Além das questões de Linguagens, Códigos, Ciências Humanas e suas Tecnologias, a primeira prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, que ocorre no domingo (17) em todo o país, também comporta a temida Redação. Pensando na ansiedade que essa avaliação traz, GZH reuniu dicas de professores de cursos preparatórios para auxiliar os participantes que querem garantir uma boa nota pelo texto.
Francis Madeira, professor da disciplina de estratégia, mapeamento e análise de provas para o Enem do Fleming, recomenda que o aluno inicie o primeiro dia de exame lendo a proposta de Redação, que fica no meio do caderno de questões. O ideal é que, em seguida, o participante comece a resolver as perguntas da prova que lhe dá mais segurança — ou seja, a que aborda conteúdos que mais domina.
No entanto, Madeira ressalta que a ordem desses processos depende de cada estudante:
— Se o aluno vai escrever essa proposta ali no início da prova ou não, é uma coisa muito pessoal. Tem gente que se sente segura para escrever de cara, mas eu recomendo que esse tema vá sendo trabalhado internamente no aluno à medida que o tempo vai passando.
Após ler a proposta, o participante deve pensar durante alguns minutos sobre o que sabe e o que não sabe acerca daquele assunto. Segundo o professor, é importante que o tema vá sendo processado porque o primeiro contato com a proposta costuma ser assustador, considerando que às vezes se trata de um assunto muito específico sobre o qual o aluno não está totalmente preparado para escrever.
No entanto, a Redação nunca deve ser deixada para a segunda metade do tempo de prova. É preciso começar o texto entre as primeiras três horas da avaliação, pois, se o aluno tiver alguma dificuldade, será possível reformular usando o tempo que ainda tem disponível.
Ávila Oliveira, professor coordenador de linguagens e redação do Colégio Unificado, concorda que a Redação não pode ser feita no final porque envolve todo um processo de fazer o rascunho, revisar e passar a limpo.
— Antes de entregar um texto, é bom fazer uma pausa, tomar um ar, respirar, se distanciar, e depois voltar para ler. Assim, a gente acha erros que não teria visto se estivesse tão próximo ao texto — indica Oliveira.
Competências da Redação
A nota da prova de Redação pode variar de zero a mil pontos. O resultado é determinado a partir de cinco competências, cada uma delas valendo 200 pontos. Um levantamento realizado anualmente desde 2014 pelo pré-vestibular Fleming Medicina, com base no mapeamento das edições dos últimos seis anos de Enem, traz orientações gerais sobre elas:
Competência 1: para obter 200 pontos nessa competência, cuide a concordância com o sujeito posposto, observe as regras relativas à crase e à pontuação do texto. Erros ortográficos recorrentes impedem a nota máxima;
Competência 2: é preciso compreender bem o tema e construir um texto argumentativo, portanto, a ausência de marcadores de opinião e de tese no texto impedem a nota máxima nessa competência. Se o texto for dissertativo expositivo, com a marcação da tese apenas na proposta de intervenção, não será possível obter os 200 pontos.
Competência 3: a articulação do texto deve ser muito bem feita. Enfrentar a situação-problema na redação implica explicitar a tese na introdução, usar os parágrafos de desenvolvimento para elencar causas do problema levantado e encaminhar a conclusão para que a proposta de intervenção seja consequência lógica da discussão levantada.
Competência 4: para obter os 200 pontos, é obrigatória a presença de mecanismos de ligação das ideias entre frases do mesmo parágrafo e entre parágrafos do texto. O uso correto dos pronomes relativos e de suas eventuais preposições também será avaliado aqui. A repetição excessiva e injustificada das palavras também impedirá a nota máxima.
Competência 5: a proposta de intervenção precisa indicar quem deve atuar sobre o problema, o que esse agente fará, como ele fará e qual o objetivo que será alcançado com essa medida. Além disso, para obter os 200 pontos, é fundamental detalhar os meios que serão utilizados e o que pode ser feito por meio de exemplificação.
O professor Madeira explica que se um aluno não tiver 100% de domínio da norma padrão para escrever um texto na modalidade de escrita formal, por exemplo, ele será penalizado apenas na competência 1, porque somente ela avalia esses aspectos. Portanto, o participante tem outros 800 pontos para buscar compensar aquilo que perdeu na competência 1.
— Então, não precisa ficar nervoso se você não sabe muito acerca da regra de crase, de concordância. É claro que é importante saber disso, mas existem outros 800 pontos na prova de Redação que não estão vinculados a esse domínio — enfatiza ele.
Como estar preparado para o tema
Para encarar a Redação, o aluno precisa ter um repertório sociocultural produtivo, uma lista de referências que ele possa utilizar no texto. No entanto, Madeira salienta que essas referências não precisam ser citações, podem ser músicas, filmes, séries, fatos notórios vistos em jornais e revistas.
Segundo o professor, é muito difícil conseguir acertar o tema da proposta, mas é fácil perceber que a prova de Redação trabalha de acordo com alguns eixos temáticos específicos:
— Por exemplo, você sabe que tem abordagens que vão falar sobre saúde pública, e dentro da saúde pública há diversos temas. Da mesma forma, a gente sabe que temas ligados à educação e às tecnologias de comunicação também aparecem. Então, se o aluno tiver uma lista de repertório e organizar isso antes da prova, ele consegue encontrar referências para diversas áreas.
Outras dicas
- Entenda que você tem referências: todas as pessoas têm referências socioculturais, elas não precisam vir de um pensador ou um sociólogo, você pode (e deve) utilizar matérias que leu, músicas que ouviu e filmes que assistiu ao longo do ano, por exemplo;
- Relacione a referência com o tema: não se pode simplesmente colocar a referência no texto sem relacioná-la com a proposta, isso gera perda de pontos. Cite a referência e mostre por que ela é relevante naquela discussão do tema abordado;
- Conhecimento é mais do que acumular informação enciclopédica: conhecer as coisas não significa memorizá-las, mas sim internalizar e saber como elas são aplicadas na realidade;
- Não é necessário lembrar detalhes do que foi dito: a prova do Enem não é um trabalho acadêmico, então você não precisa informar dia ou ano da referência, o importante é lembrar do conteúdo, da ideia que aquele material transmite;
- Se dedique a atividades que gerem menos gatilho e esteja antenado: você pode optar por relaxar com filmes, séries e livros, mas pense que esse lazer pode se refletir em conhecimento, pois eles fazem parte do seu repertório sociocultural;
- Não se preocupe em acertar o tema: analisar as redações nota mil de anos anteriores e identificar o que elas têm em comum e como foram construídas é bem mais importante do que acertar o tema. Utilize seu tempo para isso. As redações nota mil das edições anteriores podem ser acessadas na Cartilha do Participante, por meio deste site.
Produção: Jhully Costa