A hora de tentar a principal porta de entrada para o Ensino Superior está cada vez mais próxima. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) será realizado em 17 e 24 de janeiro de 2021, na versão impressa. Já a modalidade digital será aplicada em 31 de janeiro e 7 de fevereiro. E, com a proximidade dessas datas, aumentam as especulações sobre possíveis temas de redação. GZH conversou com diversos professores de Língua Portuguesa e Redação para saber quais são as apostas deles para o Enem 2020 e o motivo pelos quais esses palpites têm chances de emplacar como o assunto da vez.
Desigualdade social
Para Thais Oliveira, professora de português e redação do Fênix Vestibulares, o tema desigualdade social pode despontar no Enem justamente porque a pandemia do coronavírus evidenciou o abismo que existe entre ricos e pobres no país. Visto que, enquanto grande parte da população dependia do auxílio emergencial para sobreviver, o patrimônio dos super-ricos cresceu de maneira exponencial.
— Não acredito que a pandemia seja abordada, mas as consequências dela, sim. Por isso, aposto na desigualdade social — diz Thais.
Saúde mental
Ávila Oliveira, coordenador de Redação do Unificado, também não crê que a pandemia seja abordada de forma direta. Ele deposita as fichas nas consequências provocadas pelo coronavírus na saúde mental:
— O Brasil é o país que apresenta o maior índice de pessoas com ansiedade no mundo e temos números alarmantes de pessoas com depressão. E se fala muito disso ainda hoje, sobre como a pandemia poderia ser um potencializador desses quadros. Isso reforça a ideia de que o tema possa aparecer.
Saúde pública
Anualmente, Peterson Silva, professor de português e redação do Fênix, analisa as provas do Enem, e ele destaca que nunca caiu, como tema de redação, algo que abordasse a saúde pública.
— Esses fatores colaboram para que a saúde pública se torne o tema da próxima edição da prova. Até porque o Enem tem feito um movimento de sair do óbvio, do senso comum, justamente para evitar que os estudantes venham com um texto pronto na cabeça. Além do coronavírus, que é uma urgência, temos outras questões que são um problema no Brasil, como a dengue, a chikunguya, o tabagismo, o aleitamento materno, poluição atmosférica entre outros. Esses seriam excelentes temas a serem abordados dentro desse viés de saúde coletiva — afirma.
Saúde
A saúde também é a aposta de Maria Tereza Faria, professora de português e coordenadora de área de Linguagens do Colégio João Paulo I. Suas fichas estão distribuídas em quatros cestos: saúde mental – assim como já foi apontado por Ávila –, o efeito do tabagismo para a saúde, a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) e telemedicina.
— Os últimos exames não têm levantado polêmicas, por isso, acredito que esses podem ser bons assuntos para a prova de redação. Além disso, de alguma forma, eles estão conectados com a pandemia. Já que o tabagismo é um agente complicador para a covid, vimos que, apesar dos problemas, o SUS é a única chance de tratamento de milhares de pessoas que não têm como pagar por isso, e vimos deslanchar a questão da telemedicina com a impossibilidade de sairmos de casa — pontua.
Educação financeira
Thais lembra ainda que a prova do Enem é feita com bastante antecedência, por isso, ela não descarta o que o tema central da redação seja algo que tenha sido tendência no ano passado. E, dentro deste cenário, a professora do Fênix Vestibulares aponta a educação financeira como destaque:
— Vimos uma ascensão muito forte de youtubers sobre finanças pessoais, uma massa muito grande da população interessada em aprender a investir na Bolsa e a guardar e fazer render o seu próprio dinheiro. Esse é outro tema possível.
Educação
Maria Tereza destaca que, ao longo deste ano, o governo federal realizou diversas campanhas que abordavam a importância da alfabetização na infância, e elas podem virar tema de redação. Além disso, destaca que a evasão escolar – que atualmente afeta 2 milhões de crianças, segundo o Instituto Brasileiro de Economia e Estatística (IBGE) – e os 30 anos de existência do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) são outras possibilidades a serem levadas em consideração:
— O governo (federal) chegou a fazer campanha para que os pais lessem com seus filhos em casa. O tema da evasão é importante porque esse já é um problema crônico do Brasil, mas que foi acentuado com a pandemia. Por fim, o ECA completou três décadas em 2020, e um dos artigos afirma que é obrigação do Estado e da família garantirem a alfabetização da criança. Dentro deste assunto, ainda há a possibilidade de surgir o homeschooling e seus desdobramentos, já que o governo é favorável a essa prática.
Combate aos maus-tratos aos animais
A luta pelos direitos dos animais vem ganhando força no Brasil nos últimos anos, diz a professora de português e redação do Fênix Vestibulares. A veiculação de casos de violência a animais, tanto de rua quanto domésticos e silvestres, está cada vez mais em evidência. Além disso, ganham fôlego iniciativas da sociedade civil, por meio de vaquinhas online, para auxiliar esses animais, observa Thais. Por isso, ela aposta nos desafios de combate aos maus-tratos de animais.
Inclusão social dos idosos
Ávila pontua que na prova do Enem de 2009, que foi anulada por ter sido roubada dentro da gráfica, tinha como proposta de redação a valorização do idoso. Ele acredita que, ainda como consequência da pandemia, esse tema pode voltar, mas com nova roupagem:
— O assunto pode ser retomado abordando não somente os direitos, mas a inclusão dos idosos no mercado de trabalho, no uso de tecnologias, entre outros. Novamente, a pandemia pode aparecer como pano de fundo para esse tema, já que os idosos são o grupo de risco para a doença. Acredito que seja arriscado falar sobre a pandemia em si, porque não há o que se dissertar sobre ela. A doença é um fato, seria leviano colocá-la em discussão. Mas ela é um bom argumento para comprovar uma tese, justificar uma solução etc.