Com repetidas e duras críticas a professores de universidades públicas, administrações petistas e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), o ministro da Educação, Abraham Weintraub, fez um pronunciamento de 20 minutos no 21º Fórum de Ensino Superior (Fnesp), em São Paulo, no final da manhã desta quinta-feira (26). À vontade, tirou o paletó enquanto era apresentado à plateia. Começou gracejando sobre o próprio nome, pronunciado de forma meio arrevesada pelo mestre de cerimônias:
— Ninguém tem culpa do que os meus pais fizeram comigo no cartório. Todo mundo pode me chamar de Abraão.
Encerrado o comentário bem-humorado, disse:
— Depois que destruíram o meu país, comecei a cogitar sair daqui. (Pensei) Pelo menos vou sair brigando, não vou sair que nem um rato. E hoje eu estou aqui. O que o governo vai fazer por vocês? Nada! Vocês têm que se virar.
Para justificar a contundência de suas palavras, Weintraub afirmou estar respondendo às provocações propostas pelos organizadores do evento, promovido pelo Semesp, que reúne mantenedoras de instituições de Ensino Superior de todo o Brasil e que nesta edição tem o tema Mudança de Mindset: Uma Nova Forma de Pensar a Educação. Num vaivém de ideias aparentemente sem planejamento, citando desde a própria família até o ataque sofrido por Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral do ano passado, o ministro misturou assuntos nos minutos iniciais:
— Você pega uma criança de três anos fazendo birra e diz que ela é mal-educada. Outra é bem-educada. Quem pariu Mateus que o embale. Eu tenho três filhos e tenho que educá-los. Nunca tive um processo na vida e, em cem dias (de governo), já tinha 60 processos. Eu e o presidente Bolsonaro queremos mudar o país, mas a gente precisa de vocês. O Estado não faz nada por nós — declarou, salientando que precisava se "controlar" por ocupar o cargo de ministro.
— O que vocês vão fazer por vocês mesmos? Aí eu vou falar: aproveitem essa janela. Quem acredita em Deus... Foi um desígnio de Deus o presidente não ter morrido.
Ao localizar um conhecido na audiência, o titular do Ministério da Educação (MEC) arriscou adivinhar o que ele estaria pensando:
— "Soltaram o Abraão do canil sem enforcador e agora vão ter que escutar!".
— Eu poderia estar em várias outras frentes. Estou aqui. O antigo ministro (Ricardo Vélez Rodríguez) era uma boa pessoa, mas o desafio é monstruoso. No primeiro dia, levei uma cusparada na orelha. Aquilo lá tá aparelhado de gente errada e vermelha.
Passada a introdução, o representante da Esplanada dos Ministérios elegeu alguns tópicos para sua breve intervenção. Apesar de dizer que não gostaria de entrar na discussão sobre "filho da classe média e rico estudar de graça", abordou a possibilidade de cobrança de mensalidades em instituições públicas, uma das inúmeras polêmicas levantadas desde que assumiu o posto.
— É justo cobrar ensino de pobre e não pagar pela graduação de um rico? Eu tenho metas a cumprir. O problema do ensino no Brasil é que a gente gasta uma fortuna de dinheiro com um grupo pequeno de pessoas. O MEC é uma grande folha de pagamento da educação federal. Metade dos servidores da República está no MEC. São 300 mil. É do tamanho das nossas Forças Armadas. Tenho que enfrentar esse exército. Entre outras coisas, há doutrinação e uma metodologia de alfabetização totalmente errada. O filho do pobre não vai para a creche nem para a pré-escola enquanto a gente tem 10 universidades federais que custam mais de R$ 3 bilhões por ano. Com uma delas, eu coloco todas as crianças em creche – discursou.
— Professor da federal dá oito aulas por semana e ganha de R$ 15 mil a R$ 20 mil por mês — completou.
Críticas ao Fies
Na avaliação do titular da pasta da Educação, formado em Economia, o Fies foi um "crime" do ponto de vista financeiro – 50% dos contratantes de empréstimos para custear graduações em entidades privadas estariam inadimplentes, o que significaria uma cifra de R$ 14 bilhões.
— Isso é uma bomba que vai ter que ser desatada. Isso é mais um dos maravilhosos trabalhos deixados pelo PT, eleito por todos os brasileiros.
Weintraub mencionou brevemente o programa Future-se, anunciado recentemente, que pretende criar um fundo privado para financiar universidades e institutos federais.
— Pela primeira vez, vocês têm um liberal na presidência e um liberal no MEC, disposto a comprar as brigas. Já tive reunião com muitos dos senhores (gestores da área da educação) e é visível a cara de alívio. Estou aqui para resolver. Façam autorregulação. Reúnam-se para buscar solução. Organizem-se rapidamente. O Estado não existe. O Estado tem que ser diminuído para permitir que nós possamos buscar nossa felicidade. O lucro foi amaldiçoado, mas lucro é diferente de roubo. Lucro é resultado de trabalho honesto. Aproveitem.
"As coisas estão indo na direção correta", diz Weintraub
Causando um claro desconforto no auditório, o ministro falou do convidado que o precedeu no palco, o filósofo e professor Leandro Karnal, conhecido conferencista que percorre o Brasil.
— Tem palestrante que é chique porque aparece na TV. Foi boa a palestra que abriu o simpósio aqui? O que vocês vão levar de útil dela? Ele é chique, eu sou exótico porque falo a verdade. Eu falo na lata, a verdade nua e crua — disse Weintraub, criticando os graduados em Filosofia por ganharem mais do que médicos.
Ao finalizar, Weintraub garantiu que, ao contrário do que noticiam alguns veículos de imprensa, "a economia já está crescendo, as coisas estão indo na direção correta", e que pretende melhorar a Educação Básica “"para que não chegue tanto analfabeto para vocês" (no Ensino Superior).
— Acho que falei de um modo meio incisivo, mas no meu dia a dia eu sou, de certo modo, até doce.
* A repórter viajou a São Paulo a convite do Semesp.