O Conselho Universitário (Consun) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) aprovou uma nota de apoio ao impeachment do presidente Jair Bolsonaro. O pedido foi votado pelo Consun, espécie de Legislativo que atua na universidade como instância máxima de decisões a serem discutidas pelos 77 conselheiros, cujo presidente é o professor e reitor Carlos André Bulhões.
A nota foi assinada na última sexta-feira (30) por Bulhões, escolhido por Bolsonaro para assumir a Reitoria da UFRGS no ano passado. Após a publicação desta reportagem, a Secretaria de Comunicação da UFRGS entrou em contato com GZH para destacar que Bulhões, por ser presidente do Consun, assina todas as moções, mas que "elas não representam obrigatoriamente a opinião do reitor". A reportagem questionou se o reitor é a favor ou contra o impeachment de Bolsonaro, mas não obteve resposta. Ao final do texto, veja a íntegra da nota enviada pela Reitoria.
Na nota, o Consun afirma que o Brasil tem mais de meio milhão de vidas perdidas, pessoas que são “vítimas da pandemia de covid-19, mas vítimas também do negacionismo do governo federal, que tem tido como política agir de forma contrária às medidas apontadas pela ciência para combater a pandemia”.
O documento destaca que a UFRGS perdeu “muitos colegas, familiares e amigos” e que a grande maioria poderia ter sido poupada “se a aquisição das vacinas tivesse ocorrido de forma acelerada e em tempo hábil, facilitando a vacinação da população, como a emergência do momento demandava”.
Os conselheiros ainda observam que a CPI da Covid no Senado vem demonstrando que, em vez de comprar vacinas, “o governo federal estava negociando a compra de vacinas, visando a propinas”.
O documento conclui que “o Consun se manifesta em apoio ao pedido de impeachment, pois considera que a universidade e seu conselho devem cumprir seu papel histórico, posicionando-se de forma contundente diante da gravidade dos fatos”.
Reforma na universidade
No ano passado, Carlos André Bulhões ficou em terceiro lugar na lista tríplice da votação da comunidade acadêmica, mas tornou-se reitor da UFRGS após escolha de Bolsonaro. O presidente tem autonomia legal para eleger um dos três nomes mais votados, mas tradicionalmente a nomeação cabia ao primeiro lugar da lista. A eleição de Bulhões contrariou parte da comunidade acadêmica.
Na semana passada, o Conselho Universitário decidiu acionar o Ministério da Educação (MEC) e o Ministério Público Federal (MPF) contra Bulhões, medidas que podem resultar no “impeachment” do reitor.
O motivo é a forma como ele conduziu a reforma administrativa na UFRGS. Durante a medida, foram promovidas fusões de secretarias e modificações na estrutura interna da instituição.
O Conselho Universitário decidiu, meses atrás, obrigar o reitor a voltar atrás nas reformas administrativas. No entanto, Bulhões manteve as alterações, embasado em análise da Advocacia-Geral da União (AGU) segundo a qual não há impeditivo legal para alterar a estrutura da universidade sem aval dos conselheiros.
Leia o texto do Consun na íntegra:
"A Universidade Federal do Rio Grande do Sul, através do seu Conselho Universitário (CONSUN), reunido virtualmente nesta data, manifesta apoio ao pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Vivemos um momento muito grave no nosso país. Temos mais de meio milhão de vidas perdidas, vítimas da pandemia de Covid-19, mas vítimas também do negacionismo do governo federal, que tem tido como política agir de forma contrária às medidas apontadas pela ciência para combater a pandemia. Já perdemos muitos colegas da Universidade, familiares e amigos. A grande maioria dessas vidas poderia ter sido poupada se a aquisição das vacinas tivesse ocorrido de forma acelerada e em tempo hábil, facilitando a vacinação da população, como a emergência do momento demandava. Os indícios apontados pela CPI da pandemia, no Senado Federal, vêm demostrando que, em vez disso, o Governo Federal estava negociando a compra de vacinas, visando a propinas. Assim sendo, o CONSUN se manifesta em apoio ao pedido de impeachment, pois considera que a Universidade e seu Conselho devem cumprir seu papel histórico, posicionando-se de forma contundente diante da gravidade dos fatos.
Porto Alegre, 30 de julho de 2021.
CARLOS ANDRÉ BULHÕES MENDES,
Presidente do Conselho Universitário"
Leia a íntegra da nota da Reitoria da UFRGS:
Em relação à nota de apoio ao impeachment do presidente da República, divulgada pelo Conselho Universitário (CONSUN), a Reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) esclarece que:
- Na condição de presidente do CONSUN, as atas e deliberações ocorridas nas reuniões de seus membros devem publicadas e firmadas pelo Reitor;
- A Nota do Consun, publicada em 30 de julho de 2021, partiu de proposta da conselheira Tamyres Filgueira, coordenadora do Sindicato dos Servidores Técnico-Administrativos da UFRGS (Assufrgs Sindicato). A votação contou com 55 votos favoráveis, quatro contrários e 10 abstenções.
- A Reitoria reafirma seu permanente compromisso de desenvolver suas ações de forma apartidária, sem interesses ou preferências políticas e ideológicas.
- Consequentemente, a assinatura da referida Nota não representa qualquer apoio do Reitor.
- A Reitoria seguirá mantendo uma relação republicana e respeitosa com todas as lideranças políticas, focada nos interesses da UFRGS e dos temas relacionados ao ensino, à universidade e às demandas da sociedade.