O presidente Jair Bolsonaro nomeou um militar para assumir o cargo de secretário-executivo do Ministério da Educação (MEC), considerado o cargo de número 2 da pasta. O decreto de nomeação de Ricardo Machado Vieira foi publicado na edição desta sexta-feira (29), no Diário Oficial da União.
Vieira foi secretário de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto do Ministério da Defesa e chefe do Estado Maior da Aeronáutica. Até a nomeação para o novo cargo, trabalhava como assessor especial do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão do MEC responsável por programas de alimentação e transporte escolar.
Após a demissão de Luiz Antonio Tozi do cargo de secretário-executivo pelo governo, em 12 de março, o ministro Ricardo Vélez Rodríguez havia anunciado outras duas pessoas para assumir o posto, mas foi desautorizado pela Presidência.
Disputa entre grupos no MEC
A nomeação para a secretaria-executiva ocorre em um momento de disputa entre grupos de militares, técnicos e ideológicos, como seguidores de Olavo de Carvalho, considerado o guru da nova direita no país. Nos ataques, alguns olavistas têm criticado diretamente os militares por uma suposta perseguição a eles. Por outro lado, a ala militar em torno da cúpula do governo busca retomar espaços no MEC. A confirmação do nome de Vieira, assim, representaria um aceno às demandas do grupo, que tenta levar adiante os planos traçados antes da nomeação de Vélez como ministro.
O nome do militar foi o quarto anunciado pelo governo de Jair Bolsonaro nos três primeiros meses da nova gestão para a segunda maior posição no MEC, pasta imersa em uma crise institucional.
Indicado por Olavo, o ministro da Educação sofre um período de desgaste desde o primeiro mês de governo. Em janeiro, o ministro recuou sobre mudanças em edital de compra de livros que suprimia o compromisso com a agenda da não violência contra mulheres e permitia obras sem referências e com erros.
Em fevereiro, o MEC enviou carta a escolas com slogan da campanha de Bolsonaro e pedido de filmagem de alunos cantando o hino. O episódio causou grande desgaste e provocou novo recuo. Um novo capítulo da crise começou no dia 8 deste mês, com uma dança de cadeiras e críticas de Olavo no Twitter ao ministro e integrantes do MEC.
Primeiro a ocupar o posto de secretário-executivo na nova gestão, Luiz Antonio Tozi permaneceu no cargo até 12 de março, e acabou demitido por Jair Bolsonaro quando tentou enfrentar os olavistas. Na ocasião, o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, disse que Tozzi deixou a pasta em um "processo de reestruturação".
Depois de Tozi, Vélez chegou a anunciar em uma rede social o nome de Rubens Barreto da Silva, o que não se concretizou. Iolene Lima foi a terceira opção do ministro para o cargo, mas acabou demitida oito dias depois de ser anunciada também por uma rede social.
O processo de desgaste de Ricardo Vélez Rodríguez à frente do MEC ganhou força nesta quarta (27) após o presidente Jair Bolsonaro admitir que as coisas "não estão dando certo" no MEC. "Temos que resolver a questão da educação. Realmente não estão dando certo as coisas lá, é um ministério muito importante", afirmou o presidente em entrevista à TV Bandeirantes.
Nesta quinta-feira (29), Bolsonaro admitiu que Vélez "tem problemas" por ser "novo no assunto" e que não teria "o tato político" necessário para o posto. A saída do ministro seria uma questão de tempo. O nome mais forte até agora é do senador Izalci Lucas (PSDB-DF), que tem apoio do bloco cristão desde o ano passado.
Apesar da movimentação, há certa cautela nas apostas dada a imprevisibilidade do presidente Bolsonaro e a influência sobre ele de Olavo e seus discípulos. Uma reunião entre Vélez e Bolsonaro está prevista para esta sexta.