A Petrobras anunciou nesta terça-feira (16) uma nova estratégia de preços para gasolina e diesel, substituindo a antiga política de paridade internacional (PPI) adotada desde 2016. O mercado sinalizou positivamente a mudança na estatal, com as ações da estatal (PETR3; PETR4) registrando um aumento na casa dos 3% na tarde desta terça.
Conforme analistas consultados pelo Valor Econômico, embora considerem que o novo mecanismo seja inferior ao anterior, eles acreditam que o risco de uma intervenção mais profunda do governo federal nos negócios diários da companhia tenha sido afastada.
A petrolífera declarou que adotará o custo alternativo do cliente como um dos principais critérios de precificação. Isso significa que serão consideradas as principais alternativas de suprimento disponíveis, incluindo fornecedores dos mesmos produtos ou produtos substitutos. Além disso, o valor marginal para a companhia será levado em conta no cálculo, com base no custo de oportunidade em relação às diversas opções disponíveis, como produção, importação e exportação de produtos ou petróleo utilizado no processo de refino.
Alguns dos críticos do PPI avaliam que não faz sentido o Brasil, país com produção de petróleo em níveis consideráveis, levar mais em conta o preço do mercado externo do que os movimentos internos. Já os defensores da paridade entendem que esse modelo se impõe para evitar perdas ao não repassar os custos que enfrenta ao importar alguns produtos importantes para o setor.
Avaliação dos especialistas
A falta de critérios objetivos na definição dos preços da gasolina e do diesel chamou a atenção do Goldman Sachs, tornando difícil uma avaliação precisa dos impactos financeiros para a Petrobras. Eles observam que, pelo menos no anúncio feito pela empresa, há elementos de mercado envolvidos na composição dos índices. “As incertezas envolvendo a direção das políticas de preços, dividendos e investimentos permanecem elevadas, mas as notícias recentes dão conta que o pior cenário esperado por alguns dos investidores não deve mais acontecer”, pondera o banco.
Mercados mais dependentes de importação de refinados, como Norte, terão menos espaço para ajustes nos preços, enquanto no Sul e Sudeste, mais próximos às refinarias, a Petrobras poderá agir com maior afinco.
O UBS BB adota uma avaliação mais positiva em relação às mudanças, destacando que a nova estratégia oferece maior flexibilidade à Petrobras por meio do comitê gestor de preços, eliminando as restrições e contrapesos impostos pelo modelo anterior. Isso evita grandes variações nos preços e permite que a empresa preserve parte de suas margens de refino. “O risco é que, para algumas localidades, a Petrobras possa considerar as margens integradas como custo marginal de suprimento (considerando não apenas as margens de refino, mas também aquelas relacionadas à exploração e produção). Essa lacuna é significativamente maior enquanto estimamos ganhos domésticos integrados acima de US$ 60/barril em nossa curva de preços", avalia o banco suíço.
A XP acredita que a precificação da gasolina e do diesel deve ter poucas mudanças na prática. Os analistas André Vidal e Helena Kelm afirmam que, em última análise, a diretoria da estatal ainda precisa agir de forma a maximizar a geração de valor. “No final, achamos que o preço da refinaria da Petrobras pode cair alguns centavos em alguns pontos de entrega, mas não mudará de maneira significativa”, comenta a corretor.
Os analistas Gabriel Barra, Andrés Cardona e Joaquim Alves Atie, do Citi, ressaltam que a Petrobras precisa fornecer respostas sobre como lidará com possíveis cenários de escassez de combustíveis e estabelecer o custo marginal em sua nova estratégia de preços. “Se a Petrobras colocar o preço abaixo da paridade internacional, há duas soluções possíveis, a companhia vai bancar o custo de importar todo o combustível ou deixar o Brasil enfrentar desabastecimento”, pontuam.
Segundo Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, os termos apresentados pela estatal são vagos. "O mercado se anima hoje porque não teve um cavalo de pau: não houve represamento de preços, não teve subsídio a preços de importação, não houve nada rígido, mas existem termos vagos e trazem mais assimetrias que podem causar distorções nos preços".
A avaliação do Bradesco BBI é similar, destacando que a Petrobras substituiu o critério objetivo da paridade internacional por diretrizes mais subjetivas, o que dificulta o acompanhamento do mercado. No entanto, essa mudança já era esperada. "É provável que os aumentos sejam arbitrários e potencialmente justificados pela busca de paridade de exportação de longo prazo. Se as variáveis macro estiverem 'estressadas para cima’, a Petrobras não repassará a volatilidade para o mercado doméstico, deixando o caixa na mesa", escrevem os analistas Vicente Falanga e Gustavo Sadka.
Os analistas também observam que, para os investidores que esperavam uma redução abrupta nos preços por parte da atual gestão, a nova estratégia comercial parece sugerir o oposto. O anúncio de uma "precificação competitiva" visa garantir que a empresa mantenha um nível de sustentabilidade financeira.