Por Luiz Carlos Bohn, presidente da Fecomércio-RS
Nas últimas semanas, o governo federal arrastou um novo bode para a sala repleta de seus insucessos: os empresários brasileiros viraram os culpados pela inflação. Há algum tempo, já não ouvíamos falar desse bode. Muito provavelmente, na minha visão otimista, porque a sociedade brasileira, com sua democracia em consolidação, aprendeu muito ao longo das últimas décadas e não aceita mais, tão facilmente, alguns desaforos.
O progresso socioeconômico é alimentado pela iniciativa empresarial, em um ambiente de competição. A disposição de inúmeras pessoas para correr risco, colocar a poupança da sua vida em jogo, se endividar, trabalhar jornadas muito mais longas do que as previstas em lei, e apostar sua vida em uma ideia de negócio. Essa iniciativa, sem garantia nenhuma de sucesso e que deixa vários pelo caminho, é capaz de gerar muito valor para a economia. É dela que saem as inovações de que tanto falamos e que buscamos estimular hoje em dia. Dela, o consumidor se beneficia, e não o contrário.
O governo deveria resolver os verdadeiros problemas que causam a inflação
A postura acusatória, em tom de ameaça, em relação aos empresários, sem nenhuma evidência em seu favor, é, além de leviana, uma oposição ao progresso. A frase “estamos tentando encontrar uma solução pacífica, (...) se não, vamos tomar atitudes mais drásticas” (Jornal Valor Econômico, 7/3/2025) ilustra perfeitamente o pensamento do presidente Lula. Infelizmente, o mandatário de nosso Poder Executivo acredita, ou tenta convencer a população, que exista algo como uma “guerra”, em que os empresários são os inimigos. Nada mais equivocado, como mostra a ciência, tão evocada por políticos nos últimos tempos.
Ao invés de buscar bodes, o governo deveria resolver os verdadeiros problemas que causam a inflação, que estão no seu controle. Sugerir que a inflação vem da “especulação empresarial”, enquanto aumenta carga tributária e sustenta um déficit público vultoso, que pressiona a inflação diretamente e via taxa de câmbio, é ignorar o que já aprendemos como sociedade.