
Em meio a missão à China do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Itamaraty divulgou uma nota oficial do governo brasileiro lamentando a morte do ex-líder uruguaio José "Pepe" Mujica.
O ex-presidente uruguaio morreu aos 89 anos, nesta terça-feira (13). Ele estava na fase "terminal" de um câncer de esôfago e recebia cuidados paliativos para aliviar a dor.
O documento divulgado enaltece o caráter "humanista" e "integrador" de Mujica.
"Grande amigo do Brasil, o ex-Presidente Mujica foi um entusiasta do Mercosul, da UNASUL e da Celac, um dos principais artífices da integração da América do Sul e da América Latina e, sobretudo, um dos mais importantes humanistas de nossa época. Seu compromisso com a construção de uma ordem internacional mais justa, democrática e solidária constitui exemplo para todos e todas."
A morte de Mujica foi anunciada pelo atual presidente do Uruguai, Yamandú Orsi:
"Vamos sentir muito a sua falta, Velho querido. Obrigado por tudo o que você nos deu e por seu profundo amor por seu povo", disse Orsi.
Em visita ao Uruguai em 2024, Lula retribuiu carinho: "Pepe Mujica é a pessoa mais extraordinária que conheci"
Quando Lula visitou o Uruguai, em dezembro de 2024, Mujica enalteceu o presidente brasileiro.
— De todos os presidentes que eu conheci, que eu tive amizade e que convivi muitos anos, o Pepe Mujica é a pessoa mais extraordinária que conheci — disse o presidente Lula.
Após um abraço, o uruguaio respondeu:
— Você é o melhor que encontrei nesta sofrida América — respondeu Mujica.
Repercussão entre líderes
Desde o anúncio do presidente Orsi, às 16h14min, as reações de solidariedade e em memória do ex-dirigente se multiplicaram.
O ex-presidente uruguaio Luis Lacalle Pou, que foi seu opositor político, ofereceu seu "respeito e saudação para seu partido político, seu povo e sua companheira de vida, Lucía Topolansky. Isso me faz destacar o que é bom e as coincidências", disse ele em sua mensagem no X.
O também ex-guerrilheiro Gustavo Petro, primeiro presidente de esquerda da Colômbia, o classificou de "grande revolucionário". "Adeus amigo", disse.
Mujica foi um "exemplo para a América Latina e o mundo inteiro" por sua sabedoria e simplicidade, afirmou a presidente do México, Claudia Sheinbaum.
Esperança insaciável
O presidente chileno, Gabriel Boric, escreveu: "Caro Pepe, imagino que você esteja saindo preocupado com o sabor amargo que temos no mundo hoje. Mas, se você nos deixou algo, foi a esperança insaciável de que é possível fazer melhor. Você vai embora fisicamente, mas ficará para sempre. Prometo-lhe que a oliveira que plantamos em fevereiro em sua chácara florescerá", afirmou o dirigente chileno, que foi um dos últimos dignitários estrangeiros a visitar Mujica em Montevidéu.
"Sua vida foi um testemunho de rebeldia e amor por seu povo. Seu legado vai permanecer em nossos corações, na história do Uruguai e da Pátria Grande", afirmou o presidente boliviano, Luis Arce.
"Toda a América Latina está de luto", disse, por sua vez, o ex-presidente boliviano Evo Morales. "Estamos profundamente tristes com o falecimento de meu irmão Pepe Mujica. Sempre me lembro de seus conselhos cheios de experiência e sabedoria. Ele era um fervoroso defensor da integração e da Pátria Grande", sustentou, em alusão ao velho sonho de integração regional latino-americana.
Mujica acreditava em "um mundo melhor", afirmou o presidente de governo da Espanha, Pedro Sánchez. "A política ganha sentido quando se vive assim, a partir do coração", acrescentou sobre a vida de Mujica, que, no início deste ano, anunciou que estava abandonando os tratamentos contra o câncer de esôfago que foi diagnosticado em 2024.
A ex-presidente argentina Cristina Kirchner, com quem Mujica teve duros desencontros, disse que a "América Latina se despede de um grande homem que dedicou sua vida à militância e à sua Pátria".
O líder da esquerda radical francesa, Jean-Luc Mélenchon, agradeceu a Mujica "por toda a coragem" e pelo "exemplo". "Obrigado por sua lição de vida", disse sobre a memória do ex-presidente que ficou famoso no mundo por um estilo de vida sóbrio, mas também pela aprovação em seu mandato (2010-2015) da lei que regulamentou o mercado da maconha no Uruguai e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Mujica viveu até o final de seus dias em sua humilde casa no campo, na periferia a oeste de Montevidéu, junto com sua esposa, a ex-vice-presidente Lucía Topolansky.