Para Vanessa Figueira, mãe de uma aluna de 13 anos na Escola Técnica Estadual Mal. Mascarenhas de Moraes em Cachoeirinha, além dos meses de aprendizado já perdidos com a greve, causa preocupação também o modo como as aulas devem ser recuperadas. Segundo ela, nos anos anteriores em que também houve paralisação, a recuperação foi feita "de qualquer jeito".
— Ano passado, deram aula no sábado. Só que no sábado não recuperam matéria nenhuma, tem criança que não pode ir, então os professores só passam uma atividade qualquer e contam como aula — afirma Vanessa.
Giovana, sua filha, está no 8º ano do Ensino Fundamental e, segundo a mãe, ficou com prejuízo acumulado no aprendizado devido à greve do ano passado — problema que se estendeu para este ano e, ela lamenta, deve ter efeitos também na chegada ao 9º ano. Para Vanessa, esse é um grande dano à educação dos alunos de escolas públicas.
— Nossos filhos acabam não aprendendo tudo o que precisam na escola.
Ela e outras mães reclamaram da situação nas redes sociais. Por conta disso, Vanessa garante, foram muito criticadas pelos professores, que defenderam seu direito à greve e explicaram como o atraso no recebimento integral dos salários tem afetado suas vidas.
— Nós não estamos contra os professores. Não queremos entrar na discussão política. Nossa briga não é essa. Só queremos que as escolas voltem a funcionar. Nós pagamos impostos em dia para o governo, temos o direito de que as crianças tenham aulas em dia nas escolas estaduais — afirma Vanessa.
Pais cobram do governo o fim da greve
Irritada com a falta de acerto entre poder público e professores estaduais, a auxiliar administrativa Natasha Gleck não descansa: está sempre atenta ao que é publicado pela equipe do governador José Ivo Sartori nas redes sociais, e aproveita cada nova mensagem para cobrar uma solução.
— Estou desesperada, apavorada com o que está acontecendo. Como é que nossas crianças podem ficar tanto tempo sem aula? Os professores estão no direito deles, mas isso precisa acabar.
Mãe de dois alunos de uma escola estadual em Canoas, ela torce para que as partes cheguem a um acerto logo. Natasha acredita que neste ano, como a greve está se estendendo até novembro — enquanto, em outros anos, começava e terminava antes —, o prejuízo será ainda maior. No colégio, foi informada de que as aulas de 2017 podem só terminar em março ou abril de 2018, depois do período de férias de 45 dias dos professores, assim podendo atrasar, desde já, também o ano letivo de 2019.
— Já fui na secretaria de educação, já fiz até boletim de ocorrência. Não sei mais o que fazer. É assim que os responsáveis pela educação acham justo tratar nossas crianças? — questiona Natasha.
O QUE DIZ A SEDUC
Atraso no ano letivo
"Como os períodos de greve não são os mesmos, cada escola tem o compromisso de integralizar os seus dias letivos, nos anos que tiveram greve e nas turmas individualmente", explicou, por e-mail, a diretora pedagógica da Secretaria Estadual da Educação, Sônia da Rosa. Isso significa que ficará a cargo de cada instituição definir como vai recuperar as aulas de forma a cumprir o mínimo de 200 dias letivos exigido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB).
Reflexos em 2018 e 2019
"O calendário escolar para as escolas que estão totalmente paradas refletirá no início do ano letivo de 2018", afirmou a diretora pedagógica da Seduc. Ela estima, porém, que a reorganização escolar dos dias letivos de 2018 — incluindo aulas nos sábados — pode normalizar o ano letivo, evitando reflexos em 2019. Ainda assim, eles podem acontecer: "há um entendimento de que teremos diferentes calendários escolares em 2018, tendo em vista o número de dias de greve de cada unidade escolar", garantiu Sônia.
Alunos concluindo o Ensino Médio
A secretaria não deu uma resposta clara sobre o que poderão fazer alunos que precisam do certificado de conclusão do Ensino Médio e ainda não têm sequer previsão para o encerramento do ano letivo. Além do prejuízo aos alunos do 3º ano do Ensino Médio que buscam o ingresso em uma instituição de Ensino Superior, também os alunos matriculados no 9º ano do Ensino Fundamental podem ter problemas para ingressar nas escolas técnicas de qualquer esfera.
Como alternativa, Sônia explica que "uma das orientações às famílias foi a possibilidade de transferência dos alunos que estavam matriculados nas escolas em greve para escolas que estavam em funcionamento". Em alguns casos, também seria recomendado procurar o Núcleo Estadual de Educação de Jovens e Adultos (NEEJA), que fornece um certificado, mas só para estudantes que tenham pelo menos 18 anos.