A candidata Manuela D’Ávila (PCdoB) foi a terceira entrevistada dos Diálogos Educação Já Municípios em Porto Alegre, um evento realizado por GZH em parceria com o Todos Pela Educação. Questionada pela colunista Rosane de Oliveira e pelo repórter Guilherme Justino, Manuela falou sobre o planejamento de ações para a volta às aulas presenciais, apresentou propostas para a primeira infância, abordou a necessidade de expansão de vagas em creches e comentou planos para melhorar a alfabetização e os indicadores de aprendizagem dos alunos da rede municipal da Capital.
Até 6 de novembro, serão promovidas, ao todo, quatro sabatinas, todas com foco em educação, com os candidatos mais bem colocados nas pesquisas eleitorais. A partir da pesquisa de intenção de votos Ibope/RBS TV de 5 de outubro, foram convidados, além de Manuela, Nelson Marchezan (PSDB), José Fortunati (PTB) e Sebastião Melo (MDB). Melo foi o primeiro entrevistado, na última sexta-feira (30), e Marchezan, o segundo, na terça (3).
Confira a agenda da próxima sabatina:
- José Fortunati (PTB) – 6/11, às 11h
A seguir, veja um resumo do que foi falado pela candidata Manuela D’Ávila.
Retorno às aulas presenciais
Quando falamos das crianças da rede municipal, estamos falando de crianças que ficaram sem escola, muitas delas vulnerabilizadas, sem assistência, alimentação. Crianças que correm o risco de perda de vínculo com a escola.
A primeira questão, para mim, é a retomada da gestão democrática das escolas. Para mim, existe um marco do que o governo Marchezan fez durante a pandemia que é uma entrevista do secretário de Educação, o único secretário que não foi substituído, em que ele diz: "Nós não vamos conversar com professores nem com pais e mães sobre o retorno". Ora, como não conversar? Então, eu defendo que nós recompactuemos a gestão democrática com o fórum de diretoras, com o fórum de supervisoras, e avaliemos a condição das nossas escolas.
E nós temos que estar preparados para a retomada física, com condições sanitárias, e temos que discutir com as escolas caso a caso. Como esses profissionais se sentirão seguros para estabelecer uma rotina naquele ambiente? Nós precisamos imaginar o ensino híbrido. Provavelmente teremos um ano (de 2021) com a persistência da pandemia e com escolas eventualmente fechadas. O que apontamos como solução para o tema da internet é o sinal de rádio. Isso tem um custo, são R$ 18 milhões, mas nós achamos que é prioritário para garantir internet nessas comunidades.
Permanência nas escolas
Se as crianças ficaram vulnerabilizadas, se nós temos um número grande de mães e pais desempregados e recebendo renda emergencial... nós estamos vendo que as crianças que estão nas sinaleira são da nossa rede municipal. Que vivem nas regiões mais pobres. Temos um programa, que chamamos de Renda Básica de Proteção da Infância, que custa R$ 3 milhões por mês, se atingir o conjunto das crianças que nós imaginamos que precisam ser atendidas, para a garantia de vínculo dessa criança com a escola.
Trabalhamos com a ideia de R$ 100 por criança. O número de crianças em situação de trabalho infantil, reciclando, catando resíduos sólidos nas ruas... elas trabalham para alcançar os R$ 100. (Esse valor) vinculado com a permanência na escola, pactuado com a reconstrução daquela rede de assistência que passa pela escola, pelo Conselho Tutelar, pela assistência social, esse dinheiro pode ser o dinheiro que garanta que essa criança não perca o vínculo com a escola.
Recuperação de conteúdos
Tudo foi interrompido durante a pandemia. Nós vamos precisar imaginar soluções que passem por garantir que a turma conveniada na assistência e que faz o turno inverso também tenha o tempo pactuado com a atividade educacional. Veja bem, isso é algo eminentemente da educação, mas que, na minha interpretação, passará também por um diálogo entre o que hoje é relacionado à educação e à assistência.
Nós trabalhamos com a ideia de que, para recuperar o conteúdo, serão necessárias mais horas-aula. Agora, é óbvio que elas terão de ser presenciais. E se forem híbridas, é importante que a gente use a serenidade para nos guiar. Será difícil, será complexo, e terá de ser em um ambiente de mutirão. Sem diálogo, imagina...
Qualificação do ensino
A gente tem, por exemplo, duas escolas, a Uruguai (Escola Estadual de Ensino Fundamental Uruguai, localizada no bairro Moinhos de Vento) e a Ana Íris (Escola Municipal de Ensino Fundamental Ana Íris do Amaral, no bairro Protásio Alves), que têm as maiores notas e que, para mim, evidenciam duas realidades: a do entorno, no caso da Uruguai, expondo que a vulnerabilidade importa, e a Ana Íris, no meio de uma das comunidades com mais desigualdade da cidade, que teve escola de tempo integral e alcançou um resultado muito positivo, se comparada com a rede.
A gente tem que combater a evasão, a reprovação e o trabalho infantil. Temos que garantir a valorização dos profissionais e a gestão democrática. Isso, para mim, tem relação com a formação contínua dos professores
MANUELA D’ÁVILA
Candidata à prefeitura de Porto Alegre pelo PCdoB
Não existe mágica, (mas) nós temos algumas propostas. A ampliação da Educação Infantil, da pré-alfabetização, o estabelecimento da Educação Infantil como parte do processo que culmina no resultado do Ideb. A gente tem que combater a evasão, a reprovação e o trabalho infantil. Temos que garantir a valorização dos profissionais e a gestão democrática. Isso, para mim, tem relação com a formação contínua dos professores. A prefeitura precisa ter esse compromisso, esse pacto com suas educadoras.
Para nós, é preciso visão sistêmica e foco pedagógico. Monitoramento de aprendizagem escola a escola. Qual é a meta desta escola? Quando a gente estabelece essa relação de gestão, que envolve diretoras, supervisores, professores, pais e mães, nós podemos ter metas objetivas e publicizadas em cada escola, em um ambiente que a comunidade perceba que aquilo é relacionado ao que ela vai aprender. Nós não podemos tratar o Ideb como um mecanismo de punição das escolas.
Primeira infância
Para mim, as duas principais políticas são a relacionada à garantia de que essas crianças estejam na escola de Educação Infantil e o esforço para que não estejam trabalhando. Eu acho que se nós garantirmos que essas crianças estejam na escola, já vamos fazer um trabalho extraordinário. A escola e o enfrentamento radical do trabalho infantil são os dois compromissos que eu mais quero assumir diante de Porto Alegre.
Eu quero ser a prefeita que, quando acabar os quatro anos de governo, possa dizer: nenhuma criança de quatro a cinco anos está fora da escola de Educação Infantil.
Orçamento e vagas em creches
Nós temos que fazer com que os R$ 60 milhões que devem entrar no orçamento até 2023 do Fundeb sejam os recursos utilizados para a garantia da abertura dessas novas vagas na Educação Infantil e nas creches. E acho que isso é possível: a partir da rede própria, a partir da rede conveniada, a partir de um diálogo que temos que ter com o governo do Estado e as salas vazias das escolas estaduais. Com isso, nós devemos chegar ao zero déficit de vagas na Educação Infantil.
Nosso secretário ou secretária vai ser alguém com visão técnica, que tenha a convicção de que Porto Alegre pode alcançar melhores resultados, com o compromisso em honrar a minha palavra e zerar o déficit de vagas na Educação Infantil
MANUELA D’ÁVILA
Candidata à prefeitura de Porto Alegre pelo PCdoB
Só no ano que vem são R$ 21 milhões a mais. A prefeitura vai ter que acreditar que é possível fazer seu orçamento crescer. Nós temos dinheiro para fazer o que estamos desenhando. Nós não podemos perder a oportunidade que isso representa para permitir que essas crianças estejam nas escolas e que nós busquemos ampliar a carga horária da rede escolar.
Comando da Secretaria da Educação
Não tenho um nome ainda. Nosso secretário ou secretária vai ser alguém com visão técnica, que tenha a convicção de que Porto Alegre pode alcançar melhores resultados, com o compromisso em honrar a minha palavra e zerar o déficit de vagas na Educação Infantil. Alguém que tenha relação com a nossa rede, que compreenda o que significa gestão democrática, que respeite a comunidade escolar, que dialogue com o fórum de diretores, que tenha compromisso com a formação continuada e que tenha disposição de dialogar com Porto Alegre para que a gente faça um pacto de melhoria da qualidade da nossa educação, valorizando os trabalhadores.