O candidato José Fortunati (PTB) foi o quarto e último entrevistado dos Diálogos Educação Já Municípios em Porto Alegre, um evento realizado por GZH em parceria com o Todos Pela Educação. Questionado pela colunista Rosane de Oliveira e pelo repórter Guilherme Justino, Fortunati falou nesta sexta-feira (6) sobre o planejamento de ações para a volta às aulas presenciais, apresentou propostas para a primeira infância, abordou a necessidade de expansão de vagas em creches e comentou planos para melhorar a alfabetização e os indicadores de aprendizagem dos alunos da rede municipal da Capital.
Ao longo de uma semana, entre 30 de outubro e 6 de novembro, foram promovidas quatro sabatinas, todas com foco em educação, com os candidatos mais bem colocados nas pesquisas eleitorais para a prefeitura de Porto Alegre. A partir da pesquisa de intenção de votos Ibope/RBS TV de 5 de outubro, foram convidados, além de Fortunati, Nelson Marchezan (PSDB), Manuela D’Ávila (PCdoB) e Sebastião Melo (MDB). Melo foi o primeiro entrevistado, na última sexta-feira (30); Marchezan, o segundo, na terça (3), e Manuela, a terceira, na quinta (5).
A seguir, veja um resumo do que foi falado pelo candidato José Fortunati.
Retorno às aulas presenciais
Nós temos que estabelecer um plano de retomada. Tenho discutido muito isso com especialistas, com profissionais da educação, diretores de escolas, professores: se for eleito, a primeira coisa que farei é montar um gabinete de enfrentamento à pandemia na educação. Composto por pais, professores, servidores, alunos, Ministério Público, Conselho Tutelar e representação da Câmara de Vereadores. Isso é fundamental para que a gente estabeleça um diálogo amplo, criterioso sobre a retomada das aulas.
Segundo, a implantação de um sistema de comunicação bastante efetivo com as comunidades escolares. O poder público tem que abrir o diálogo franco, cotidiano, permanente com a comunidade escolar para que essa comunicação não seja unilateral.
Teremos que pensar uma revisão do currículo, porque é impossível pensarmos o ano letivo de 2021 como se ele fosse um ano normal: 2020 é praticamente um ano perdido
JOSÉ FORTUNATI
Candidato à prefeitura de Porto Alegre pelo PTB
Terceiro, prepararmos as nossas escolas para o acolhimento. O luto, o medo, a insegurança não podem ser vistos como algo rotineiro. Esse acolhimento terá que ser preparado pela nossa Secretaria Municipal de Educação com as escolas, a comunidade escolar, para darmos tranquilidade aos nossos alunos e profissionais de educação.
Teremos que pensar uma revisão do currículo, porque é impossível pensarmos o ano letivo de 2021 como se fosse um ano normal: 2020 é praticamente um ano perdido. Teremos que pensar 2020, 2021 e até 2022 de uma forma bastante concatenada. E a revisão do calendário escolar nesses três anos.
E teremos que elaborar um diagnóstico de cada escola, porque temos escolas muito distintas, dependendo das comunidades onde a escola está situada.
Acesso à tecnologia para ensino remoto
Esse é um problema muito grande que enfrentamos durante a pandemia. Nós começamos a instalar, já no nosso governo, o wi-fi nas escolas, que o atual governo continuou, é importante que se diga isso. Mas não basta isso. Nós temos que fazer com que o sistema de internet nas escolas possa ser reforçado para a região do entorno, permitindo amplo acesso para a comunidade escolar de forma gratuita. Isso é possível, a tecnologia existe, basta buscarmos esses recursos que o Banco Mundial facilita esse financiamento.
Formação continuada e capacitação de professores
É fundamental que essa formação continuada aconteça, especialmente com nossos profissionais de educação, até para eles oferecerem para seus alunos uma dinâmica que seja sempre construtiva, se aperfeiçoando e avançando. Não tenho dúvida de que, especialmente nos anos finais, hoje, há um descompasso especialmente entre a formação dos professores e a necessidade concreta (dos alunos), porque não foram feitos concursos para estabelecer o preenchimento dessas vagas de forma adequada.
O que a gente tem que fazer é retomar concursos adequados para que os profissionais da educação sejam condizentes com as disciplinas que estão sendo ministradas. É necessário que a pessoa competente que se formou naquela disciplina e conhece aquela área esteja em sala de aula
JOSÉ FORTUNATI
Candidato à prefeitura de Porto Alegre pelo PTB
O que a gente tem que fazer é retomar concursos adequados para que os profissionais da educação sejam condizentes com as disciplinas que estão sendo ministradas. Não basta apanhar um profissional de educação que não é de área compatível e preencher uma determinada disciplina. É necessário que a pessoa competente que se formou naquela disciplina e conhece aquela área esteja em sala de aula.
Vagas em creches
Eu discuti muito, durante nosso governo, a questão das vagas em creches. Construímos vários escolas, procuramos, de forma muito ampla, descentralizar isso, principalmente nas comunidades carentes. Acho que avançamos bastante. Mas é difícil zerar isso de uma hora para outra.
Constatamos que, se levarmos em consideração a estrutura existente, temos, na prática, a cada ano, a abertura de 1,3 mil vagas no Berçário 1. Temos, hoje, seis escolas que foram iniciadas e não foram concluídas: estão paralisadas as obras há quase quatro anos. Concluindo essas seis escolas, nós teremos mais 850 vagas, e isso pode acontecer ainda em 2021. Depois, teremos que buscar mais prédios, gradativamente, para que a gente possa adaptá-los. Nós acreditamos, tecnicamente, porque fizemos isso no nosso governo, que a cada ano é possível criar em torno de 1,5 mil novas vagas.
Ou seja, não conseguiríamos, vamos deixar de maneira muito clara, concluir o governo preenchendo as 6 mil vagas. Mas, pelo nosso cálculo, com os pés no chão, chegaríamos ao final do nosso mandato com 5,8 mil vagas abertas. E obviamente, daqui a pouco, com parcerias público-privadas, doações, é possível chegar ao final de quatro anos com preenchimento total de vagas
Evasão escolar
Não tenho dúvida de que isso poderá acontecer no Ensino Fundamental. Nós temos que continuar trabalhando para tentar minimizar. Durante a nossa gestão, consolidamos o trabalho do FICAIs, a Ficha de Aluno Infrequentes. Foi uma parceria da Smed com o Ministério Público e os Conselhos Tutelares para fazermos um mapeamento dos alunos que deixam de frequentar a escola. Ao perceber que o aluno deixou de frequentar a escola, uma equipe busca a família, dialoga e busca convencer da importância de que o aluno retorne ao ano letivo
Na rede municipal, nós resgatamos 303 alunos que haviam se evadido da escola pública e que, graças a esse trabalho, acabaram retornando às escolas. Então teremos que fazer isso. Infelizmente, as equipes foram desmanteladas, nós teremos que recompor, porque esse trabalho é fundamental. Não é simplesmente a questão da obrigação. Tem que ter um convencimento.
Qualidade do ensino
Uma das propostas é diminuir a evasão, que acaba incidindo diretamente na avaliação do Ideb. Segundo, nós começamos, na nossa gestão, um trabalho muito forte para conseguirmos recuperar, gradativamente, nossa posição no Ideb. E conseguimos saltar, nos anos iniciais, para uma nota de 4.6 (em 2015), e em 2017, fruto do trabalho que desenvolvemos até 2016, saltamos para 4.9. Nos anos finais, saímos de 3.2 para 3.8 (em 2015) e 3.9 em 2017.
Nós temos professores capacitados, com uma remuneração adequada, temos escolas com estruturas muito boas. Então o que explica que a gente não consiga responder como outros Estados e outros municípios?
JOSÉ FORTUNATI
Candidato à prefeitura de Porto Alegre pelo PTB
Ainda é insuficiente, por isso volto na questão do programa para a melhoria da qualidade da educação que estamos firmando com o Banco Interamericano na busca de recursos para a formação continuada dos professores. Nós temos professores capacitados, com uma remuneração adequada, temos escolas com estruturas muito boas. Tudo isso está dado. Então o que explica que a gente não consiga responder como outros Estados e outros municípios?
Percebo que o que está faltando é o foco maior nos próprios profissionais da educação nessa relação com as nossas crianças e adolescentes, especialmente em maior vulnerabilidade.
E junto com isso, volto a dizer, o resgate da escola de tempo integral. As escolas que melhor pontuaram no Ideb estavam enquadradas em tempo integral. Onde se manteve a escola em tempo integral, o Ideb cresceu.
Comando da Secretaria da Educação
Não tenho um nome. Seria uma soberba muito grande da minha parte já ter um nome. Mas, naturalmente, há alguns critérios fundamentais. Primeiro, conhecer a área da educação. Segundo, conhecer a rede municipal, tanto pública quanto comunitária. Terceiro, alguém que dialogue, que seja afeito ao diálogo com profissionais da educação, com a comunidade escolar. Isso é fundamental. Hoje, não existe diálogo, e nós temos que dialogar. O secretário ou secretária da Educação terá que ter, obrigatoriamente, esse perfil.