O atual prefeito e candidato à reeleição Nelson Marchezan (PSDB) foi o segundo entrevistado dos Diálogos Educação Já Municípios em Porto Alegre, um evento realizado por GZH em parceria com o Todos Pela Educação. Questionado pela colunista Rosane de Oliveira e pelo repórter Guilherme Justino, Marchezan falou sobre o planejamento de ações para a volta às aulas presenciais, apresentou propostas para a primeira infância, abordou a necessidade de expansão de vagas em creches e comentou planos para melhorar a alfabetização e os indicadores de aprendizagem dos alunos da rede municipal da Capital.
Até 6 de novembro, serão promovidas outras duas sabatinas, todas com foco em educação, com os candidatos mais bem colocados nas pesquisas eleitorais. A partir da pesquisa de intenção de votos Ibope/RBS TV de 5 de outubro, foram convidados, além de Marchezan, Manuela D’Ávila (PCdoB), José Fortunati (PTB) e Sebastião Melo (MDB). Melo foi o primeiro entrevistado, na última sexta-feira (30). Confira a agenda das próximas sabatinas:
- Manuela D’Ávila (PCdoB) – 5/11, às 15h
- José Fortunati (PTB) – 6/11, às 11h
A seguir, veja um resumo do que foi falado pelo candidato Nelson Marchezan.
Volta às aulas e ensino remoto
Nós precisamos que as aulas retornem porque as escolas estão, no mundo inteiro, com uma estrutura que tem, além da questão de educação, um papel social de proteção, principalmente para as (crianças) mais vulneráveis e as mais novas. A totalidade das nossas escolas públicas não-estatais retornou às atividades. A maioria das nossas escolas estatais aqui no município (não): no município e no Estado estão ocorrendo as dificuldades de retorno das aulas. Por uma questão muito mais ideológica, partidária e eleitoral do que do interesse das crianças.
É necessário para a sociedade como um todo que as aulas retornem imediatamente. Portanto, estamos tomando as medidas necessárias de repercussões em relação a esses servidores que estão impedindo que as crianças tenham acesso a alimentação, a esse cuidado social e, evidentemente, tentar recuperar esse lapso de aprendizagem em um momento em que essa aprendizagem é adequada àquela idade: passou essa idade, já estaremos não no momento mais oportuno para aquela criança aprender, absorver aquele conteúdo.
Mesmo que seja complementar, o formato remoto vai ser uma realidade daqui em diante. Para fazer essa adaptação de forma melhor, além do acesso gratuito, além de uma plataforma com conteúdos nas mais diversas áreas com controle dos pais e monitoramento de gestão do período de acesso de cada aluno e de cada professor, a gente também entregou, na semana passada, 2,5 mil Chromebooks para todas as escolas. Para que a gente possa atender em torno de 46 mil alunos com essa aprendizagem e essa aproximação com esse mundo digital novo, especialmente para aqueles que não têm essa potencialidade em casa.
Agora, não dá pra abrir mão do ensino presencial. Nós precisamos retornar e ele será ainda, por longo tempo, no ensino público, sem dúvida uma ferramenta necessária, essencial para que a gente tenha uma qualidade do ensino.
Relação com professores
Nossa relação com os sindicatos, com aqueles que são vinculados com sindicatos partidarizados, foi tumultuada porque eles sempre se colocaram como prioridade, e a nossa prioridade sempre foram os habitantes da cidade de Porto Alegre e, na educação, o aluno. E a gente prioriza os professores. Vamos começar com os diretores: nós ampliamos em 137% o valor repassado aos conselhos escolares e aos diretores das escolas para eles gerirem esses recursos. Foi o maior aumento da história de todas as gestões.
Temos que retirar o discurso ideológico, partidário, que não seja do interesse do aluno. Mudanças geram divergências, geram desconforto. Continuaremos fazendo as mudanças em prol dos alunos
NELSON MARCHEZAN
Candidato à reeleição à prefeitura de Porto Alegre pelo PSDB
Nós também demos mais autonomia aos diretores, mais poder de eles escolherem a sua equipe, mais prazo no seu mandato, desde que as crianças, na sua escola, aprendam. E a cada ano, se elas não aprenderem, os pais vão lá reavaliar para ver se aquele diretor vai permanecer na escola.
E (quanto) aos professores, nós ampliamos a carga horária deles com os alunos em 30%. Antes, por exemplo, se tinha três aulas por semana de matemática, agora se tem quatro. Então nós ampliamos porque sabemos dessa importância. Agora, é inegável que precisamos de mudança. Os resultados de Porto Alegre demonstram que nós precisamos não só de discursos: principalmente, temos que retirar o discurso ideológico, partidário, que não seja do interesse do aluno. Mudanças geram divergências, geram desconforto. Continuaremos fazendo as mudanças em prol dos alunos.
Prioridades no orçamento
Estamos priorizando, primeiro, dar o atendimento total à demanda manifesta principalmente no ensino infantil, nas creches. Nós temos um lapso aí de demanda manifesta de 6 mil vagas. Então abrimos agora em agosto, além das 3,5 mil vagas que abrimos durante o governo, mais 2,5 mil vagas para tentar avançar nessa demanda que é o nosso déficit na cidade de Porto Alegre. Essa é nossa ideia de prioridade número um.
Estamos priorizando, primeiro, dar o atendimento total à demanda manifesta principalmente no ensino infantil, nas creches. Nós temos um lapso aí de demanda manifesta de 6 mil vagas. Essa é nossa ideia de prioridade número um
NELSON MARCHEZAN
Candidato à reeleição à prefeitura de Porto Alegre pelo PSDB
A segunda prioridade é continuar com a qualificação do ensino infantil na pré-escola, porque isso facilita a aprendizagem nos primeiros anos do Ensino Fundamental e a alfabetização, que é um dos grandes problemas da evasão: a criança se desestimula quando ela não aprende a ler no 1° ou no 2° ano do Ensino Fundamental.
E terceiro é o contraturno: é a gente qualificar o contraturno para que ele seja um instrumento de aprendizagem também, e não apenas – o que também é válido – um instrumento de proteção ao aluno para ele ter onde ficar em um período de horário comercial, quando os pais estão trabalhando, ou fora das ruas, em alguma situação de perigo. Então, qualificar o contraturno com entidades privadas, comunitárias, mas privadas, para auxiliar na aprendizagem.
Maus resultados no Ideb
Nós tivemos, primeiro, uma baixa adesão das escolas no Ideb. Em 2017, tivemos uma adesão tão insignificante que o próprio ministério não qualificou como válido para dar uma nota aos nossos alunos. De novo, o interesse corporativo, sindical, eleitoral acima do interesse público. De 49 (escolas municipais em Porto Alegre), 30 não fizeram, então apenas 19 escolas fizeram a avaliação do Ideb.
Mas a gente acredita ainda que tem outro fator, que é o desestímulo dos alunos. As nossas crianças evadem mais nas nossas escolas: por questões ideológicas, a gente não consegue avançar na alfabetização no 1° ano.
Por isso, a gente tem que continuar investindo nessa questão do contraturno qualificado, do avanço do ensino da educação infantil, que é fundamental para essa alfabetização. A gente ampliou em 81% a remuneração para essas escolas, o maior aumento de governos somados: passamos de R$ 333 por aluno para R$ 603 por aluno. Em alguns casos, em escolas menores, para compensar, (passamos) para R$ 724 por aluno, porque a gente entende que é lá a qualificação para que a gente tenha um resultado melhor lá no final, no Ideb.
Comando da Secretaria da Educação
Tem duas questões para ele (o secretário atual, Adriano Naves de Brito) se manter: primeiro, continuar com foco no aluno. Nossa prioridade é o aluno. Segundo, ter a coragem que ele teve até aqui de fazer o que precisa ser feito a bem do aluno, e não ter medo de retaliações políticas, partidárias, eleitorais, sindicais. Nós precisamos avançar a educação no Brasil inteiro a bem do aluno, e não a bem de sindicatos, corporações, partidos políticos, interesses eleitorais.