Com participação de três deputados federais integrantes da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, o 3° Congresso Internacional de Jornalismo de Educação debateu, na manhã desta segunda-feira (19), a visão do novo Congresso sobre o tema. No evento, realizado em São Paulo, Caroline de Toni (PSL-SC), Tabata Amaral (PDT-SP) e Pedro Cunha Lima (PSDB-PB) mostraram opiniões diferentes sobre o tema e defenderam ou criticaram iniciativas como o ensino domiciliar, o programa Future-se e a exclusão do pesquisador Paulo Freire como patrono da educação brasileira.
Defendendo o posicionamento do governo federal, a deputada Caroline de Toni apontou que a situação da educação no Brasil é “alarmante”. Depois de explicar que o país investe um percentual do PIB – cerca de 6% – comparável às nações mais desenvolvidas, a parlamentar argumentou a favor dos planos do presidente Jair Bolsonaro como a da implementação de um novo método de alfabetização (o método fônico), do direito de famílias educarem os próprios filhos em casa (o homeschooling) e mencionou o próprio projeto de lei de revogar o nome do educador Paulo Freire como patrono da área.
— O governo Bolsonaro vem sendo criticado por ter uma vertente diferente da que vinha até então. Mas se percebe que há uma abertura para diferentes visões, e isso contraria muito do que se diz por aí, que é um governo totalitário — garantiu a deputada, que foi alvo de vaias tímidas por parte da plateia, formada principalmente por jornalistas e estudantes de jornalismo.
O papel do Congresso
Com uma visão muito crítica sobre as ideias do governo federal em relação à educação – o que a levou, inclusive, a embates com o Ministério da Educação (MEC) –, a deputada Tabata Amaral apontou que falta aos políticos uma visão clara de um projeto para a área. Para ela, o foco excessivo em visões ideológicas faz com que se deixe de olhar para questões estruturantes de país, e é preciso superar isso.
— O Congresso tem um papel, neste ano, que não precisou ter nos últimos anos, e talvez nem nas últimas décadas: de dar um direcionamento para a educação do país. Eu tenho uma visão muito crítica ao governo na área de educação: questiono qual a visão, qual o sonho para a juventude, as crianças, os professores — garantiu Tábata, que também posicionou-se sobre a educação domiciliar durante os debates:
— A gente não pode se ausentar e permitir que a criança seja deixada ao aval da família. Eu, que vim da periferia, não tinha alguém para me dizer que o ser humano precisa ser tratado com respeito. Se não é a escola que trata de respeito, se não é a escola que fala do problema dos abusos, não vai ser a família a fazer isso. A gente tem mudar a chave, e não restringir ainda mais o debate.
Presidente da Comissão de Educação na Câmara dos Deputados, Pedro Cunha Lima procurou questionar a polarização entre direita e esquerda e defender uma união política a favor da educação no país.
— Essa polarização toda está ficando chata demais. A política no Brasil está virando um meme. Quem faz a melhor "mitadinha". Não se discute fazer um plano robusto, de qualidade — questionou o deputado federal.
Tabata criticou posicionamentos controversos do governo, como a crítica ao investimento em cursos de Ciências Humanas, e foi muito aplaudida ao defender que as decisões sejam baseadas em evidências, não em “casos que uma tia falou, ou que se soube a partir de um primo” — uma referência a uma fala de Caroline de Toni, do PSL, que afirmou “saber de casos” de estudantes convencidos por professores a apoiarem ideias marxistas, ao defender o projeto Escola sem Partido. Caroline, por sua vez, afirmou que os professores não podem incutir valores em seus alunos.
— Eu acredito na liberdade do indivíduo. Mas se você inicia precocemente as crianças em determinados temas, isso vai influenciar ela, que são mais suscetíveis. Ou a gente acredita que o Estado tem direito sobre as crianças, ou acredita que a família é soberana. Essa é a polarização que se discute aqui. O professor é uma autoridade para a criança, e ele não pode incutir qualquer tipo de valores, destruindo os valores da família — afirmou a deputada Caroline.
* O repórter viajou a São Paulo para o 3° Congresso Internacional de Jornalismo de Educação a convite da Fundação Telefônica.