Historicamente, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) dialoga com temas da atualidade. Neste ano, o assunto que não saiu – e ainda não sai – dos noticiários é a pandemia de coronavírus. Essa doença tangencia e é atravessada por muitas áreas de conhecimento, e isso pode servir de gancho para que o tema marque presença nas provas do próximo Enem.
O exame será realizado em 17 e 24 de janeiro de 2021, na versão impressa. Já a modalidade digital será aplicada em 31 de janeiro e 7 de fevereiro. GZH conversou com professores de cursinhos pré-vestibular para saber como a covid-19 pode aparecer nas provas de Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática.
Biologia
Ricardo Saboia, professor de biologia do Gabarito, relembra que os realizadores da prova trabalham com um banco de questões pronto, contudo ele acredita que, devido ao contexto vivido, a escolha das perguntas pode ter sofrido uma influência do fator coronavírus. Por isso, ele aposta em temas que apresentem conexão com as viroses e a estrutura do vírus:
— O Enem foge do senso comum, ele contextualiza o assunto. É difícil que perguntas sobre a covid apareçam, mas ele pode exigir que o aluno relembre que o vírus é uma parasita intracelular obrigatório, que ele não tem metabolismo próprio, não apresenta uma estrutura celular, que é formado por uma cápsula proteica e que seu material genético pode ser DNA ou de RNA.
Ele destaca ainda que pode surgir uma questão que exija o conhecimento do mecanismo de funcionamento do DNA e do RNA. Saboia explica que ambos são ácidos nucleicos, entretanto, o processo de tradução promovido pelo RNA tem grande importância atualmente.
— Grande parte das vacinas contra o coronavírus que estão sendo desenvolvidas neste momento são feitas a partir do RNA. O objetivo dessa tecnologia é ativar a produção de proteínas antivirais no corpo do paciente. A vacina ensina as células do corpo humano como produzir as proteínas aptas a lutar contra a covid — diz o professor de biologia do Gabarito.
O elo entre a pandemia e a biotecnologia também pode ser explorado pelos elaboradores da prova. Saboia destaca que a função da vacina e a diferenciação dela para um medicamento ou soro pode aparecer.
— Além disso, é bom o aluno ter em mente o que caracteriza um surto, uma epidemia e uma pandemia e não esquecer de outras viroses importantes, como a febre amarela, a dengue, a chikungunya e a aids. Para finalizar, como o coronavírus ataca, principalmente, o sistema respiratório, é bom reforçar os estudos na fisiologia dessa parte do corpo — observa.
Matemática
Para Jairo da Silva, professor de Matemática do pré-vestibular popular Minervino de Oliveira, todas as questões que abordam cálculos poderiam ser inspiradas na pandemia, já que foi essa ciência que apontou os momentos de pico e platô de transmissão no Brasil:
— O cenário da covid tu encaixas perfeitamente em estudos matemáticos, porque ele faz a descrição numérica e fiel da realidade. As funções exponenciais, por exemplo, foram o que mais vimos, porque os gráficos de contágio pela doença apresentavam uma curva muito próxima de uma curva exponencial.
Ele cita ainda que o uso do modelo algébrico exponencial pode ser exigido para que os estudantes façam estimativas de quantas pessoas estarão infectadas no futuro. Pode ser cobrado também o uso de porcentagem para que se aponte a relação entre número de infectados e vagas em leitos de UTI, para saber o tamanho da fatia de auxílio emergencial que foi demandada por determinada região brasileira ou a proporção de sintomáticos e assintomáticos em uma localidade. Silva aponta o uso da progressão geométrica em dois casos:
— Ela pode ser aplicada em uma questão que se proponha a prever os casos futuros de covid. Outra questão interessante é que os leitos crescem em progressão aritmética e os positivados em progressão geométrica. Então, poderia ser cobrada uma análise de quando os leitos em hospitais acabariam se continuássemos em um determinado ritmo de crescimento de infectados.
Conhecimentos de geometria plana para calcular, por exemplo, o número de camas que podem ocupar um hospital de campanha também podem ser necessários. A probabilidade pode ser exigida para que o aluno calcule as chances de encontrar um indivíduo infectado em um grupo de pessoas. Por fim, funções de primeiro grau poderão ser aplicadas para seja possível estimar a quantidade de positivados em um cenário de comportamento linear da doença.
Química
Presença confirmada nas provadas do Enem, a química orgânica se torna uma aposta ainda mais quente porque o álcool – um dos maiores aliados no combate ao coronavírus – entrou em cena.
Esse ajudante contra a covid-19 tem suas especificidades. Ele precisa ser 70%, mais do que isso ele evapora e não auxilia na esterilização de nada. Uma vez que o álcool 70% entra em contato com a cápsula de gordura que envolve o vírus, ele a dissolve e o coronavírus é exterminado.
Luiz Ferrari, professor de química do Gabarito, acredita que essa reação entre o álcool e a gordura pode ser abordada no exame.
— O resultado do contato da película externa de gordura do vírus com o álcool é um éster. Pode ser cobrada identificação dos componentes que formam o álcool gel — diz Ferrari.
O professor de química reforça que não se pode esquecer do sabão. Esse item também consegue quebrar a gordura e destruir a parte externa do vírus. Isso porque o sabão é composto por uma parte hidrofílica, que tem afinidade com a água, e outra parte hidrofóbica, que se liga a óleos e gorduras. Ao lavar as mãos, a parte hidrofóbica se liga à cápsula de gordura do vírus, rompendo-a.