As empresas de Lajeado, no Vale do Taquari, ainda contabilizam os prejuízos e projetam os próximos passos depois da enchente do começo de maio. Circular pela cidade é dar de cara com um cenário de destruição, que não poupou vidas, casas ou fábricas. Com uma economia pujante, o município passa por um novo teste de resistência. Ao menos 19 empreendimentos de um total de 67 já manifestaram desejo de mudar de endereço, conforme a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da cidade.
A Lajeadense Vidros, empresa familiar com 65 anos de existência, foi devastada pelas águas do Rio Taquari. A sede de 7 mil metros quadrados foi destruída e pouca coisa restou. Mais de 200 toneladas de vidro foram perdidas durante a cheia. Somando também a inundação ocorrida na sede em Porto Alegre, situada perto do Aeroporto Salgado Filho, o prejuízo já chega a R$ 50 milhões.
— Estamos em um pavilhão alugado em Estrela. E vamos fazer outra sede até o fim do ano no bairro Conventos em Lajeado — revela a sócia administradora Roberta Lopes Arenhart, 24 anos.
Nesta segunda-feira (27), a reportagem de GZH visitou a sede atingida pelas águas do Rio Taquari. Houve perdas em todos os sentidos: de documentação a equipamentos, além de matéria-prima. O lodo dificulta até o simples ato de caminhar por alguns espaços do local. O refeitório desapareceu por completo, como se nunca tivesse existido.
Neste momento, os 105 funcionários seguem em ação no pavilhão temporário em Estrela. Em novembro do ano passado, a empresa já havia transferido parte do maquinário para o local. O restante foi encaminhado antes desta cheia para o município vizinho.
— Depois da terceira enchente, a casca parece que fica mais grossa. A gente sabe dos nossos sonhos e não vamos desistir —assegura Roberta.
O principal foco da empresa é a produção de vidro para a construção civil. Os proprietários ainda não sabem o que será feito do terreno, que fica localizado próximo ao rio. O destino poderá ser uma marina para embarcações, mas nada de concreto foi definido. A única certeza é a decisão pela saída dali.
— Fizemos uma vaquinha para ajudar os nossos colaboradores. Conseguimos arrecadar muito mais do que o previsto. Estamos auxiliando os familiares de nossos funcionários também — compartilha Roberta.
Com 99 anos de história, a Vinagres Prinz possui sede no centro de Lajeado. O Rio Taquari passa na rua lateral da fábrica. A água chegou aos seis metros de altura dentro dos pavilhões que somam 8 mil metros quadrados de área construída. Os estragos estão por todos os lados. Uma parede foi derrubada pela fúria das águas.
— É um sentimento triste e angustiante. Ao mesmo tempo, temos que buscar forças onde achamos que não temos. Mas a força vem — reflete o presidente Walter Koller, 72.
Enquanto conduzia a equipe de reportagem pelas dependências da fábrica, o empresário garantiu que jamais vai desistir. Porém, antecipou que procura outro terreno para instalar a empresa. A marca d’água pode ser vista em pontos bem elevados das paredes.
— Temos certeza de que vamos sair daqui — resume, dizendo que já conversa com a prefeitura sobre o assunto.
É um sentimento triste e angustiante. Ao mesmo tempo, temos que buscar forças onde achamos que não temos. Mas a força vem.
WALTER KOLLER
Presidente da Vinagres Prinz
A Vinagres Prinz tem cerca de 80 colaboradores. Quando a enchente começou, os funcionários trataram de levar materiais e equipamentos para as partes mais altas. Havia mais de 20 mil caixas de vinagre no local. Um total de 4 mil delas, que estava pronto para ser exportado, foi levado pelas águas. A limpeza já ocorre no espaço, mas ainda falta energia elétrica.
O que foi salvo foi transferido para um pavilhão alugado. O maquinário do envasamento ficou debaixo d’água. Neste momento, está sendo limpo, ajustado e passará por testes de funcionamento.
Os tanques de armazenamento foram danificados e alguns foram derrubados ou sofreram rachaduras em função da violência da cheia. Os prejuízos ainda não podem ser calculados.
— Em 15 dias, estaremos produzindo novamente — garante o mandatário, salientando o compromisso com os colaboradores e com os clientes.
Prefeitura fala em 2,4 mil empresas atingidas pela enchente
A prefeitura de Lajeado, junto a entidades vinculadas ao setor empresarial, trata de projetar os impactos da enchente para a economia do município.
O secretário municipal do Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agricultura (Sedetag), André Bücker, estima que 2,4 mil empresas foram afetadas em um universo de quase 16 mil CNPJs e autônomos.
Além disso, a cheia do Taquari atingiu uma área territorial de 17% da cidade.
A economia em Lajeado é bem diversificada. Isso faz com que a cidade não seja dependente de um só setor.
ANDRÉ BÜCKER
Secretário municipal do Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agricultura
— A economia em Lajeado é bem diversificada. Isso faz com que a cidade não seja dependente de um só setor — menciona o titular da pasta.
Conforme o secretário, ainda é cedo para se estabelecer uma cifra com os prejuízos. Este momento ainda está vinculado aos estragos da enchente.
Para a presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Lajeado, Giselda Hahn, a catástrofe na região foi algo bastante grave, já que o Rio Taquari subiu praticamente 34 metros.
— Nós estamos procurando auxiliar. Demos isenção nas mensalidades por alguns meses para os associados — cita ela.
Pesquisa revela ânimo dos empresários
De acordo com pesquisa da CDL do município, 67 empresas associadas foram atingidas pela cheia. Dezenove delas já anteciparam que irão trocar de endereço, 31 se manterão onde se encontram, enquanto 17 ainda não responderam sobre essa decisão.
— Conversamos com as empresas e 56% delas tiveram os estoques atingidos. E 60% estimam que o prejuízo chegue a R$ 100 mil. Nas demais, as perdas vão de R$ 101 mil a R$ 1 milhão — enumera.
Outras medidas tomadas para o auxílio neste momento foi a prorrogação da data alusiva ao Dia das Mães até esta segunda-feira. Quem comprar concorre a 10 vales-brindes no valor de R$ 500, para serem utilizados nas compras em empresas da região.
A campanha de Natal será antecipada e os associados estão sendo auxiliados com orientações de como proceder durante o momento de incertezas.
Campanha para fortalecer economia local
Por sua vez, a Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil) diz que os prejuízos ainda estão sendo levantados. A entidade afirma que serão feitas pesquisas com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e outros órgãos.
— Estamos enfrentando dificuldades, porque tem muita gente que não quer responder. Muitos empresários estão decepcionados com o que ocorreu em setembro e agora novamente — explica o presidente da Acil, Joni Zagonel.
A Acil começou a campanha “Vale do Taquari: nosso futuro é aqui”. Tudo com o objetivo de fortalecer a economia da região. Ao mesmo tempo, criou grupos de trabalho visando debater e encaminhar ações específicas para a restauração plena das empresas atingidas.
— Estamos estimulando as iniciativas para que as pessoas não saiam, mas fiquem e invistam aqui — conclui o dirigente.