estadual de Ensino Fundamental Venezuela, que tem problemas na rede elétrica, telhado quebrado, infiltrações e vazamentos que causam mofo e rachaduras nas paredes. Por essas condições, 12 salas de aula estão interditadas e o auditório da escola abriga duas turmas. Por falta de espaço adequado para guardar, livros ficam em um corredor. A escola alega aguardar há um ano e meio uma resposta da Secretaria de Obras do Estado.
— Um exemplo impactante é a escola Hermeto José Pinto Bermudez, de Uruguaiana, que estava fazendo aniversário de um ano sem luz no dia em que passamos lá. E é uma escola que está oferecendo ensino presencial, então, os alunos estudam na penumbra. A Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre, também teve fios elétricos roubados e alunos estudando no escuro, forçando a visão para ver o quadro – afirma Helenir Aguiar, presidente do Cpers
Segundo a diretora do colégio Hermeneto, Marta Verônica da Silva, quando o poste de madeira com transformador caiu pela força do vento, em novembro de 2020, e a escola ficou no escuro, começaram os pedidos aos órgão competentes para quem fossem feitos os reparos e o restabelecimento da energia. Ela relata, no entanto, que uma série de burocracias e de falhas no projeto licitado para instalação de um novo poste tem estendido ainda mais a situação precária na instituição de Uruguaiana.
— Estamos no ensino presencial e perdendo muitos alunos por causa dessa situação. Tínhamos quase mil e agora não chega a 500. Se continuar assim, os pais não vão querer matricular seus filhos no ano que vem. Eu tenho amor por essa escola e temo por ela e pelos nossos empregos, que estão em jogo — afirma a diretora Marta Verônica da Silva.
No bairro Cavalhada, na Capital, a Escola Estadual de Ensino Médio Visconde do Rio Grande, também estava sem luz no mês passado devido a roubo de fiação, situação que nesta semana já foi resolvida. Quatro salas de aula continuam interditadas por causa do telhado quebrado por infiltrações, o que obrigou cinco turmas de Ensino Médio a retornarem ao ensino remoto.
— O telhado está todo quebrado, deu infiltração e a laje do teto das salas começou a desmoronar, por isso, estamos com cinco turmas em casa. É desde o começo do ano que o telhado está com problema, as madeiras que seguram as telhas estão se desmanchando. Abri o processo junto ao PROA, mas ainda não há perspectiva de arrumar. Eu falo com outras diretoras e sei que o Otavio Mangabeira, por exemplo, teve roubo de fiação, o Pinto Bandeira está com um pedaço do muro caído e coberto com tábuas. Toda escola estadual tem algum problema de estrutura — afirma a diretora do Visconde, Ingrid Coutinho Page.
Situações semelhantes também foram encontradas em outras cidades do Estado, como Osório, Montenegro, Pelotas, Santana do Livramento e outras. O dossiê elaborado pelo Cpers está disponível no site do sindicato.
O documento será entregue ao governo do Estado no dia 7 de dezembro. Junto com ele, o sindicato também demanda reajuste salarial dos professores e funcionários da rede.
— Questionamos o fato de que essas escolas ficaram quase um ano e oito meses paradas e os problemas ainda não foram resolvidos. Nossa denúncia é para que o governo se mexa e resolva questões de estrutura, falta de professores e de funcionários. Também estamos vivenciando um problema grave de endividamento total da categoria, por isso também lutamos pelo reajuste salarial, que não temos desde 2014 — afirma Helenir.
Procurada pela reportagem, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) informou, em nota, que, para o retorno das aulas presenciais, o "Estado disponibilizou recursos extras na ordem de R$ 270 milhões para aprendizagem, capacitação, aquisição de equipamentos de proteção e materiais de desinfecção e contratação de professores e profissionais de apoio (serventes e merendeiras)".
Sobre reformas e melhorias na estrutura física das escolas, a Seduc afirmou que trabalha junto à Secretária de Obras Públicas para que as demandas sejam atendidas, "de acordo com os trâmites exigidos pela lei". "Ainda, o Governo do Estado lançou recentemente o programa Avançar na Educação, que contempla ações diretamente ligadas ao tema, como ampliação do valor da Autonomia Financeira, que permite às próprias escolas realizarem reparos em sua estrutura. Em 2021, já foi realizado um repasse extra na ordem de R$28 milhões para a preparação das escolas para o retorno presencial. Em 2022, o repasse extra será de R$ 200 milhões", diz a nota.
Números do dossiê elaborado pelo Cpers
- 17,8 km percorridos
- 60 cidades visitadas
- 186 escolas visitadas
- 58 das escolas visitadas com problemas estruturais graves ou de recursos humanos
- 21 escolas com falta de educadores
- 12 escolas com problemas de infiltração
- 13 escolas com problemas na rede elétrica
- 5 escolas sem luz
- 1 escola sem água
- 8 escolas com prédios ou pavilhões interditados
- 7 escolas com muro desmoronando ou já desabado
- 6 escolas com telhado quebrado
- 8 escolas com salas de aulas interditadas