As enchentes registradas desde o início de maio provocaram o alagamento de 300 das 720 concessionárias de veículos em atividade no Rio Grande do Sul, o que equivale a danos de cerca de 42% da rede de revendas autorizadas do Estado. Somente no 4º Distrito, em Porto Alegre, estão 43 dessas empresas submersas, assim como dezenas de outras lojas de carros usados.
Todas ainda têm dificuldade de acesso às estruturas tomadas pela água e precisam enfrentar um problema adicional ao da perda dos automóveis em estoque: estão há 16 dias de sem realizar novas vendas em razão da impossibilidade de emitir de notas fiscais e novos licenciamentos.
Projeções extraoficiais apontam para 2 mil carros novos danificados nos pátios das unidades de comercialização e mais de 100 mil usados e seminovos. O presidente do Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Estado (Sincodiv-RS/Fenabrave), Jefferson Furstenau, afirma que é difícil confirmar o dado. Ele informa que as entidades farão assembleia nesta quinta-feira para fechar números concretos. Porém, assegura que os prejuízos devem superar a marca de R$ 1 bilhão.
Com base nessa perspectiva, o segmento se prepara para elaborar pedidos de linhas de crédito emergencial, com prazos alongados e juros baixos. De acordo com Furstenau, em uma de suas revendas, onde só foi possível ingressar na noite de terça-feira (21), dos 28 carros em mostruário, 20 foram retirados em tempo. Dentre os oito remanescentes, dois serão repostos pela própria montadora e o restante estava protegido por apólices de seguro.
Prejuízo de R$ 400 mil e correria para retirar os veículos
O mesmo amparo das seguradoras não estava no radar de Jefferson Severino, proprietário da Gavos Motors. Na sexta-feira, dia 10, ele monitorava a situação na rua Souza Reis, no Bairro São João, quando foi avisado por um vizinho de que as águas estavam avançando em direção à empresa.
Às 22h30min, ele se deslocou de sua casa, no Jardim Lindoia, para dar início a retirada dos 48 seminovos que estavam na loja. Conseguiu remover 47 em tempo de largá-los estacionados às margens da Avenida Dom Pedro.
Não houve como retirar uma BMW-X5, que, a exemplo dos demais, estava sem seguro. No dia seguinte, já com a água à altura na cintura, ele retornou e precisou encontrar as fechaduras dos escritórios abaixo do lodo que tomava conta do local, para abrir as portas e resgatar documentos, computadores e as chaves eletrônicas reservas, uma delas, importada e cujo custo médio é de R$ 8 mil. Na quarta-feira (22), quando a água retrocedeu, ele realizou a primeira limpeza. Ao olhar desolado para os entulhos, projetava, pelo menos, 30 dias e um prejuízo de R$ 400 mil para retomar as atividades.
Sistema de operações do Detran-RS só deve ser retomado na próxima semana
Desde o dia 7 de maio, o Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação do Rio Grande do Sul (Procergs) está desligado para evitar possíveis danos aos equipamentos. O local processa transações tributárias e envolve, entre outras áreas, os serviços prestados pelo DetranRS, sem os quais é impossível realizar o licenciamento e superar as demais etapas necessárias à aquisição de um veículo.
De acordo com o presidente da Sincodiv-RS/Fenabrave, Jefferson Furstenau, o Estado comercializa, em média, 15 mil unidades zero-quilômetro por mês, incluindo todos os segmentos. Se contar só comerciais leves, são em média 280 unidades por dia, e motos, 126. Furstenau alerta que a impossibilidade de realizar vendas impacta não apenas os municípios diretamente atingidos pelas enchentes, mas também aqueles que não foram afetados, comprometendo a atividade econômica. Segundo projeções da Secretaria Estadual da Fazenda, a interrupção dos serviços deve durar, pelo menos, até a próxima semana.
Com uma das concessionárias alagadas, assim com o espaço que abriga os seminovos, o gerente comercial do Grupo Iesa, Ambrosio Pesce, e conselheiros do Sincodiv-RS reforçam que o mercado está ressentido diante do atual cenário. Por outro lado, ao procurar por aspectos positivos em meio ao desastre climático, Pesce lembra que a Confederação Nacional das Empresas de Seguros (CNseg) já declarou que a situação no Estado vai estabelecer a maior quantidade de sinistros e cartas de crédito para o ressarcimento de veículos inutilizados pelas águas. Nesse aspecto, o setor, que hoje enfrenta uma retração, deverá ser muito demandado.