Por Gabriela Ferreira, líder de Impacto Social no Tecnopuc e diretora técnica da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec)
Na semana passada, foi divulgado o Índice Global de Inovação (IGI), realizado a partir de colaboração entre a Universidade Cornell, o Insead e a Organização Mundial de Propriedade Intelectual. Apesar do momento de desaceleração da economia e recorde negativo da produtividade mundial, os gastos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) seguem crescendo, tendo dobrado entre 1996 e 2016. Segundo a pesquisa, em 2017 esses gastos dos governos aumentaram 5% e os das empresas quase 7%. Ou seja, o mundo está investindo mais em conhecimento para gerar inovação e desenvolvimento.
Embora ainda concentrados em poucos países, alguns movimentos interessantes são percebidos na geografia da inovação. Os primeiros lugares continuam ocupados por
Suíça, Suécia e Estados Unidos, seguidos de outros países europeus e Singapura (que está há algum tempo no Top 10). Mas, neste ano, Israel aparece pela primeira vez na 10ª posição, a Coreia aproxima-se do Top 10 e a China passou a ocupar o 14º lugar, vindo do 17º em 2018. Ou seja, os países emergentes estão melhorando em inovação.
No Brasil, a pesquisa foi recebida sem animação, embora com pouca surpresa, pelo fato de o país ter caído duas posições no ranking, ocupando agora o 66º lugar. E não se trata de comparação somente com países líderes: os Emirados Árabes figuram em 36º, Vietnã em 42º e Tailândia em 43º lugar. A Índia, tradicional concorrente do Brasil na disputa por investimentos, está na 52ª posição. Na América Latina, os mais bem colocados são Chile, Costa Rica e México, respectivamente 51º, 55º e 56º colocados. Ou seja, o Brasil está realmente atrás, especialmente considerando seu potencial.
Qual o motivo desse resultado, se o próprio documento aponta que o Brasil é o único da região a abrigar um cluster de ciência e tecnologia de peso internacional? A explicação mais provável: piorou a avaliação dos insumos para a inovação, ou seja, a sua base, o que viabiliza o desenvolvimento da inovação. A causa parece clara, uma vez que, nos últimos anos, houve redução nos investimentos em P&D, exatamente o motor da inovação. Por isso, é possível imaginar que os resultados do próximo ano sejam, infelizmente, piores do que os atuais. Não existe mágica: existe ação e consequência. A pergunta é: vamos seguir na contramão do fluxo mundial?