Ideia, projeto, teste e venda. Estas costumam ser etapas para o desenvolvimento de um novo produto de uma empresa. Em breve, no entanto, poderão ser o passo a passo de planos e metas desenvolvidos dentro de escolas estaduais. O projeto Jovem RS Conectado no Futuro, lançado na manhã desta quarta-feira (4) pelo governo do Estado, tem como objetivo estimular o empreendedorismo e a criatividade nas instituições. Os educadores e profissionais da área que acompanharam a apresentação foram recebidos por um coral de alunos da Escola Estadual Carlos Bina, em Gravataí, nas escadarias do palácio.
— Estes alunos, por exemplo, poderiam criar um canal no Youtube, poderiam se apresentar, investir na banda. Está muito bonita — comentou o diretor de Inovação da Ulbra, Márcio Machado, também um dos diretores da Rede Gaúcha de Ambientes de Inovação (Reginp), entidade integrante do projeto.
A proposta terá a parceria de nove faculdades gaúchas: Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), Universidade de Passo Fundo (UPF), Instituto Federal do RS (IFRS), Imed, Universidade Federal do Pampa (Unipampa), Unijuí e Universidade Luterana do Brasil (Ulbra).
Por meio da parceria, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) quer estimular alunos e professores a mudarem o modo de pensar em sala de aula. A ideia é incentivar a comunidade escolar a criar propostas que possam ajudar a região onde estão inseridas ou que possam se tornar rentáveis.
Espaços de estímulo
Para tornar a ideia realidade, serão criados os chamados espaços makers em parte das escolas gaúchas. Nestes ambientes, haverá retalhos, tecidos, colas, tesouras, lápis e canetas, computadores e, em alguns casos, aparelhos mais sofisticados que ainda estão sendo definidos. Os espaços servirão de estímulo para que floresçam ideias, como um projeto social ou uma empresa, por exemplo.
— Os professores serão capacitados por integrantes das universidades para que possam estimular os alunos a pensar desta maneira. Eles poderão elaborar propostas na área de robótica, astronomia, agricultura. Queremos estimular, principalmente, a área tecnológica, mas outros assuntos podem e devem estar no planejamento — explica o secretário estadual de Educação, Faisal Karam.
Em alguns casos, as ideias serão levadas para dentro das universidades, onde poderão ser desenvolvidas nas incubadoras mantidas pelas instituições. Incubadoras são espaços criados para o incentivo de pequenas empresas, que recebem apoio nos primeiros anos de vida.
No primeiro ano do projeto, 20% das 2,5 mil escolas estaduais serão contempladas pela proposta - o que corresponde a cerca de 500 colégios até o fim de 2019. A meta para 2020 é atingir 40% das escolas. Em 2021, mais 40% e, até 2022, 100% das escolas estarão incluídas.
— Frente a tantas dificuldades em termos de educação e falta de políticas claras, estamos buscando alternativas. Mesmo com todos os problemas financeiros, tínhamos que criar um programa que desse perspectiva de futuro para o aluno inovador, criativo — diz o secretário Karam.
Selos de qualidade: inovação, empreendedorismo, criatividade
A partir das propostas desenvolvidas nas escolas, a Secretaria de Educação vai distribuir "títulos", que serão divididos em escola inovadora, escola empreendedora e escola criativa. Os colégios poderão acumular os três títulos, dependendo dos projetos e dos resultados. Os conceitos foram desenvolvidos pela secretaria, em parceria com as universidades:
- Escola criativa: trabalha inteligência, projetos sociais, esportivos, de arte e de música.
- Escola empreendedora: desenvolve projetos para a comunidade onde está localizada. Empreendedorismo não significa formar empresários, mas pessoas independentes e protagonistas.
- Escola inovadora: utiliza a ciência para dar retorno para a sociedade, desenvolvendo pesquisa científica e buscando inovação.
A ideia é que os selos componham o currículo escolar do aluno formado em cada escola, contribuindo, assim, para a inserção no mercado de trabalho. Para aprimorar a formação, o projeto contará com parceria com Sebrae e Sesc, além da plataforma de leitura Elefante Letrado e das secretarias da Inovação, Ciência e Tecnologia, da Cultura e do Trabalho e Assistência Social.
Vinícius Cosmam, 17 anos, é aluno da Escola Estadual Técnica Celeste Gobbato, localizada em Palmeira das Missões, no Noroeste. O estudante participou da cerimônia de apresentação da proposta e falou sobre a pesquisa que desenvolve na escola, envolvendo a transformação de resíduos de carvão vegetal em um agroquímico que não causa agressão ao meio ambiente.
— Nossa escola é autossustentável, então, grande parte dos alimentos que consumimos, nós produzimos lá. Também trabalhamos com projetos de pesquisa e iniciação científica. Para nós, é uma satisfação muito grande porque é uma inovação que está gerando frutos. É gratificante — afirmou.
O governador Eduardo Leite defendeu o protagonismo dos jovens e reforçou o compromisso do governo com a educação:
— Quando falam que eu sou o governador mais jovem do país, eu ressalto que tem que ser jovem na cabeça, nas ideias. Ousei ser presidente do grêmio estudantil da minha escola aos 15 anos, a ser provocador e questionador. Quando a gente vai falar de educação em um cenário de crise financeira, sei que vocês vão pensar nos salários, e isso é legítimo. Mas se formos esperar isso ser solucionado, vamos colocar uma geração inteira fora. Precisamos investir nesta geração.
Inicialmente, a iniciativa conta com R$ 10 milhões do governo federal - o recurso havia sido destinado no começo dos anos 2000 para um projeto que foi extinto. Com a destinação de emendas parlamentares, o governo estima que possa aplicar até R$ 30 milhões no Jovem RS Conectado no Futuro.