Após semanas de crise no Ministério da Educação (MEC), o presidente Jair Bolsonaro formalizou nesta segunda-feira (8) a demissão de Ricardo Vélez Rodríguez, titular da pasta. Para o posto, indicou o professor Abraham Weintraub.
A queda de Vélez era esperada desde sexta-feira passada (5), quando Bolsonaro comentou, em encontro com jornalistas, a situação no MEC. O presidente havia dito que esta segunda seria o "dia do 'fico' ou do 'não fico'" para o ministro. Confira, a seguir, a trajetória de confusões no MEC que levaram à queda de Vélez.
2018
22 de novembro
- O professor e filósofo colombiano Ricardo Vélez Rodríguez (foto) é confirmado como o novo ministro da Educação. Pouco conhecido no meio acadêmico, foi indicado pelo escritor e guru do bolsonarismo, Olavo de Carvalho. Até então, representantes da área defendiam o nome do diretor do Instituto Ayrton Senna, Mozart Neves Ramos, vetado pela bancada evangélica por ser considerado "esquerdista".
28 de dezembro
- O cientista político Antônio Flávio Testa, que assumiria a secretaria executiva do MEC, desentende-se com Vélez e não chega a ser nomeado. Testa atuou no grupo temático de educação indicado por Bolsonaro durante a transição de governo.
2019
2 de janeiro
- Vélez é empossado como ministro. Sem experiência de gestão, monta sua equipe com integrantes de diversos matizes: militares, técnicos, seus ex-alunos e nomes indicados por Olavo de Carvalho.
- O ministério anuncia a extinção da Secretaria de Diversidade. A subpasta da Alfabetização é criada.
- São divulgadas alterações em edital para compra de livros didáticos, sem a necessidade de indicação de bibliografia nas obras ou de promoção de ações de não violência contra a mulher. O edital foi revisto uma semana depois, e a ação foi classificada como sabotagem por Vélez.
30 de janeiro
- Em entrevista para o jornal Valor, Vélez diz que "universidade não é para todos".
1º de fevereiro
- Para a revista Veja, o ministro afirma que "o brasileiro viajando é um canibal. Rouba coisas dos hotéis".
20 de fevereiro
- Anunciada a criação de uma comissão para analisar as questões do Enem. O Ministério Público Federal pediu esclarecimentos ao governo sobre a ação.
25 de fevereiro
- Vélez envia cartas a diretores de escolas, pedindo filmagens de alunos cantando o Hino Nacional e determinando a leitura de mensagem com slogan de campanha de Bolsonaro.
8 de março
- Após pressão de técnicos da pasta e de militares, o ministro começa mudanças na equipe, mirando indicados por Olavo de Carvalho. O escritor e seus seguidores iniciam campanha nas redes sociais contra Vélez.
10 de março
- Bolsonaro exige a demissão do diretor de programa da Secretaria Executiva da pasta, coronel-aviador Ricardo Roquetti, apontado como pivô da ação contra ex-alunos de Olavo.
11 de março
- Vélez exonera seis assessores, entre eles, o chefe de gabinete Tiago Tondinelli e o assessor Silvio Grimaldo, ambos próximos a Olavo.
12 de março
- Alvo de olavistas, o secretário executivo Luiz Antonio Tozi é demitido. Ligado a ele, Rubens Barreto da Silva é indicado, mas tem o nome vetado por olavistas.
14 de março
- Iolene Lima é anunciada para a Secretaria Executiva, mas enfrenta resistências de olavistas e evangélicos.
19 de março
- Representantes da área da educação criticam o anúncio da nova política de alfabetização, que prioriza o sistema fônico em detrimento ao construtivista.
22 de março
- Vélez demite Iolene Lima, deixando o cargo vago por uma semana.
25 de março
- Portaria que suspendia avaliação de alfabetização, prevista para este ano, é publicada pelo Inep. Após repercussão negativa, Vélez demite o presidente do Inep, Marcus Vinicius Rodrigues, ligado aos núcleos técnico e militar, mas mantém o secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, responsável pelo pedido de suspensão, próximo a Olavo.
- Por não ter sido consultada sobre a suspensão da avaliação de alfabetização, a secretária de Educação Básica do MEC, Tania Leme de Almeida, ligada ao núcleo técnico da pasta, pede demissão.
26 de março
29 de março
- O tenente-brigadeiro Ricardo Machado Vieira é nomeado por Bolsonaro para a secretaria executiva do MEC.
3 de abril
- Em meio à polêmica sobre a celebração do aniversário do golpe militar de 1964, Vélez afirmou, em entrevista ao jornal Valor Econômico, que o Ministério da Educação promoveria mudanças no conteúdo dos livros didáticos do país em relação ao tema. Para o ministro, não houve golpe, e o regime militar não foi uma ditadura. A afirmação irritou a cúpula das Forças Armadas, que viu um desgaste desnecessário em trazer o assunto à tona na semana seguinte ao 31 de março e considerou a declaração uma tentativa de Vélez para manter-se no cargo.
4 de abril
- Considerado braço direito de Vélez, Bruno Garschagen, assessor especial do ministro, foi demitido do cargo. No mesmo dia, foi demitida a chefe de gabinete do MEC, Josie de Jesus.
5 de abril
- Em encontro com jornalistas no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que deve definir na próxima segunda-feira (8) a situação de Vélez, indicando que pode demitir o colombiano. "Nós vamos resolver até segunda-feira a situação da Educação. Segunda-feira é o dia do 'fico' ou do 'não fico'", disse.
- Em evento do fórum empresarial Lide, em Campos do Jordão (SP), Vélez evitou perguntas sobre uma eventual saída do MEC. "Pretendo participar do fórum e não vou entregar o cargo", afirmou.
8 de abril
- Pelo Twitter, o presidente Bolsonaro comunica que Vélez foi demitido e que Abraham Weintraub assume o Ministério da Educação.
* Colaborou Guilherme Justino